Já em julho deste ano veio a público, através de farta documentação, que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) ianque espionava e monitorava milhões e milhões de ligações telefônicas e correspondências eletrônicas pelo mundo.
As provas foram vazadas pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden, que, não concordando com a negação à privacidade para os cidadãos do mundo, entregou vários arquivos revelando os métodos da arapongagem ianque ao jornalista britânico Glen Greenwald. Consequentemente, Snowden se converteu no inimigo público número um do USA, se asilou na Rússia após dois meses retido na área internacional de um aeroporto e agora tem o destino ignorado.
Com o passar das semanas, Greenwald, em parceria com a Globo, vem divulgando à conta gotas o que contém os documentos, e mesmo assim ainda protegendo assuntos que ele considera genuinamente pertinentes à “segurança nacional” ianque. A própria gerente Dilma reclamou em público de saber dessas coisas somente através da imprensa.
Em seguida das revelações sobre a espionagem dos cidadãos, Greenwald divulgou que a NSA espionou a própria Dilma, em seus contatos telefônicos e por e-mail. No dia 8 de setembro, o jornalista apresentou slides com o conteúdo de um curso da NSA que demonstrava a invasão de sistemas de computação de empresas e governos, entre eles um ministério francês e a Petrobras. Tal fato vem a público justamente às vésperas de um grande leilão do petróleo do pré-sal, no qual concorrem petroleiras ianques.
A gerência PT-FMI não fez nada mais que manifestar insatisfação e pedir esclarecimentos ao embaixador ianque, num primeiro momento. Parecia até mais insatisfeito de tal fato vir a público do que propriamente pelo fato em si. O diplomata ianque afirmou que não havia espionagem pessoal, mas apenas a coleta de “metadados” e ficou tudo por isso mesmo.
Com o acúmulo de denúncias, Obama se dignou a comentar a divulgação dos dados com um cinismo peculiar. Disse ele que a NSA espionava para ajudar o USA a “entender melhor o mundo”.
Em encontro por ocasião da reunião do G20 em Moscou, na Rússia, Dilma teve aoportunidade de cobrar pessoalmente de Obama uma explicação convincente, mas se deu por satisfeita com uma conversa a sós, sem nem sequer uma retratação.
E assim, com a tradicional pusilanimidade das gerências semicoloniais, ficará o dito pelo não dito, e passadas as manifestações de fingida indignação tudo voltará a ser como antes.
E dizemos fingida porque, além desse jogo de cena, nada de efetivo será feito para por fim a agressões desse tipo e a intromissões nos negócios estratégicos da economia. Já nem nos referimos a uma suposta soberania ferida, porque não há soberania nenhuma em nações dominadas pelo imperialismo, com governos 100% lacaios como o do Brasil.
Hábeis em manobras diversionistas, entretanto, os cabecilhas do oportunismo eleitoreiro tratam de conduzir a discussão como se houvesse já uma ameaça ao domínio ianque não só no país, como também na América do Sul, apresentando-se como condutores desse processo, tentando ludibriar as massas enquanto entrega tudo aos monopólios imperialistas.
E que não se diga que a gerência semicolonial encabeçada pelo PT não tinha a menor ideia da arapongagem generalizada do USA. Ainda que seus defensores argumentem que Cardoso autorizou a instalação de bases ianques de acesso a informação em sua gestão, não há nada que indique que o PT tenha feito algo para reverter a autorização e expulsão de seus funcionários.
Ademais, qualquer país soberano que se preze, diante de tamanha ingerência e desfaçates, teria no mínimo rompido relações com o USA, coisa que, aliás, é urgente.