Jean e Ednilson: mais duas vítimas da violência policial em favela ‘pacificada’
No dia 26 de julho, mais dois jovens foram mortos por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro. O palco dos assassinatos, dessa vez, foi o morro do Andaraí, na zona Norte da cidade, que completou dois anos de militarização dias depois do crime.
Na ocasião, Ednilson da Conceição, de 21 anos, e Jean Marlon Alves Vieira, 18, conversavam na rua quando foram abordados por quatro PMs da UPP. Segundo parentes dos jovens, policiais executaram Jean e Ednilson porque os dois estariam fumando maconha.
Moradores se aglomeraram próximo aos jovens ainda vivos e protestaram. De acordo com testemunhas, PMs usaram spray de pimenta para afastar os manifestantes. Parentes de Ednilson disseram que um dos policiais sacou uma pistola e colocou na mão do jovem.
— Meu irmão não era bandido. Ele já trabalhou na Fundação para a Infância e Adolescência. Não tinha arma com ele. Isso foi montado para incriminá-lo. Os traficantes daqui nem andam mais armados — disse a irmã de Ednilson, Dulcinéia Pereira.
— Eu já sabia da confusão mais cedo com meu irmão e fui correndo para o local. Pedia para o policial deixar eu ver quem estava caído, mas eles não liberavam. Ainda consegui ver meu irmão agonizando e se debatendo no chão. Só consegui chegar perto depois que ele parou de se mexer. Os policiais esperaram ele morrer para ter certeza que não iria mais falar nada — disse o irmão de Ednilson.
— Vi meu esposo tentando se defender enquanto os policiais atiravam. O PM ainda tirou uma arma do bolso e colocou na mão dele. Depois, guardou a arma em um saquinho para servir como prova. Foi tudo armado para parecer bandido — disse a esposa de Ednilson.
PM investigada por mortes em São Paulo
O crescimento do número de mortes em operações policiais nas favelas de São Paulo — noticiado na última edição de AND — está sendo alvo de investigações pela Defensoria Pública do estado e entidades de defesa dos “direitos humanos”.
De acordo com dados divulgados pelo próprio Estado, o número de mortes na capital cresceu 21,8% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011. Foram 586 homicídios dolosos nos primeiros seis meses de 2012, contra 482 registrados em 2011. No mês de junho, o aumento foi de 47%, com 83 casos em 2011 e 122 esse ano.
No dia 26 de julho, foi realizada uma audiência pública no auditório do Ministério Público Federal (MPF), na capital paulista, para discutir os casos de mortes “em confronto” com a polícia nas periferias de São Paulo.
— Precisa ser jogada luz nesses casos concretos. Na maior parte dos casos que a defensoria analisa, atira-se primeiro para ver depois quem morreu. E atira-se com vários tiros, invariavelmente, em regiões vitais. Não se preserva, por exemplo, a cena do crime. E há várias pessoas enterradas como desconhecidas porque nem se deu ao trabalho de catar a impressão digital da pessoa e avisar à família — disse a defensora pública Daniela Skromov de Oliveira.
— Existe uma visão de enfrentamento, de combate. Isso é uma visão que a ditadura tinha. Então, hoje a polícia é contra o povo, atira primeiro para depois ver se a pessoa era criminosa — disse o presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas.
BOPE mata criança na zona Norte do Rio
No dia 27 de julho, durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE — a mais letal tropa da PM do Rio de Janeiro — no morro da Quitanda, em Costa Barros, zona Norte do Rio de Janeiro, a menina Bruna da Silva Ribeiro, de 10 anos, foi baleada e morta. De acordo com parentes da jovem, o tiro teria partido dos policiais.
Revoltados, moradores fizeram um protesto nos acessos à favela. Cinco ônibus foram apedrejados e barricadas em chamas foram montadas nas entradas do morro. A menina foi levada para a Unidade de Pronto-Atendimento, a UPA, em Costa Barros e depois transferida para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes. Ela foi submetida a uma cirurgia, mas não resistiu.
No dia seguinte, mais de 200 pessoas estiveram no cemitério São Franciso Xavier onde aconteceu o sepultamento da menina. Parentes e amigos de Bruna desabafaram.
— Essa operação foi irresponsável, porque as crianças estão de férias, era meio-dia e tinham muitas crianças brincando na rua. Essa menina era brilhante. Inteligente, estudiosa. Muito triste o que aconteceu — desabafou o vizinho de Bruna, Edeílson de Paula.
— Eles estavam entrando toda hora. As crianças gritavam ‘lá vem o caveirão’ e corriam. A gente ficou nessa agonia o dia todo. Em uma dessas invasões, ela foi atingida. Eu entrei no meio dos tiros para tirar ela do chão. Estou sentindo uma dor no mesmo local onde ela levou o tiro. — disse a mãe da menina, Ana Ilza, aos prantos.
Faixas e cartazes com os dizeres “Bope assassino”, “Fora caveirão” e “Abaixo a UPP” mostravam a revolta das pessoas presentes no enterro com a criminosa ação da PM.