A reportagem de AND esteve em Presidente Epitácio no dia 10 de julho para conhecer o maior acampamento do Brasil, e conversou com algumas famílias. No dia 25 de julho o acampamento já contava com exatas 4.010 famílias, o que soma aproximadamente 15 mil pessoas.
Foto: José Ricardo Prieto
Os camponeses estão acampados às margens da SPV 35, rodovia que liga as cidades de Presidente Epitácio e Teodoro Sampaio. A estrada ganhou várias lombadas feitas pelos camponeses para que os veículos que passam por ali reduzam a velocidade, evitando algum acidente com o grande número de crianças que caminham na área.
A pretensão — e tudo indica que a meta será atingida — é reunir ali 5 mil famílias que aguardarão o sonhado lote onde poderão plantar e criar seus filhos. As famílias são, em sua maioria, de Presidente Epitácio, que conta hoje com cerca de 40 mil habitantes.
O acampamento já se estende por três quilômetros, ocupando os dois lados da estrada e não pára de crescer. As famílias chegam, fazem seu cadastro e iniciam a construção de seus barracos. As atividades de construção das moradias, assim como da mínima infra-estrutura, não cessam e dois grandes reservatórios de água estão sendo erguidos para abastecer o acampamento.
A vida dentro de um acampamento não é nada fácil. A alimentação constitui um problema de grande importância e é resolvido com o esforço e organização dos próprios acampados. São formadas comissões que arrecadam alimentos nas cidades e doações de várias partes do país.
Algumas pessoas têm emprego na cidade e voltam para dormir no acampamento com a família. Outras trabalham como diaristas nas fazendas próximas para conseguir levar mais alimentação para as famílias.
O acampamento já existe há cinco anos e era organizado pelo MST-CB (Movimento dos Sem Terra — Central do Brasil) e só recentemente passou à direção do MST, que promoveu o seu crescimento.
Os camponeses estão organizados em grupos constituídos de até 60 famílias, que por sua vez se dividem nas comissões necessárias ao bom funcionamento do acampamento. Cada comissão num determinado grupo tem um representante nas comissões gerais e fazem reuniões periodicamente. Há comissões de higiene, organização, saúde, arrecadação, segurança, etc.
O trabalho voluntário também é estimulado junto aos moradores das cidades próximas. Cátia Ataídes Ferreira é pedagoga, mora em Presidente Epitácio e está desenvolvendo um trabalho com as crianças do acampamento nos finais de semana, e os pequenos aguardam ansiosos as visitas da professora. Ela pretende fazer um projeto mais completo, envolvendo aulas de reforço para as crianças que frequentam escolas e atividades recreativas todos os dias.
O sonho de ter sua terra
O Sr. Henocle Rodrigues da Silva, baiano de Juazeiro, tem 55 anos e está a cinco acampado. Camponês desde a infância, sonha plantar em uma terra que seja sua. “Produzi a vida inteira em terras que não eram minhas, sempre vivi no campo e acho que agora estou perto de produzir no que é meu”, diz “seu” Henocle, que sempre trabalhou na terra sob relações de produção atrasadas, como os arrendamentos, meias, terças, etc.
É a mesma situação do Sr. Valdeque Ramalho Corrêa, de 42 anos, que está há cinco anos acampado com a família. “Estou há muito tempo lutando por um pedaço de terra e só saio daqui quando eu tiver conseguido”, diz o Sr. Valdeque, refletindo a disposição de todos para resistir até que sejam assentados.
Mesmo os mais jovens, que sempre viveram na cidade, têm sua origem no campo. São filhos de camponeses que foram obrigados a se mudar devido à concentração e mecanização da terra, entre outros fatores. Hoje, se vêem sem emprego e sem condições de viver nos centros urbanos, engrossando o contingente que pleiteia uma terra que seja sua.
O Pontal
Conforme matéria publicada em AND nº 5, a região do Pontal do Paranapanema, depois de um certo crescimento na época das grandes obras de usinas hidroelétricas, só retomou o crescimento com a implantação dos assentamentos, que voltaram a movimentar a economia das cidades, que estavam condenadas à estagnação.
As terras do Pontal estavam nas mãos de grandes latifundiários, que criavam gado de modo extensivo e com pouca mão-de-obra. Hoje, a produção agrícola emprega numerosas famílias que compram nas pequenas casas comerciais, numa relação que faz crescer e progredir as cidades.
Crescem as ocupações
Mesmo com as ações do latifúndio — como o armamento de pistoleiros, e as investidas da polícia e alguns juízes — as ocupações na região do Pontal, assim como em todo Brasil, não páram de crescer.
Ainda em julho o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) conseguiu que cerca de 350 famílias fossem despejadas das margens de uma estrada próxima a Teodoro Sampaio. Os camponeses apenas pularam a cerca e reconstruíram seus barracos em um terreno cedido pelo fazendeiro. Na segunda quinzena, 100 famílias acamparam no trevo de Teodoro Sampaio.
As ações das massas empobrecidas também não cessam. No dia 1º de julho a carga de um caminhão foi expropriada por camponeses que bloquearam a BR 232 em Custódia, Pernambuco, a 340 km de Recife. As mercadorias foram distribuídas entre os acampados de quatro cidades do estado: Pedras, Custódia, Capoeiras e Arcoverde.
Pode-se citar ainda a marcha dos camponeses a São Gabriel, Rio Grande do Sul, para ocupar uma fazenda de mais de 13 mil hectares que havia sido desapropriada pelo governo e teve a decisão anulada por um juiz do estado. Os latifundiários prometeram impedir a marcha e fizeram circular um panfleto que recomendava atirar contra os camponeses e jogar gasolina de avião sobre as barracas para que estas se incendiassem em contato com a chama de uma vela ou de um lampião.
Os exemplos são vários e de muitos lugares, como também no Paraná, Rondônia, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, onde as ações dos camponeses mostram que a situação no campo atinge um nível de tensão que logo será impossível controlar com promessas demagógicas e oportunismos.