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A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou que, no norte da África, a polícia do Marrocos atacou violentamente e sequestrou centenas de imigrantes em várias cidades do país, incluindo mulheres e crianças, e os abandonou sem água e comida em uma região desértica na fronteira marroquina com a Argélia.
Segundo a MSF, entre 600 e 700 pessoas foram capturadas feito animais entre os dias 19 de agosto e 10 de setembro e abandonadas no deserto. O Marrocos costuma ser usado por muitos migrantes africanos como porta de entrada para a Europa, e a ação fascista da polícia marroquina se explica à luz dos acordos em matéria de “cooperação para combater a imigração legal” firmado entre a administração do país africano e a União Europeia.
É graças a esses acordos que o Marrocos recebe da Europa “recursos” para se constituir como fronteira policial avançada da União Europeia. Da mesma forma como a ação dos traficantes de drogas e bandoleiros de fronteira no México parece funcionar como uma fase eliminatória a mais no draconiano processo de seleção de mão de obra latino-americana pelo USA, no Marrocos é o próprio governo quem faz o trabalho sujo de eliminar o excesso de gente querendo trabalhar no outro lado do mar Mediterrâneo.
Em um caso e no outro, todo tipo de barbaridade é aceita, a despeito da perplexidade encenada pelos chefes das potências dos dois lados do Atlântico quando chegam as notícias sobre os resultados de suas políticas racistas e xenófobas.
Na Alemanha, discursando para as “Juventudes Conservadoras”, a presidente Angela Merkel defendeu que o país precisa ser “exigente” com os imigrantes, dizendo que a integração dos muçulmanos “falhou”. É a chefe da potência europeia adotando uma postura que remete ao mito da raça superior, ideário compartilhado pelo séquito nazista de Adolf Hitler na primeira metade do século passado.
Políticas migratórias fascistas
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Trata-se de um discurso que permeia também um livro recém-lançado em solo germânico intitulado “A Alemanha se desfaz”, escrito pelo alto funcionário do Banco Central alemão e ex-secretário da Fazenda de Berlim Thilo Sarrazin. No texto, o autor diz que o país “embrutece” sob o peso dos muçulmanos e que a população alemã está ficando menos inteligente ao longo das décadas “devido à presença massiva de turcos”. Nada a dever ao seu “Führer”.
No Reino Unido, no início de outubro, a cidade de Leicester teve montada a maior operação policial em sua jurisdição nos últimos 25 anos para garantir a “paz” em uma marcha da Liga de Defesa Inglesa — organização considerada um “exército de rua” contra os muçulmanos —, já que a organização União Contra o Fascismo havia anunciado que se reuniria em protesto contra a manifestação dos xenófobos. Em outras palavras: é o Estado britânico dando retaguarda a manifestações fascistas.
Também no Reino Unido, a organização Instituto de Relações Raciais (IRR) divulgou no dia 18 de outubro um relatório mostrando que nos últimos quatro anos ao menos 77 pessoas morreram em decorrência do racismo intrínseco às políticas britânicas de imigração e asilo (ao menos, porque a própria entidade reconhece que o número é subestimado). Vinte e oito das mortes relatadas pelo IRR são de pessoas que cometeram suicídio após terem seus pedidos de asilo recusados. Sete morreram por “problemas de saúde evitáveis” após terem lhes negado assistência médica. Outras sete perderam a vida sob a custódia dos agentes da polícia de imigração. Por fim, 15 imigrantes faleceram durante o desesperado a altamente arriscado ato de tentar entrar no país ilegalmente.
A última vítima teria sido o angolano Jimmy Mubenga, de 46 anos de idade, que morreu misteriosamente no aeroporto de Heathrow, em Londres, já a bordo do avião que o levaria de volta para seu país natal, quando estava na companhia de guardas da empresa privada de segurança G4S, contratada pelo governo inglês para acompanhar deportados. A autópsia do corpo de Mubenga foi considerada inconclusiva e a polícia britânica classificou a morte como inexplicável, mas seu filho disse que o pai era absolutamente saudável e testemunhas disseram que o angolano foi sufocado pelos seguranças da firma para a qual a administração racista da Grã-Bretanha terceirizou a violência imposta a quem está de saída forçada do país — violência do tipo exemplar, como quem é jogado para fora sob o aviso: “não volte nunca mais”.