Uma nova frente na estratégia imperialista para a Ásia

Uma nova frente na estratégia imperialista para a Ásia

Uma Missão de Solidariedade Internacional contra a intervenção armada dos Estados Unidos nas Filipinas esteve no país durante os dias 24 a 31 de julho passado. Este chamado à solidariedade internacional foi liderado pelo partido político “Bayan Muna” (que significa “Os Povos Primeiro”), representante dos setores marginalizados e oprimidos das Filipinas. A Missão Internacional concluiu sua atividade em Zamboanga e voltou para Manilla no dia 31 de julho.Mas eles foram barrados e impedidos de entrar nas cidades e os moradores foram incitados a jogar pedras nos participantes que demonstravam vontade de se juntar à Missão. Participaram 40 delegados estrangeiros, da Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Japão, Coréia do Sul, Holanda, Taiwan e Estados Unidos. Eles se juntaram aos 25 apoiadores locais e aos 1200 participantes da caravana de apoio, representantes de várias organizações de operários, camponeses, professores, estudantes, advogados e de mulheres, que se opõem firmemente à escalada da intervenção militar norte-americana nas Filipinas e na região asiática.

No dia 15 de fevereiro último, os Estados Unidos abriram, no sul das Filipinas, o que pode ser interpretado como uma “segunda frente” de combate, além do Afeganistão, na sua guerra contra o terrorismo.

Foi exatamente assim que a imprensa internacional descreveu a “Operação Balikatan 02-1”, supostamente de exercícios militares conjuntos entre as forças armadas filipinas e norte-americanas em Basilám e ilhas vizinhas. De acordo com informações da agência de notícias Reuters, “a presença das forças especiais dos Estados Unidos em Basilán marca a expansão mais importante da guerra dos Estados Unidos contra o terrorismo, depois da destruição do regime talibã no Afeganistão”. Por sua vez, a Newsweek classificou esta de uma “frente menos complicada depois do Afeganistão”, certamente se comparada com outros alvos de ataque relacionados nos planos belicistas norte-americanos, como o Iraque, Irã, Somália e Coréia do Norte, entre outros países já ameaçados.

Abu Sayaf: álibi para justificar a intervenção

Os soldados norte-americanos formaram, com os soldados filipinos, um comboio antiterrorismo para o suposto combate a Abu Sayaf e seu grupo, cuja base fica na ilha de Basilán, em Mindanao. A versão oficial do imperialismo era a de que Abu Sayaf seria ligado a Al-Qaeda, o que justificaria uma intervenção militar norte-americana naquele país, como parte da campanha anti-terrorista do governo Bush. No entanto, passados alguns meses ficou evidente que as conexões entre Abu Sayaf e Osama Bin Laden eram fantasiosas e o próprio governo norte-americano não se preocupou mais em sustentar este álibi perante a opinião pública internacional. Mesmo porque, por outro lado, conta com a total subserviência da presidente Glória Macapagal-Arroyo, que passou por cima da Constituição filipina – revisada em 1992, logo após a retirada das antigas bases militares norte-americanas das Filipinas – que, taxativamente, proíbe a presença de tropas de combate estrangeiras em solo filipino, como foi o caso. A presidente Macapagal-Arroyo admitiu e autorizou esta afronta à soberania nacional filipina e à integridade de seu território, o que levantou um vigoroso e combativo movimento de conteúdo antiimperialista nas Filipinas.

As Filipinas foram colônia dos Estados Unidos de 1889 até 1946. Durante o primeiro exercício de contrainsurgência na Ásia, conhecido como a repressão à “Insurreição Filipina”, um décimo da população foi exterminado. E como se não bastasse, os Estados Unidos seguiram respaldando governos sanguinários depois da independência das Filipinas, em particular o famigerado governo de Ferdinando Marcos. Recentemente, o governo Bush presenteou à presidente Arroyo com 92,3 milhões de dólares em equipamentos militares, incluindo dois aviões de transporte militar C-130; um patrulheiro naval; helicópteros Heuy e 30 mil rifles M-16. Diante disso é inevitável a pergunta: tantos equipamentos de guerra para combater um pequeno grupo que o próprio Departamento de Estado norte-americano estima não ter mais que 200 homens?

O porta-voz da presidente Arroyo declarou, no dia 16 de fevereiro (publicado no jornal Boston Globe), dia seguinte ao desembarque das tropas em território filipino, que, tanto “Abu Sayaf quanto o Novo Exér-cito do Povo (NEP) estão em estado de pânico agora na tentativa de deter a Operação Balikatan 02-1, já que as Forças Armadas das Filipinas, mais fortes, mais bem treinadas e melhor equipadas derrotarão seus planos de fomentar o caos no país”. E, continuou ele, “apelamos aos críticos involuntários de Balikatan 02-1 que compreendam esta simples realidade e que vejam que, de maneira escandalosa, é o Partido Comunista das Filipinas quem nunca reconheceu nossa soberania e que tem enganado o povo com sua campanha extrema de propaganda de que um exercício de treinamento militar conjunto debilita nossa nacionalidade”.

O que o Secretário de Defesa das Filipinas, Angelo Reys, destacou em discurso recente é que o próximo alvo da operação é a Frente de Libertação da Ilha Moro (MILF); o Novo Exército do Povo (NEP), que é o exército do Partido Comunista das Filipinas e a Frente Nacional Democrática (NDF), classificados pelos governos norte-americano e filipino de “grupos terroristas”.

Dentro deste planejamento, mais 3 mil soldados americanos desembarcaram, no mês de abril, na Ilha Central de Luzon, para novos exercícios militares. Nesta ilha não há nenhum grupo armado dissidente, mas sim um movimento revolucionário maoísta, dirigido pelo Partido Comunista das Filipinas – com um forte e organizado movimento popular em Luzon e em todas as principais províncias – que desenvolve a luta revolucionária contra o imperialismo norte-americano e o Estado filipino, dos grandes burgueses e latifundiários, desde 1969. A guerrilha maoísta tem enfrentado o Estado filipino há anos. Desde 1969, o NEP (que chegou a ter mais de 25 mil guerrilheiros) já conquistou o controle de importantes regiões do país, sobretudo nas ilhas do Norte, mas também em algumas áreas de Mindanao.

A Operação Balikatam 02-1 foi planejada para ampliar ainda mais a presença militar norte-americana na Ásia; faz parte dos sinistros planos de guerra mundial, engendrados pelos Estados Unidos, na luta por manter sua hegemonia no mundo, num quadro de acirramento das contradições entre as potências imperialistas. Mas enquanto os imperialistas preparam-se para travar uma nova guerra de partilha do mundo, as nações e os povos oprimidos se organizam mais a cada dia para lutar por sua libertação. Reflexo disso, é que o povo filipino tem realizado grandes manifestações antiimperialistas em seu país, assim como cresce no mundo a mobilização contra a guerra imperialista.

Visita de Colin Powell

O Secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, esteve nas Filipinas no início do mês de agosto, ou seja, dois dias após os dois aliados terem anunciado a conclusão da operação de caça ao grupo de Abu Sayaf, supostamente vinculado à organização Al Qaeda. A visita teve como objetivo reforçar a cooperação entre os dois países na guerra contra o terrorismo iniciada pelos Estados Unidos. No dia 22 de julho passado, mais de 15 mil pessoas tomaram as ruas de Manilla, capital das Filipinas, num grande ato de repúdio à presença militar no país. Os manifestantes gritavam palavras de ordem pela renúncia da presidente Glória Arroyo, a quem chamavam de “marionete dos Estados Unidos”. E mesmo com a polícia usando cassetetes e canhões de água contra os manifestantes, eles não se intimidaram e reagiram com paus e pedras. No confronto, 16 pessoas ficaram feridas e 11 manifestantes foram presos.

A Missão Internacional de Solidariedade, neste contexto, se propôs a analisar, de perto, a natureza e a extensão da intervenção armada nas Filipinas, assim como as responsabilidades diretas do governo Arroyo; de iniciar uma avaliação do impacto da intervenção militar norte-americana do ponto de vista econômico, político e cultural e a extensão da ameaça ao movimento revolucionário de libertação nas Filipinas.

Para David Pugh, advogado de direitos civis de Nova Iorque, que integrou a Missão Internacional contra a intervenção disse, na ocasião, que havia coletado testemunhos e provas chocantes de que há envolvimento direto dos Estados Unidos no assassinato de civis desarmados; de que os militares norte-americanos usurparam as funções da polícia e dos governos locais, abusando dos direitos humanos. Pugh, completou afirmando que tem havido um crescente número de mortes de civis cristãos e muçulmanos, sendo que muitos deles estão sendo presos. “Usando os ataques de 11 de setembro como pretexto, os Estados Unidos têm intensificado sua política repressiva, abolindo as liberdades civis, tendo os islâmicos como bodes-expiatórios”,concluiu ele.

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