A política do imperialismo ianque para o Dilúvio de Al-Aqsa (grande ofensiva da Resistência Palestina, de 7 de outubro de 2023) tem transmutado conforme acumulam derrotas. Ela, que já foi de apoio explícito à resposta armada de Israel ato seguinte ao 7 de outubro, nas últimas semanas passou à defesa de um cessar-fogo para ajuda humanitária, enquanto, na prática, tem vetado todas as propostas de cessar-fogo levados por outros países à ONU.
Na realidade, o imperialismo ianque apoiará sempre o Estado sionista de Israel – e, mesmo, dará tudo para a sua manutenção, até o último suspiro. Primeiro, porque um enorme volume de capitais ligam ambos os Estados, inclusive através da união pessoal entre classes dominantes de ambos; depois, porque a existência da entidade sionista conflui com os interesses ianques de longo prazo, é de enorme valia para as vindouras disputas interimperialistas pelo controle do Oriente Médio Ampliado, que é o ponto de unificação de três importantíssimas regiões, ricas em capital, fontes de matérias-primas e enormes mercados cativos: Europa, Ásia Central e Norte da África. Basta que façamos o exercício de imaginar quais seriam as condições para o imperialismo ianque disputar a hegemonia imperialista sobre aquela região sem Israel.
Não é sem razão que, do total de 90 vezes em que o USA utilizou seu poder veto na ONU, 46 foram para apoiar Israel; o apoio ao sionismo é a base principal da diplomacia ianque. Anualmente, os ianques enviam 3,8 bilhões de dólares a Israel (num acordo iniciado por Barack Obama, tido como “progressista”!). Não é possível explicar a capacidade militar do Exército sionista sem o apoio militar, econômico e a cobertura política e diplomática que os ianques fornecem.
Sabendo disso, todavia, o imperialismo ianque, de forma ardilosa, desenha uma suposta oposição à matança de Netanyahu ao público, enquanto atrás das cortinas busca impor sua própria linha para submeter a Palestina. Netanyahu, extremista de direita com as vestes de Hitler, pretende impor a “Solução final”: eliminar as condições para existir resistência através do extermínio da população. Os objetivos do plano de Netanyahu são: primeiro, a destruição das organizações militares palestinas; segundo, o controle político total por parte do governo israelense sobre o território de Gaza, em uma administração que tenha como mediador os governos lacaios árabes pró-ianques. Já o imperialismo ianque pretende fazer o “jogo duplo”: por um lado, impor pressão sobre a liderança da Resistência armada do povo palestino com operações a alvos restritos e limitados, eliminando os mais decididos pela via armada, e por outro, agitar a necessidade da solução pacífica do conflito com a criação de um Estado palestino através dos mecanismos internacionais; assim, dividir a Frente Única palestina, separar as guerrilhas palestinas das massas populares através de ludibriar a esta última e eliminar a direção consequente da luta armada, prevalecendo o capitulacionismo.
Por essa razão, o governo de Joe Biden chegou a defender a “solução de dois Estados” durante o atual governo de Netanyahu. Para dar credibilidade à sua fantasia de cordeiro, enviou aviões militares de carga C-130 para lançar 38 mil refeições sobre Gaza, no 1º de março, uma semana após 112 palestinos que buscavam alimentos serem assassinados por tiros de soldados israelenses. Os ianques querem ganhar a confiança para manobrar a situação e estabilizar seus interesses na região – mas não há interesses ianques no Oriente Médio sem que exista um forte Estado sionista.
Não há nenhuma possibilidade, portanto, de se pensar um Estado palestino que não surja da luta mais encarniçada contra o imperialismo ianque. Através da conciliação, apenas é aceitável aos ianques um Estado fantoche, sujeito aos interesses do próprio imperialismo ianque e submetido ao Estado sionista – o que, na verdade, seria a melhor forma de ajudar os sionistas a saírem da desastrosa crise na qual foram empurrados pelo Dilúvio de Al-Aqsa.