Unimontes: Não há quem cale um “Coração Sertanejo”!

Unimontes: Não há quem cale um “Coração Sertanejo”!

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A cidade de Montes Claros, no norte de Minas, tem conhecido recentemente uma crescente onda de mobilização e luta popular: greve dos professores da rede estadual, greve dos professores e servidores da Universidade Estadual de Montes Claros — Unimontes, greve dos trabalhadores da Saúde, mobilização dos estudantes de Pedagogia contra o Reuni e a histórica luta do campesinato pela terra que tem crescido a passos largos na região.  

À frente da Associação dos Docentes da Unimontes — ADUNIMONTES, gestão “Coração Sertanejo”, a professora e mestre em Bioestatística Marise Fagundes falou à AND sobre a luta dos professores da Unimontes por melhores salários e condições dignas de trabalho. Em campanha salarial há mais de um ano, os professores deflagraram o movimento de greve no dia 16 de setembro em resposta ao descaso do governador Aécio Neves, que através da SEPLAG (Secretaria de Planejamento e Gestão) se negou a negociar todos os pontos mais importantes da pauta de reivindicação.

AND – Quais são as principais reivindicações dos professores?

Marise – Nossa principal reivindicação é a reposição das perdas salariais dos últimos 12 anos. Fizemos o cálculo da desvalorização salarial neste período e chegamos ao valor de 80%. Isto corresponde apenas às perdas acumuladas no período e nem pode ser considerado aumento salarial, mas o governo alegou ser inviável negociar este valor, não necessariamente por falta de verba, mas pelo fato de que se cedesse neste caso, estimularia outros setores a também reivindicarem aumento. Além da reposição salarial, estamos cobrando mudanças no Plano de Carreira que valorizem mais os profissionais da universidade, dando especial atenção àqueles com dedicação exclusiva. Hoje muitos professores, por causa dos péssimos salários, são obrigados a dar aulas também na rede privada, aumentando exaustivamente sua carga horária e comprometendo a qualidade das aulas dadas, isto sem falar dos riscos para a saúde física e mental desses professores. Muitos viajam para dar aula fora, nos campi avançados, enfrentando condições precárias de transporte e se expondo ao risco nas estradas.

AND – Em que pé se encontra a negociação?

Marise – Diante da recusa do governo, concordamos em baixar para 40%, sem abrir mão da tabela de gratificações para a docência que seria de 60% para os professores com dedicação exclusiva. Hoje temos 20% para mestres e 35% para doutores, índice muito abaixo das universidades federais e das principais estaduais, como a USP. Com a deflagração da greve, o governo se negou a continuar o processo de negociação, até que os professores voltem ao trabalho. Os professores, por sua vez, decidiram em assembléia que só voltam ao trabalho após a negociação. Temos sido acusados de intolerantes e impacientes por representantes do governo, mas há que lembrar que estamos em campanha salarial desde maio do ano passado e até agora nada! Além disso, em visita recente do ministro da Educação Fernando Haddad, este elogiou a Unimontes como uma das melhores universidades estaduais do país. Na minha opinião, a consideração do ministro foi otimista demais, além disso é um contra-senso, se estamos entre as melhores do país, como podemos estar entre os profissionais com pior remuneração? A tabela de remuneração dos professores foi definida em 2005 pelo Plano de Carreira; para se ter uma idéia, o valor pago a um professor especialista em início de carreira está em torno de R$ 1.300, enquanto que o salário do mestre está em torno de R$ 1.800. Portanto, o valor do salário base não difere tanto das demais instituições, o que muda é o valor e a aplicação das gratificações. Nossa luta é para conseguir um aumento real no salário-base e que este benefício alcance todos os profissionais, inclusive os que já se aposentaram. As gratificações são bem-vindas, mas estas não entram no cálculo da aposentadoria e podem ser retiradas de uma hora pra outra, sem nenhuma garantia.

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