Tem sido dito com frequência neste jornal que o mundo está abalado desde seus alicerces, sacudido de cima a baixo por uma crise sem precedentes e que atinge todos os planos: a crise geral do imperialismo. Se é verdade que isso lança as massas em ondas explosivas de revoltas e protestos em defesa de seus interesses pisoteados, também é certo que isso não significa, por si só, que elas encontrarão o caminho revolucionário.
O conhecimento das massas
Embora toda a penúria que pesa sobre as classes populares seja resultado direto da exploração e opressão que sofrem pelo imperialismo e as serviçais classes dominantes de grandes burgueses e latifundiários dos países oprimidos, as massas não podem alcançar essa conclusão fora de sua mobilização combativa na luta de classes. Como já discorreu Lenin ao combater o culto à espontaneidade, as massas populares atiçadas pelo agravamento de suas condições de vida elevam a sua mobilização em torno de seus interesses imediatos e se chocam com seus empecilhos também imediatos – no curso destas lutas chegam a elevar sua consciência de classe e identificar seus inimigos, no entanto sem ainda conseguir reconhecer a raiz de seus males.
Para Lenin, é a atuação firme do movimento revolucionário que permite o rápido salto da consciência das massas e sua participação politicamente consciente na luta de classes: de uma luta reivindicativa para uma luta política, e da consciência burguesa para a consciência proletária comunista. Ele reforça que abandonar os operários e os camponeses à luta espontânea contra os capitalistas e latifundiários – ou apenas integrá-la, sem buscar transformá-la em luta política pelo Poder – seria condená-los a um eterno conhecimento parcial da opressão e exploração que sofrem; ele destaca que as massas, enquanto presas apenas na luta reivindicativa, tendem a ver apenas as escaramuças imediatas e delas tirar conclusões empiristas, aparentemente restritas aquele local ou caso, bases ideológicas que conduzem ao reformismo na política (ou, nas palavras de Lenin, a uma “consciência sindicalista”, uma forma de “consciência burguesa”).
Para tanto Lenin chama os revolucionários a manejar um conjunto de leis do processo social do conhecimento e da luta de classes como meio de ajudar as massas a conhecer a raiz do sistema de exploração e opressão – e não apenas as superfícies do imediato – através de sua experiência direta e também do estudo. E este é o manejo correto de mobilizar para a luta reivindicativa e, ao mesmo tempo, fazer o trabalho político através da aplicação das táticas revolucionárias e da difusão da doutrina proletária combinada com o desenvolvimento da luta prática.
Economicismo
O economicismo, todavia, é um desvio que resulta da resistência à aplicação dessa brilhante política leninista. Ele despontou com importância no início do século XX, nos antecedentes do II Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR). Seu fundamento ideológico era o nascente revisionismo de Bernstein e no político defendia que o proletariado não deveria buscar a luta revolucionária pelo Poder, mas se concentrar apenas na luta reivindicativa em seu respectivo local, para arrancar melhores condições de vida. Seu resultado foi tentar sabotar a construção do Partido revolucionário do proletariado na Rússia, assim como fizeram os espontaneístas, que apelavam que os que “vinham de fora” (os revolucionários originários de outras classes que dominavam a doutrina socialista) só faziam atrapalhar o desenvolvimento do movimento operário “puro”.
O economicismo pode se expressar tanto de forma acabada – como na Rússia, que formulou uma linha –, como em desvios os mais variados, como sobrepor o tempo inteiro os interesses imediatos da luta econômica à estratégia política revolucionária; a resistência em fazer o trabalho político planificado e outros. Ter atenção na prevenção do economicismo é condição para que o próprio trabalho junto às massas obtenha êxito.
Manejo justo e correto
Apesar do risco de estar preso à luta reivindicativa, Lenin destaca que a luta reivindicativa é fundamental, pois ambas – a luta política e a luta reivindicativa – são dois aspectos da mobilização das massas. Se as massas ainda acham que as suas péssimas condições de sobrevivência são culpa apenas deste ou daquele governo, desta ou daquela fábrica ou patrão, e não veem ainda que é parte de todo o sistema social de exploração e opressão, elas só se mobilizarão para enfrentar aquilo, sendo o que podem enxergar. E, ao fazê-lo, na sucessão dos acontecimentos – e no curso deles, pelo trabalho político dos revolucionários junto delas – as massas vão fazendo suas justas abstrações, conhecendo as leis universais da luta de classes e reconhecendo os limites da luta reivindicativa e a grande necessidade da luta política revolucionária aberta pelo Poder. Só quem pode garantir essa obra, pequena e regular, porém de extraordinária importância é o destacamento avançado da classe operária.