Na terça-feira, dia 22 de dezembro do ano que acaba de chegar ao fim o governador do estado colombiano de Caquetá, Luis Francisco Cuéllar, foi encontrado morto na localidade de El Salado, a 15 quilômetros de Bogotá. Tinha o pescoço retalhado.
Policiais inspecionam os destroços de caminhonete que teria sido queimada pelas FARC
O fato de ser uma autoridade e a violência empregada para tirar-lhe a vida rapidamente serviram de combustível com o qual Álvaro Uribe alimentou a contra-propaganda da direita, preparando o terreno para o agravamento da militarização do país, para a chegada de mais mercenários contratados pelo USA e para a prorrogação na Colômbia da sua gerência títere do imperialismo ianque. Para escamotear o fato de que um acontecimento como este era tudo o que ele e seus chefes ianques precisavam neste momento para aprofundar o projeto colonial batizado de “Plano Colômbia”, Uribe se fingiu de horrorizado, arrotou indignação e cacarejou revanche.
Por um lado, Uribe bufou, espumou, rosnou e anunciou uma grande operação militar contra o grupo Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, prontamente apontado pelo “governo” colombiano como o responsável pelo sequestro e assassinato de Cuéllar, apesar de as Farc negarem a autoria da ação; por outro, o clima de vingança insuflado por Uribe cria as condições para que ele se imponha ao povo trabalhador colombiano por meio de um terceiro mandato consecutivo. Trata-se de uma hipótese bastante provável, ao que tudo indica a ser confirmada por dois sufrágios farsescos no espaço de poucos meses: primeiro um referendo para mudar a constituição e permitir sua candidatura, e depois a farsa eleitoral propriamente dita, marcada para o próximo mês de maio.
Quanto à primeira instrumentalização da morte do governador de Caquetá, está claro que qualquer ampliação das ações militares na Colômbia implica na ampliação também das operações militares do USA neste nosso vizinho, tendo em vista que tanto a hierarquia quanto os soldados daquilo que hoje é referido como “exército colombiano” se confundem com o efetivo sob o comando do Pentágono destacado para a América do Sul a fim de fazer da Colômbia a base de operações das tropas do imperialismo ianque na região. Quanto ao segundo uso que a gerência Uribe pretende fazer da morte de Cuéllar, a tentativa de emplacar um terceiro mandato consecutivo seria prontamente classificada como “golpista” ou “ditatorial” caso fosse levada a cabo em países que se fingem de menos subservientes ao imperialismo, como a Bolívia, a Venezuela.
Enterro de Luis Francisco Cuéllar
Ao contrário do que os oportunistas da administração Uribe e o monopólio dos meios de comunicação tentaram fazer crer, Francisco Cuéllar não era exatamente um santo homem, o pobre civil injustamente martirizado por quatro sequestros levados a cabo pelas Farc antes de se tornar governador. Autoridade do Estado colombiano mafioso, em Caquetá ele era conhecido por financiar a guerra suja das milícias paramilitares que há décadas castiga sobretudo os trabalhadores do campo com extorsões, humilhações e mortes. No último mês de março, o governador morto chegou a responder a um inquérito em Bogotá por sua ligação com estes grupos de extermínio de camponeses pobres – grupos que os poderosos da sua estirpe fomentam a título de “combater o narcotráfico”.
Esta parte do currículo de Cuéllar foi devidamente subtraída dos obituários publicados e veiculados pelo monopólio da imprensa, inclusive pelas empresas de comunicação que compõem o seu braço no Brasil, para que o cadáver do governador da província de Caquetá servisse aos planos do imperialismo ianque e do seu maior lacaio em nosso continente, Álvaro Uribe. Na Colômbia, esta dobradinha arraigada entre as classes dominantes podres locais e o complexo militar-industrial do USA vem levando o país a se afundar na precariedade de todas as esferas da vida, com a insegurança tomando conta de cada parte do cotidiano do povo, com fome, pobreza, desemprego e indigência. Lá o único indicador que Uribe consegue fazer subir é o dos trabalhadores colombianos assassinados por paramilitares, fazendeiros, mercenários e soldados treinados por staff estrangeiro.