Uerj: As conquistas da ocupação do bandejão

A ocupação foi um ambiente de intensa mobilização, organização e politização na comunidade universitária

Uerj: As conquistas da ocupação do bandejão

A ocupação do bandejão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), iniciada no dia 26 de setembro, teve seu fim no dia 31/10 quando, após quase dois meses de intensa luta em defesa da universidade, conquistou importantes vitórias econômicas e políticas, como o compromisso do reitor em reativar o restaurante e uma elevação da mobilização estudantil.

Rodrigo Duarte Baptista
A ocupação foi um ambiente de intensa mobilização, organização e politização na comunidade universitária
A ocupação foi um ambiente de intensa mobilização, organização e politização na comunidade universitária

Além de garantir a alimentação da comunidade acadêmica, a ocupação do bandejão foi capaz de mobilizar, organizar e politizar estudantes, professores e funcionários unidos pela educação pública. Entretanto, o papel da ocupação não se restringiu somente aos muros da universidade. Através de panfletagens, manifestações e mobilizações os estudantes colocaram o restaurante universitário também a serviço da população pobre que mora no entorno da Uerj, especialmente os jovens da favela da Mangueira, criando força e unidade entre a comunidade acadêmica e a população.

Os estudantes mostraram na prática que foi possível dar funcionalidade, irradiação de mobilização e luta em um espaço que estava há mais de um ano sem funcionamento. Em depoimentos ao jornal A Nova Democracia, estudantes de vários cursos declararam que  somente passaram a frequentar  o restaurante universitário depois da ocupação.

Do ponto de vista político, a ocupação obteve saldos qualitativos, cumprindo importante papel ao apontar o caminho de luta, um caminho independente e combativo, pois a universidade encontrava-se desmobilizada e com acúmulos de lutas que não tiveram resultados efetivos. Os estudantes alteraram esse quadro realizando atividades político-culturais, aulas públicas, debates, assembleias e reuniões, passagens em turmas, arrecadação de recursos e realização de manifestações contra o desmonte do ensino superior público. Inclusive alunos de cursos que não possuíam o hábito de mobilizar-se politicamente, como geologia, matemática e oceanografia, passaram a somar na luta em defesa da universidade, contribuindo de todas as formas.

Em seu sentido prático e econômico, a pressão dos estudantes – que também organizaram atos em frente à reitoria – garantiu que o reitor assinasse uma carta se comprometendo não só a reabrir o restaurante universitário do campus do Maracanã, mas também a elaborar uma política de alimentação nos outros campi da Uerj (onde hoje não existe esse tipo de assistência). No dia 31/10 foi assinado o contrato com a empresa que ganhou a licitação para administrar o bandejão que, segundo previsão, deve voltar a funcionar no final de novembro.

A ocupação do bandejão da Uerj, organizada por estudantes independentes, difere das mobilizações dirigidas pelo oportunismo eleitoreiro, em especial as dirigidas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) composto majoritariamente por quadros do PT/Pecêdobê e da União Nacional dos Estudantes (UNE). Um manifesto divulgado pelo Ocupa bandejão Uerj afirma que essas entidades e partidos eleitoreiros “têm servido como camisa de força do movimento estudantil quando as mobilizações alcançavam proporções radicalizadas”, ressaltando ainda que “o método de luta eficaz para barrar o desmonte do ensino público e sua privatização é ocupar as universidades e transformá-las em trincheiras de resistência, opondo-se ao método de ocupação enquanto colônia de férias, sem conquistas efetivas”.

Apoio popular

A ocupação do restaurante universitário repercutiu em diversos estados brasileiros, contando com publicações de notas de apoio emitidas por variadas organizações estudantis e democráticas em defesa da justa luta dos universitários, além de receber apoio de estudantes de diversos cursos da própria Uerj, dos professores, técnicos e terceirizados, da população do estado, intelectuais tanto brasileiros como estrangeiros, estudantes de outras universidades no Rio  de Janeiro etc..

— Colocar o bandejão para funcionar foi incrivelmente perfeito do ponto de vista político e prático. Foi simbólico e funcional. Essa ocupação serviu de inspiração para outros estudantes! – declarou a estudante de biblioteconomia da Unirio, Luz Zanazi, ao AND.

No mesmo dia em que encerrou-se a vitoriosa ocupação, estudantes, cotistas e funcionários da Uerj realizaram um ato em defesa do ensino público fechando as principais vias de acesso à universidade. A equipe do jornal A Nova Democracia esteve presente e observou o crescente apoio popular em defesa da educação pública. O povo aderia à manifestação à medida em que ela avançava.

Ocupação desperta a fúria revolucionária da mulher

Papel de destaque teve a atuação feminina na ocupação do bandejão. As mulheres assumiram a coordenação das principais atividades que garantiam a vida daquele espaço político. Em declaração ao AND, uma estudante de pedagogia da Uerj afirmou:

— Mulheres de diferentes cursos, que não possuíam a cultura de mobilização política, se prontificaram a ajudar de todas as formas, elas assumiram tarefas de representação de curso, de comissões de segurança, limpeza, alimentação e comunicação. Até mesmo nas manifestações era visível o seu destaque nas agitações políticas. A ocupação foi vitoriosa para despertar a fúria revolucionária da mulher.

O estudante de arqueologia da Uerj, Enrico, declarou para à equipe de reportagem de AND que sem a participação das mulheres seria inviável a ocupação seguir adiante.

Como parte das atividades político-culturais, o Movimento Feminino Popular (MFP) esteve presente na ocupação para debater sobre a emancipação feminina.

O MFP expôs que as concepções acadêmicas pequeno-burguesas e seus adeptos perpetuam as teorias pós-modernistas de que o machismo é um problema simplesmente cultural, logo sendo passível de modificação somente pelas alterações de padrões culturais de cada um, concepção individualista que desconsidera que tal problema reflete, na verdade, o sistema socioeconômico em que vivemos.

Pontuaram que apenas em um mundo novo, com o triunfo de uma revolução democrática e o estabelecimento de uma cultura científica e revolucionária é possível a elevação da condição social da mulher, abrindo caminho à destruição efetiva da ideologia patriarcal numa sociedade sem classes, o comunismo.


*Beatriz Araújo é estudante do 5º período do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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