Um encontro de grandes bandidos

Um encontro de grandes bandidos

O BID — Banco Interamericano de Desenvolvimento é a sucursal do Banco Mundial para assuntos latino-americanos. Suas reuniões têm como único objetivo renovar e aprofundar as políticas de dominação do imperialismo nos países dominados. Nos primeiros dias de abril, mais uma destas reuniões do BID ocorreu em Belo Horizonte. Milhões foram gastos para cosmetizar as vias públicas e lançar mais desordem no trânsito, dar sumiço aos mendigos do centro da cidade, oferecer lautos jantares e festas para os agiotas internacionais. Mas quanto à revolta popular, essa não pôde ser retocada.

Manifestação promovida pela Liga Operária e ILPS, em Belo Horizonte — MG

Durante meses, a prefeitura de Belo Horizonte — que detém o infeliz título de “cidade modelo” concedido pela ONU — , e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciaram a reunião do BID como um grande evento de vital importância para o estado. Todo o perímetro da Avenida Amazonas foi recapeado, os comerciantes receberam ordem da prefeitura para se readequarem esteticamente sob pena de multas, meios-fios receberam nova mão de cal. Milhões gastos com maquiagens para burlar a realidade urbana.

Cidade: área proibida. Ninguém se aproxima.

Enquanto um certo número de agiotas estrangeiros e seus prepostos debatiam a forma de aprofundar a exploração de nosso povo e a espoliação do país, o povo foi impedido de circular nas proximidades do Palácio das Artes e Expominas. O prefeito Fernando Pimentel (PT) ordenou a interdição do trânsito nas principais vias de acesso ao centro da cidade, porque previa a onda de revolta que tomava conta de toda a população.

Na manhã da segunda-feira, 3 de abril, milhares de pessoas ficaram retidas em quilômetros de engarrafamentos. A maioria chegou atrasada ao serviço ou perdeu o horário das aulas. Mesmo os pedestres foram impedidos de transitar pela Avenida Afonso Pena, nas imediações do local onde se locupletavam banqueiros, “empresários”, latifundiários, mega-pelegos de plantão saídos dos mais variados setores, polícia operativa (civil, militar), jornalistas, alcaguetes — além de simples funcionários transferidos para o local com ordens de manter a estrutura administrativa do evento.

As escolas situadas nas proximidades tiveram suas aulas suspensas, para que não se repetissem manifestações como as de 1999, que levaram milhares de pessoas às ruas em protesto contra a reunião da ALCA1 e Mercosul2 na capital mineira.

Um verdadeiro aparato de guerra foi montado pela Polícia Militar com centenas de homens armados postados por toda a cidade, carros blindados, cães, helicópteros.

Praça de combate

No dia 3 de abril, vários movimentos de luta popular organizaram protestos contra a presença do BID em Belo Horizonte. Dentre as manifestações de repúdio à reunião dos agiotas estrangeiros destacaram-se a da Liga Operária e ILPS — Liga Internacional de Luta dos Povos, assim como a do Movimento dos Atingidos por Barragens.

As manifestações ocorreram durante a manhã. Por volta das 9 horas, na Praça Sete, no centro da capital, a Liga Operária iniciava sua concentração. Ainda eram aguardados ônibus com delegações de estudantes, de sindicatos e moradores de bairros da periferia, quando a polícia percebeu a movimentação.

Cerca de cinquenta manifestantes desenrolavam as faixas e bandeiras quando a PM iniciou o cerco. O aparato policial não foi orientado para garantir a segurança da reunião do BID, mas principalmente para tentar esmagar as manifestações populares.

Súbito, na Praça Sete, policiais militares armados de escopetas, revólveres, bombas, cassetetes, escudos e rifles com balas de borracha, sob o comando do tenente-coronel Josué Soares (BPM-Rotam), dispararam, prenderam manifestantes e defraudaram faixas e bandeiras.

— A PM partiu para cima sem diálogo, chegou tomando as bandeiras e atirando com balas de borracha — protestou indignado Juarez, vendedor ambulante, que estava presente no momento da ação repressiva da polícia.

Com esta investida da polícia, os manifestantes responderam dirigindo-se para a Avenida Afonso Pena. Mais tiros de escopeta à queima roupa. Um policial foi atingido por um dos tiros de borracha na cabeça e sangrava bastante. O motorista que dava apoio à equipe de reportagem de uma TV local também foi atingido no abdôme.

Os policiais cercaram um dos dirigentes da Liga Operária e o prenderam com brutalidade. Enquanto o arrastavam para o camburão, outro comandava:

— Bate com força! Bate com força! — instigando a tropa contra o manifestante.

O saldo do confronto, segundo informação da própria PM foi de 19 policiais feridos e 3 manifestantes presos.

Na praça da Assembléia, região oeste da capital, mais de 500 pessoas desabrigadas por barragens protestavam em frente à Cemig — Companhia de Energia do estado. Estas famílias foram desabrigadas devido aos alagamentos promovidos durante a construção de barragens pela Companhia e não haviam sido indenizadas. A revolta delas aumentou ainda mais quando o governo do estado — que alegava não ter recursos suficientes para atender todas as famílias — , gastou milhões para promover a farra do BID.

A violência da PM não foi capaz de deter esta massa de 500 manifestantes. Tiros de borracha e bombas de gás não foram suficientes para impedir que eles invadissem o hall de entrada da Cemig e descarregassem todo o seu ódio contra esta companhia bilionária.

Oportunistas, isto há

A cúpula do Fórum Social Mineiro, junto com a CUT, fez várias articulações com o prefeito Pimentel — PT. Os parasitas do oportunismo acreditavam que o PT iria ceder alojamentos e estrutura necessária para seus devaneios, tipo “outro mundo é possível sob o capitalismo”, durante os dias da reunião do BID.

Na última hora, a prefeitura roeu a corda e não cumpriu com a palavra empenhada. Na noite de domingo, 2 de abril, Fernando Pimentel e Aécio Neves reuniram-se com o comando da PM e determinaram como ela deveria agir em caso de haver manifestações no dia seguinte.

A cúpula do Fórum Social Mineiro, que havia programado manifestação juntamente com outros movimentos para a segunda-feira, dia 3, também roeu a corda e desmarcou.

A Liga Operária e outras organizações combativas realizaram a sua manifestação programada e foram agredidas pela tropa de choque da PM.

Fâmula imprensa

A Liga Operária, em nota à redação de A Nova Democracia, criticou a imprensa ligada ao governo que ocultou o que realmente aconteceu durante a reunião do BID. Publicamos estas palavras de protesto, que certamente serão agora devidamente acolhidas pelo povo e democratas, leitores de AND, jornal que, acima de tudo, toma partido do povo e de sua luta.

A maioria da imprensa, comprada pelo governador Aécio Neves e prefeito Fernando Pimentel, está mancomunada para passar o conto de que em Belo Horizonte reina a paz social, só tem obras e o povo recebe o BID com tapete vermelho. Pimentel e Aécio sumiram com os mendigos das ruas e maquiaram a fachada da cidade onde está passando o cortejo de agiotas internacionais e seus puxa-sacos. Um bando de imbecis que nestes fóruns pensam estar participando de alguma decisão, quando na realidade todas as decisões já estão prontas e foram tomadas pelo imperialismo ianque.

Durante todo o encontro do BID, essa imprensa venal só elaborou textos de propaganda mentirosa elogiando o governo. Esta imprensa vendida defende também a repressão contra o povo e procura jogar a culpa em manifestantes e entidades populares.


1 Alca — Área de Livre Comércio das Américas
2 Mercosul — Mercado Comum do Sul
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