Refém do Congresso Nacional; obrigado a entregar cargos e prerrogativas ao “centrão” e ter como aliada a “bancada ruralista” (latifundiários no Congresso); estar tutelado pelas Forças Armadas reacionárias através do seu Alto Comando intervencionista. Essas palavras descreveram com precisão os últimos dois anos do governo Bolsonaro e seguem válidas para descrever o atual governo de Luiz Inácio.
Passado o 8 de janeiro e toda a retórica radical do governo sobre mudar completamente as Forças Armadas para extirpar-lhe o germe golpista, nada foi feito. O Luiz Inácio que bradou “não confio mais nas Forças Armadas” é o mesmo que barrou qualquer tentativa de mudar, no Congresso, o artigo 142, usado pelos generais golpistas para justificar o “Poder Moderador” de fato que exercem. Nem mesmo o flagrante golpismo do atual Alto Comando, que, comprovadamente chegou a se reunir, em novembro de 2022, para discutir se deveriam intervir ou não naquele momento, pôde fazer Luiz Inácio mudar de ideia. Em troca, em vez de investigações e punições, o governo, com sua política de apaziguamento aos golpistas, preferiu afagar: destinou mais de R$ 53 bilhões para as Forças Armadas investirem em “projetos de defesa” através do novo PAC. No entanto, a única guerra que o Exército reacionário brasileiro conhece é a guerra ao povo, nas favelas e no campo, agora financiada pelo governo que veio “barrar os retrocessos bolsonaristas”. Por sua vez, o comandante do Exército, o general “legalista” Tomás Paiva, em ordem recente, definiu a criação de um órgão chamado “Amigos do Exército”, cuja função é melhorar a imagem do Exército e restabelecer a unidade da “família militar”, ou seja, conciliar-se com a extrema-direita bolsonarista.
O governo tem cumprido com disciplina os desígnios dos poderosos do capital financeiro internacional e local, além dos latifundiários. O Plano Safra destinou quantias fabulosas ao “agronegócio”, um recorde inaudito no País que nem mesmo Bolsonaro, com toda a sua ideologia pró-latifúndio, conseguiu superar. O “arcabouço fiscal” – o novo “teto de gastos” – também foi rapidamente aprovado e já se encontra em vigor; assim como a reforma tributária, que não diminui um tostão de imposto para as massas consumidoras. Próximo passo será a reforma administrativa – consequência inevitável do “arcabouço fiscal” – e que terá como alvo o funcionalismo público, precarizando-o ainda mais. Todas essas medidas, votadas e vencidas na base do nauseabundo “toma lá, dá cá” de verbas e Ministérios: retirou-se do Ministério dos Povos Indígenas a prerrogativa de demarcar novas terras indígenas; retirou-se do Ministério do Meio Ambiente os instrumentos de fiscalização sobre grilagens em áreas de preservação ambiental; e agora terminará por criar o Ministério da Micro e Pequena Empresa para acomodar o PP e o Republicanos no governo, os mesmos partidos “terrivelmente bolsonaristas” durante o governo do capitão-do-mato. Estes são os fatos irrefutáveis da prática política do governo da coalizão reacionária.