Centenas de pessoas esperam para serem atendidas na UPA do Parque Burle
Uma das principais bandeiras de campanha da gerência Sérgio Cabral, candidato a reeleição no Rio de Janeiro, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) enfrentam sérios problemas. Filas, falta de profissionais, de insumos e vigilantes fazendo a triagem dos pacientes não são incomuns nas unidades. Apesar dos milhões de reais gastos em publicidade, a fim de demonstrar eficiência e qualidade, a realidade vivida pela população é bem diferente. A lista de carências é extensa e não há expectativa de melhora da situação.
As UPAs foram criadas pela gerência Cabral no começo de sua gestão, em 2007, como promessa de solução para a superlotação das emergências dos hospitais. Em quase quatro anos, a menina dos olhos do governo passa a sofrer das mesmas deficiências que acometem as grandes emergências.
A página do Ministério da Saúde na internet explica que as UPAs são estruturas de nível intermediário entre os postos de saúde e as emergências dos hospitais. Quem organiza o atendimento e encaminha o paciente ao serviço de saúde adequado à situação é o Serviço Móvel de Urgência (SAMU).
As unidades são construídas em conteiners alugados, às vezes em terrenos também alugados, enquanto os hospitais públicos estão desmoronando, alguns sendo fechados. Ou seja, além de não ser uma “solução” definitiva, é muito lucrativa para quem vive da especulação imobiliária e locação de bens para o governo.
Na prática, entretanto, a história é bem diferente: quem depende do serviço para ser atendido enfrenta sérias dificuldades. No município do Rio de Janeiro, por exemplo, as ambulâncias não vão a locais considerados “de risco”. Em bairros mais afastados da Zona Oeste, como Pedra de Guaratiba e o Conjunto Cesarão, em Santa Cruz, dificilmente se vê alguma ambulância circulando, apesar de haver UPAs na região.
A situação da região piorou um pouco no início de junho, quando a Casa de Saúde República da Croácia, em Sepetiba, fechou as portas. Agora, os moradores precisam se deslocar quase sete quilômetros para conseguir socorro. Pode não parecer muito, mas em um lugar praticamente sem transporte público, é uma eternidade.
Nos folhetos da campanha eleitoral, Cabral ressalta o “sucesso” das UPAs e afirma que devido a isso o modelo foi exportado para outros estados e até para a Argentina. O texto faz uma retrospectiva da saúde no estado antes da gestão atual. As emergências estavam sempre lotadas, os equipamentos obsoletos e as instalações em estado precário. Ainda segundo o folheto, foram atendidas mais de cinco milhões de pessoas nas UPAs, desafogando os grandes hospitais.
Nas emergências dos hospitais, no entanto, nada mudou. Quem precisa de socorro continua padecendo nas filas e correndo de um lugar para outro em busca de atendimento. Nos postos de saúde é preciso, na maioria das vezes, chegar na noite anterior para conseguir uma senha. Essas pessoas, barradas nos hospitais e nos postos de saúde, acabam procurando as UPAs, que a propaganda oficial faz parecer um oásis. Não são.
Em entrevista na inauguração da unidade do Fonseca, Zona Norte de Niterói, o secretário estadual de saúde, Sérgio Côrtes, declarou que as UPAs resolveram 99% dos casos desde que foram implantadas. Faltou dizer que este percentual se refere aos pacientes que conseguem juntar forças e esperar, e muito, pelo atendimento.
Num domingo, 27 de junho, Maria José Furtado, 55 anos, procurou a UPA do Cesarão, Zona Oeste do Rio. Estava com fortes dores nas costas, febre alta e tosse seca, possivelmente uma pneumonia. Esperou quase duas horas para ser atendida. De tanto esperar, ficou nervosa e precisou ser medicada, pois sua pressão estava a 17 por 10. Com a pressão estabilizada, recebeu a orientação de procurar um hospital, pois na unidade não havia pneumologistas.
O próprio monopólio da imprensa no Rio é tradicionalmente governista, porém, dá sinais de que o modelo de gestão das UPAs precisa, no mínimo, ser revisto. A reportagem do jornal “O Globo” esteve no início de julho na unidade da Praça Saens Peña, na Tijuca, Zona Norte da cidade, e constatou que a sala de espera estava superlotada. Uma estudante, que procurava atendimento para a filha de um ano e sete meses, disse ter esperado mais de quatro horas pela consulta, e não havia remédio para febre.
Em entrevista ao portal de notícias r7, a pesquisadora Lígia Bahia, do Laboratório de Economia Política da Saúde (LEPS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contestou a preferência do governo pelas UPAs. Segundo ela, apesar de as unidades não atenderem grandes emergências, nem prestarem atendimento continuado, funcionam politicamente:
— É uma marca de governo que vai ser muito explorada nas eleições. Uma solução improvisada e que não soluciona o principal problema da saúde no Rio, que é a falta de atendimento continuado para doenças crônicas.
Opinião parecida tem o presidente do sindicato dos médicos, Jorge Darze. Segundo ele, a prioridade deveria ser a medicina preventiva, o que não acontece atualmente:
— As UPAs não têm efeito resolutivo, apenas empurram o paciente para um outro médico ou hospital. A atual estrutura de medicina preventiva da região metropolitana do Rio só atende a 6% da população. Ou seja, pratica-se muito pouca medicina preventiva no estado, o que é um absurdo — afirma.
O governo estadual planeja inaugurar mais de 50 unidades, isso só em 2010. Haverá médicos em quantidade razoável e dispostos a receber o minguado salário que é oferecido (R$ 1.414,32 mensais por 24 horas trabalhadas em cada semana)? Não é preciso ser vidente para deduzir que a maquiagem eleitoral está para ser borrada. A saúde do Rio está envenenada pela demagogia e o oportunismo eleitoreiro.