Turquia: greve de fome de presos políticos

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Turquia: greve de fome de presos políticos

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Manifestantes se reúnem na cidade curda de Diyarbakir

No dia 06 de novembro, a agência de notícias Firat, que apoia a luta de libertação curda, recebeu um comunicado de que no dia anterior, cerca de 10 mil presos curdos da Turquia anunciaram que a partir daquele dia se somariam à greve de fome que já era mantida por mais de 600 pessoas. A adesão ao protesto foi feita por todos os presos políticos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), menos idosos, crianças e os que se encontravam doentes.

A greve foi iniciada no dia 13 de setembro por centenas de presos políticos curdos. O protesto começou com 142 presos e foi se ampliando pouco a pouco e no fim de outubro tinha 971 adesões em 58 penitenciárias do país.

Os manifestantes tinham três reivindicações: a libertação de Abdullah Occalan, líder do PKK condenado à prisão perpétua, preso desde 1999 e incomunicável há 14 meses; o direito à educação em língua curda nas escolas e o direito ao uso da língua curda nos tribunais turcos.

O Ministério da Justiça garantia que os presos tomaram regularmente uma mistura de açúcar, sal, mel e vitaminas, mas um membro do Parlamento curdo visitou os manifestantes no início de novembro e denunciou que em nenhuma das penitenciárias foi verificada a entrega da substância.

Vários setores progressistas da sociedade turca e internacional denunciaram que a situação de saúde dos presos era tão grave que até mesmo a imprensa turca denunciou a possibilidade de morte para muitos dos presos políticos. O governo respondeu aos apelos afirmando que tudo não passava de exagero e que não cederia às “chantagens” dos presos.

No dia 31 de outubro, segundo o Ministério da Justiça turco, 311 presos abandonaram o protesto, mas 660 continuaram em greve de fome.

No dia anterior, a organização Congresso da Sociedade Democrática (DTK) lançou um chamado à resistência massiva e ao apoio ao protesto dos presos curdos. Eles também publicaram um abaixo-assinado pelo cumprimento das demandas dos presos. Centenas de jornalistas, artistas e acadêmicos proeminentes do país assinaram a petição.

Manifestações

Várias manifestações foram realizadas em todo o país e também no exterior em apoio à greve de fome dos presos políticos curdos. Nos meses de outubro e novembro as manifestações foram quase diárias.

No dia 31 de outubro, o sudeste do país ficou praticamente paralisado em decorrência das manifestações de apoio à causa curda. Os comércios e as escolas não funcionaram e o transporte público foi paralisado em seis cidades da região. Na cidade de Van, milhares de pessoas marcharam para apoiar o 49° dia da greve de fome dos presos curdos.

No dia 04 de novembro uma grande manifestação em apoio aos presos foi realizada na cidade de Diyarbakir, sudoeste da Turquia. A cidade é considerada a capital das regiões curdas e foi tomada por policias que tentaram impedir o chamado do Partido Paz e Democracia (BDP). Os manifestantes responderam aos jatos de água e gás lançados pela polícia com pedras.

Dez parlamentares entraram em choque direto com a polícia, entre eles o presidente do BDP e o prefeito de Diyarbakir. No fim da manifestação, eles fizeram uma vigília em frente à sede do governo, numa clara demonstração de apoio aos manifestantes. Pelo menos 20 pessoas foram presas.

No mesmo dia houve conflitos em Cizre, quando a polícia tentou reprimir o funeral de um militante do PKK asssassinado pelo exército reacionário turco. No dia 03 também houve enfrentamentos em Edirne, norte do país, quando manifestantes saíram às ruas em apoio aos presos políticos.

Jornalistas presos

As organizações sindicais de jornalistas turcos contabilizam que hoje existem 90 profissionais prisioneiros no país. No último mês, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, uma organização internacional com base em Nova Iorque, reconheceu a existência de 76 jornalistas turcos nos cárceres do país, sendo que pelo menos 61 não teriam nenhum tipo de imputação criminosa real, ou seja, foram presos apenas por cumprir sua função jornalística.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas publicou um relatório com 53 páginas, no qual aponta que 30% dos jornalistas presos foram acusados de participar de conspirações golpistas ou de pertencer a grupos políticos proibidos. Outros 70% foram presos sob a acusação de “apoiar o terrorismo” pelo simples fato de noticiar as ações do PKK e de suas organizações de base. Além disso, de cada quatro jornalistas presos, três estão privados de liberdade sem que tenham sido julgados.

Repressão

Enquanto os presos políticos estavam em greve de fome e as manifestações de apoio se espalham pelo país, o exército reacionário turco continuava reprimindo ferozmente à luta de libertação popular. No dia 02 de novembro o norte do Iraque foi bombardeado por via área, na tentativa de atacar os refúgios do PKK. A zona de Harkuk, na provínica de Erbil ficou arrasada após uma hora de intensos bombardeios.

No mesmo dia, o PKK atacou um posto da polícia no sudeste da Turquia e liquidou três policiais.  No dia 18, cinco soldados do exército reacionário turco foram aniquilados durante confronto com o PKK na província de Hakkari, no extremo sudeste do país. Já em 29 de novembro, uma operação do exército terminou com a morte de oito supostos combatentes do PKK.

Fim da greve de fome

No dia 18, os prisioneiros encerraram a greve de fome que já durava 68 dias. Segundo agências internacionais, os militantes curdos, que, entre outras reivindicações, exigiam melhores condições e o fim do isolamento do líder da resistência curda, Abdullah Ocalan, suspenderam o protesto após negociações entre o PKK e as “autoridades” turcas. 

A agência Reuters disse que Ocalan, em prisão nos arredores de Istambul, reuniu-se diversas vezes com representantes dos serviços secretos turcos, com a finalidade de resolver as reivindicações dos detidos.  Após a greve de fome, uma vitória parcial foi obtida, pois o governo turco anunciou que irá permitir o uso do curdo nos tribunais.

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