A maioria dos meios de comunicação continua a manipular de forma grosseira o noticiário, escondendo da população o que de fato acontece. Não se divulga o que contrarie determinados grupos e interesses, mas, de uma forma ou de outra, as pessoas terminam tomando conhecimento e percebem, com grande receio, como são e estão vulneráveis a esquemas criminosos investidos no plano institucional.
A Tribuna da Imprensa (RJ), no dia 29 de setembro, trouxe uma manchete que causa apreensão. Dizia: “jornalista que denunciou ACM morre na Bahia misteriosamente”. E contava: “o jornalista e escritor Francisco de Alexandria Pontes, de 75 anos, que morreu no último dia 23, em Salvador, pode ter sido envenenado.”
A matéria afirma, ainda, que durante a entrega do Prêmio Imprensa Embratel 2003 (RJ), 24 de setembro, um dia depois do ocorrido, “o repórter Marconi de Souza fez um discurso emocionado, dizendo que Antônio Carlos Magalhães, o ACM, continua mandando na Bahia e havia suspeitas de que o jornalista Francisco Alexandria poderia ter sido envenenado por ordem do senador do Partido da Frente Liberal (PFL).”
Na década de 80, continua a leitura, “quando trabalhava na ‘Tribuna da Bahia', Francisco de Alexandria Pontes se tornou veemente opositor de ACM, então governador do estado. Vários textos criticando ACM e o governo foram publicados na ‘Tribuna'. Nesta época, o carro de Alexandria foi metralhado e seu motorista, que estava sozinho no veículo, morreu na hora. Segundo a polícia, os assassinos se confundiram e pensaram estar matando o jornalista.” Nunca se apurou a autoria do atentado.
No ano passado, o jornalista lançou o livro Dom Carlos Corleone e voltou a sofrer agressões. Foi espancado bem em frente ao prédio em que residia, por homens fortemente armados. Enquanto chutavam sua cabeça e o socavam, perguntavam por que havia escrito o livro sobre ACM.
Dom Carlos Corleone, cuja primeira edição se esgotou, teria a segunda edição lançada no mês de outubro, atualizada, com todos os detalhes sobre o episódio dos grampos telefônicos na Bahia. Ainda não se sabe se a editora fará o lançamento ou se irá marcar uma nova data. O fato é que essa morte está tendo grande repercussão na Bahia, embora os grandes jornais do país ainda se omitam a respeito.
ACM foi salvo de uma possível cassação nessa sua volta ao Senado, depois de ter renunciado, por ajuda direta do presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMDB-AP). A denúncia de que havia violado o painel do Senado, juntamente com o então também senador José Roberto Arruda (PFL-DF), foi arquivada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Já a denúncia de que havia montado uma central de grampos no governo da Bahia, utilizando-se da máquina administrativa para espionar cidadãs e cidadãos, segue seu trâmite no Judiciário. Esse assunto foi primeira página de vários jornais e revistas nacionais, deu manchetes e ocupou espaços televisivos, mas não rendeu qualquer punição.
Impune, deslizando de forma sorrateira, consciente de suas ligações, ACM vai dominando a cena e intimidando os que ousam enfrentá-lo. Acusado de também mandar matar seu genro, Juca Valente (o assunto rendeu, inclusive, um livro), o velho mananga permanece incólume. Aos cidadãos, resta pagar suas contas e despesas, mantendo o bico calado. Afinal, o registro biográfico de sua excelência serve como perigoso alerta.
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