Os reacionários da Europa conseguiram o seu estimado "sim" ao Tratado de Lisboa no referendo irlandês realizado no último dia 2 de outubro. Foi a segunda "consulta ao povo" realizada na Irlanda em pouco mais de um ano, tendo em vista que a burguesia imperialista européia não aceitou a recusa dos irlandeses ao documento expressada em junho de 2008.
População denunciou o tratado antipovo
A Ryanair, companhia aérea irlandesa de baixo custo que opera nos céus da Europa, investiu meio milhão de euros na campanha pela aprovação do tratado no referendo. A Ryanair é conhecida do povo europeu por sua sanha monopolista e pela especial afeição à prática de "dumping laboral", que consiste na aplicação em fronteiras alheias dos frouxos regimentos trabalhistas vigentes na Irlanda. Ao tomar parte nos esforços pelo "sim" ao Tratado de Lisboa, a Ryanair dá a sua valorosa contribuição para deixar ainda mais claro a quem interessa a aprovação do documento, evidenciando que seus beneficiários não são as classes trabalhadoras.
O chefe da companhia declarou a uma revista européia que havia decidido entrar de cabeça para defender o Tratado de Lisboa porque não confiava nos "políticos incompetentes" para garantirem a vitória do "sim", dizendo que não queria correr o risco de "perder mais uma vez". Uma semana antes, a transnacional ianque Intel também havia anunciado que decidira entrar na campanha para "salvar o tratado", a fim de garantir céu de brigadeiro para multiplicar seus lucros na Europa.
Quando, aliviado, apareceu em entrevista coletiva prestando contas aos seus superiores da Inglaterra, França e Alemanha, o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, fez o arremate da farsa eleitoral já com as urnas fechadas e os votos contados: "Hoje o povo irlandês falou com uma voz clara e sonora".
Pois o "sim" irlandês foi tudo — ilegítimo, obscuro e empurrado goela abaixo dos povos da Europa — menos claro e sonoro, dado o modo pelo qual o resultado foi alcançado e o altíssimo índice de abstenções, tal e qual já havia acontecido recentemente nas eleições para o Parlamento Europeu, quando quase metade dos eleitores registrados em todo o continente se recusaram a participar do sufrágio, e no próprio referendo irlandês do ano passado, quando ganhou o "não". Antes mesmo de ganhar o "não" ou o "sim", o fato realmente significativo é o desprezo que o povo irlandês demonstrou nutrir pelas farsas eleitoreiras — e por outras farsas — organizadas pelas elites demagogas do seu país e pelo poder econômico transnacional.
Para incrementar sua campanha em favor do "sim", os publicitários do capital monopolista europeu criaram uma espécie de resumo do embuste, muito semelhante a promessas eleitoreiras de candidatos oportunistas quaisquer, que foi apresentado ao povo irlandês sob o título "O tratado em poucas palavras":
"Políticas que melhoram sua vida; a União Européia no mundo; maior justiça, liberdade e segurança; uma Europa mais democrática e transparente; uma Europa de direitos e valores; instituições eficientes e modernas".
"Mentiras", diz o adesivo colado sobre campanha do tratado
Mas a verdade por trás dessa demagogia é bem outra:
— Perda de soberania das nações menores do continente em favor das potências européias, com a centralização das decisões políticas e econômicas nas instituições supranacionais erigidas e controladas pela grande burguesia européia, nomeadamente o britânico, o alemão e o francês, o que confere aos monopólios maior poder e agilidade sobretudo para explorar as massas dos países mais pobres da Europa;
— Solapamento dos direitos e garantias historicamente conquistados com muita luta pelo bravo operariado europeu;
— "Maior justiça, liberdade, e segurança", sim, mas para o capital financeiro, que com o tratado se vê mais protegido — e mais livre — frente às eventuais inconveniências que as especificidades regulatórias de cada Estado poderiam interpor em sua rota predatória;
— Belicismo e reforço do imperialismo europeu nas semicolônias.
No sábado, dia 10 de outubro, a Polônia ratificou o tratado, só faltando agora a assinatura do presidente da República Tcheca, que anda chantageando os poderosos da Europa para conseguir algumas vantagens em troca da sua rubrica. A iminência da vigência do Tratado de Lisboa é uma urgência a mais para o levante dos povos europeus.