Unificação da Coréia toma rumos que não interessam ao USA

Unificação da Coréia toma rumos que não interessam ao USA

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Cléo Vieira-Vernier
com informações da Agência KCNA – Korean Central News Agency, da RPDC
  

Ano de 2002, a República Popular e Democrática da Coréia comemorava o septuagésimo aniversário de seu Exército Popular, invencível no confronto com os imperialismos japonês e ianque. A política exterior norte-coreana abria, nesse ano, nova fase na construção de uma nação poderosa, economicamente forte, ao priorizar a política militar de independência contra o imperialismo. Na defesa de sua soberania, a RPDC exprime, em 2003, a intenção de dar continuidade ao fortalecimento das forças armadas revolucionárias, de prestigiar o poder e o papel que desempenham no país. As questões militares serão agora entendidas como a mais importante das razões de estado. A decisão da Coréia do Norte é a de retomar seu programa atômico, abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas nucleares (TNP), o que fez em 10 de janeiro corrente, e terminar a moratória em testes de mísseis.

Para entender essa mudança, vale lembrar que o secretário da Defesa do USA, Rumsfeld, declarou abertamente que "Os Estados Unidos estão perfeitamente capacitados a empreender simultaneamente ações militares contra o Iraque e a Coréia do Norte. Venceremos ambos, se isso for necessário".

Seria leviano considerar como pouco importantes as ameaças, desferidas abertamente pelo USA, de um ataque nuclear, ao se invocar o direito de preempção contra o que Washington considera como o "eixo do mal", isto é: Irã-Iraque-Coréia do Norte. Por isso, as autoridades norte-coreanas estimam que a reiterada e recente afirmação de Bush, segundo a qual o USA não tem intenção de atacar a Coréia do Norte, é pura hipocrisia, difundida para enganar a opinião pública e ganhar tempo para recuperar-se da crise em que se viu metido, ao declarar guerra ao Iraque. Mais ainda, afirmam que o USA está, de fato, avançando passos na preparação de uma guerra de agressão contra o país, persistentemente, deixando de lado as propostas construtivas apresentadas para a conclusão de um tratado de não agressão. As autoridades norte-coreanas denunciam que o USA tem cometido freqüentes atos de espionagem em território nacional norte-coreano, que somam a 190 evidências, somente no mês de dezembro de 2002. Entre elas, estão os reconhecimentos aéreos estratégicos de alta altitude, feitos por U-2; os reconhecimentos aéreos eletrônicos a partir das bases ianques na área e os reconhecimentos táticos sobre objetivos militares coreanos na linha de frente e ao longo da linha de demarcação militar, em coincidência com os exercícios aéreos de guerra da 7ª Frota Aérea do USA, presente na Coréia do Sul, no período de 16 a 19 de dezembro.

Segundo fontes militares, o USA mobilizou mais de 1.800 aviões em exercícios aéreos de guerra contra a Coréia do Norte, em dezembro — mais que o número de aviões envolvidos em novembro — e têm cometido atos de pirataria contra navios da marinha mercante coreana, atacados em viagens em alto mar.

Essa política hostil, que dura um ano, alcançou seu ponto alto com o envio de um emissário de George Bush a Pyongyang, em outubro passado, e o anúncio, em novembro, de que o USA adotava a decisão de acabar com o envio de suprimentos de combustível e alimentos à Coréia do Norte, a despeito do que havia sido consignado no tratado assinado entre a Coréia do Norte e o USA (Agreed Framework – AF).

A administração ianque tem paralisado, com interferências indevidas, os entendimentos de reunificação entre as duas Coréias, que se desenvolviam, até então, de maneira satisfatória. Foi assim, quando o USA obstruiu trabalhos preparatórios que alcançavam sua fase final (novembro 2002) na zona desmilitarizada. Resultantes do acordo norte-sul, essas atividades têm por finalidade possibilitar a reconexão, via estradas de rodagem e de ferro, entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Mas o USA exige, agora, uma "permissão da Comissão Militar de Armistício", para que essas atividades tenham prosseguimento. Foi assim também quando o USA pressionou autoridades sul coreanas para que fracassasse o Primeiro Encontro para a Promoção de Cooperação Econômica inter-Coréia, que se abriu em Seul. Tropas ianques de agressão estão presentes na Coréia do Sul.

Para os dirigentes da República Popular e Democrática da Coréia não restam dúvidas: "A questão nuclear, que provoca tensão na península coreana, é produto da estratégia ianque de dominação do mundo, e tenta infligir o holocausto de uma guerra nuclear na nação coreana, reclamando um ataque nuclear preventivo, depois de ter apontado toda uma série de armas nucleares para dentro e em torno da Coréia do Sul". Na atualidade, continuam fontes oficiais, "todos os países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU são possuidores de armas nucleares e Israel, como outros, as possui. Para prevenir autenticamente essa proliferação, é necessário que, antes de tudo, o USA elimine todas as suas armas nucleares", concluem.

O imperialismo ianque e a Coréia

Em 1871, três fortalezas na Coréia foram destruídas por barcos ianques, em represália ao ataque coreano que, em suas águas territoriais, afugentara as guarnições ianques. Treze anos depois, o USA, ao mesmo tempo em que desfechava um violento golpe de estado, utilizou forças japonesas para invadir a Coréia. Acordos firmados entre o USA e Japão sobre partilha de territórios permitiram o reconhecimento da ocupação japonesa na Coréia em troca da ocupação ianque nas Filipinas.

Nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho dirigido pelo marechalissimo Stálin expulsou os japoneses da Coréia e postou-se junto ao paralelo 38 da latitude Norte, impedindo o reagrupamento das forças japonesas em território coreano. Além disso, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se comprometera — desde a Conferência de Teerã, 28 de novembro a 1o de dezembro de 1943 — em fazer com que as forças japonesas se rendessem em seu próprio território, tão logo terminassem as hostilidades na Europa.

A 9 de agosto de 1945, antecipando-se traiçoeiramente aos planos de ataque ao Japão sob incumbência da URSS, o USA havia lançado sua segunda bomba atômica contra os civis japoneses, dessa vez sobre Nagasaki. E quando as forças soviéticas passaram a dominar rapidamente o exército japonês — na Indochina, a República Popular do Vietnam é proclamada a 17 de agosto — as altas patentes fascistas do Japão permitem a entrada do navio ianque Missouri na baia de Tóquio,com quem preferem assinar a ata de capitulação.

O exército ianque, que havia ocupado a Coréia, ao sul do paralelo 38, invocando instalação temporária de suas tropas, coordenou a recomposição dos círculos latifundiários e capitalistas nativos, de maneira que ficassem associados ao capital financeiro do USA. Mas, o prestígio da forças de libertação da Coréia havia crescido enormemente em todo o país, desde a luta contra o Japão. O povo, chamado a declarar a independência da Coréia e a outorgar uma constituição democrática, respondeu positivamente. Os ianques não permitiram a vigência da Constituição na Coréia meridional por eles ocupada, levando ao poder o bando criminoso de Li Synman (Rhée Sygman), em 12 de agosto de 1948, e dividindo o país em duas partes.

No dia 9 de setembro de 1948, a Assembléia Popular Superior, eleita pelo povo, em ambos os lados da Coréia, proclama a sua República Popular, aprova a respectiva Constituição e elege o governo encabeçado por Kim Il-Sung.

Em junho de 1950, o sub-governo de Rhée recebe ordens do USA de atacar a República Popular Democrática, o lado norte da Coréia. Os planos ianques foram divulgados abertamente pelos próprios círculos governamentais, que acreditavam ser possível destruir a república popular e transformar toda Coréia e Formosa (um arquipélago pertencente à China, mas ocupado pelo USA e gerenciado por Chiang Kai-shek) numa imensa base militar. Assim, os magnatas ianques pensavam que invadiriam e dominariam a China em poucos meses. Diante de tais declarações, voluntários chineses se uniram aos coreanos.

Em junho de 1953, os ianques haviam perdido mais de 300 mil homens e arrastado 700 mil soldados "aliados" à morte. No mês seguinte, foram obrigados a assinar o armistício. A chantagem nuclear não surtira qualquer efeito; a Fortaleza Voadora constituída por centenas de jatos e poderosos canhões aéreos, fora inteiramente destroçada pelos pequeninos e valentes MIGS; as armas bioquímicas; a contra-propaganda; o terror que fizeram desabar sobre a população; as torturas intermináveis; as "experiências" científicas que cometeram contra os prisioneiros coreanos e chineses, ou quaisquer outros incapacitantes que utilizaram os ianques —nada pôde deter a mais retumbante derrota.

No sul, e sob o domínio ianque, Park Chung-Hee torna-se ditador. É assassinado em outubro de 1979 e substituído por Choi Kyu Hah. O USA "pôs em alerta" 38.000 soldados que mantinha na Coréia para reprimir manifestações populares contra o governo do sul, que duravam já duas semanas. Em dezembro do mesmo ano, os ianques fizeram manobras na península da Coréia, contando com a participação de oficiais sul-coreanos egressos de longos estágios de formação na CIA. Desde então, ficou comprovado que as forças sul-coreanas possuem um comando comum chefiado por um general ianque, diretamente sob as ordens do presidente do USA. As manifestações antiimperialistas não cessam.

Ano a ano, assim vem agindo o imperialismo e assim se comporta o povo coreano.

Onde estará o grande foco de resistência?

A ação dos revisionistas, que se agigantou na URSS após o falecimento de Stalin, foi a mais poderosa arma com que o imperialismo contou para dilatar seus dias na face da terra. O conluio e a pugna marcaram, desde então, as relações entre uma URSS que retornava ao capitalismo e o USA; entre o social-imperialismo e o imperialismo. Cai em mãos de uma sofisticada repressão a aparelhagem de Estado, em cada país socialista e em cada república democrática. Os mais notáveis dirigentes são abatidos em meio a terríveis ciladas, vítimas das mais requintadas formas de extermínio de seres humanos. Em seguida, é a vez dos quadros intermediários que, eliminados, são substituídos pelos contra-revolucionários, saídos dos criatórios dos Trostkys, dos Kruschoves, dos Titos.

Mas, houve resistência e as divergências afloraram. Sobretudo duas linhas se revelaram, duas trincheiras se enfrentaram e o impostor foi vencido. O socialismo sofreu incalculáveis perdas. Porém, mal os imperialistas se apoderaram de suas últimas fábricas, fazendas coletivas, escolas, exércitos, uma nova e poderosa onda revolucionária surgiu da aparente calmaria.

É quase impossível impedir a guerra. E a bem da verdade, o inimigo apenas quer trucidar um a um os países que escolhe como presa. Marca data para exterminar o Iraque, depois o Irã, em seguida a Coréia, mas também o Laos, embora os governantes desses países afirmem aceitar acordos e tratados que mantenham desarmado o povo, que renunciam exportar livremente produtos e importar o mais essencial para a sobrevivência da população, que estão dispostos a fazer concessões insuportáveis.

Fosse apenas isso…

Porque sendo hegemônico o USA, há que dar provas constantes, em todos os continentes, que seu rugido tem mais vigor, que seus golpes derrubam mais forte e impiedosamente. Mas também precisa atacar, porque tem uma fome insaciável. É certo que os povos não confiam tanto nos governantes que, outrora, serviram de bom grado ao USA. No entanto, será menor a resistência antiimperialista por essa razão? Os governantes são contra o povo? Este terá que fazer uma revolução para derrubá-los, se quiser enfrentar com eficiência os ataques que partem do exterior. No caso do povo tolerar os governantes, esses, buscando sobreviver à ofensiva imperialista, precisarão distribuir armas e assegurar o cumprimento de liberdades democráticas para os trabalhadores. Seja como for, ao final, o velho sistema terá que ser destruído para que os povos sobrevivam e construam um mundo digno. Se o tigre não percebe que está cercado é problema dele, porque até mesmo os predadores menores já o viram cambalear e sabem que não tardará o tempo em que ficarão ao dispor de suas mandíbulas ossos grossos e uma grande carcaça para quebrar, rasgar e devorar.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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