Quando da campanha eleitoreira daquele que viria a ser o mais novo chefe do USA, Barack Obama, muito se falou de uma suposta mudança da política externa ianque para com a América Latina.
No âmbito do maquetagem da “mudança” vendida ao mundo, da nova doutrina imperialista — a doutrina Obama, de tentar dar aparência branda para a mais selvagem exploração das semicolônias — o que se bufou desde o comitê de campanha de Obama foi que a futura administração do USA daria mais atenção aos “vizinhos do sul”, como se os povos latino-americanos estivessem algo como sentindo sua falta, por assim dizer. A “promessa”, entretanto, para os menos incautos jamais soou como outra coisa senão como ameaça.
A atenção dada pela Casa Branca ao continente americano, de fato, aumentou em comparação com a administração predecessora, a de Bush. Mas a lógica desta espécie de recrudescimento das relações chamadas pelos demagogos de “fraternais” não significa qualquer espécie de benefício para os países dominados da região, mas obedece, isto sim, à lógica dominante da administração Obama, que é a de ser ainda mais feroz do que Bush nas ocupações militares e na rapina semicolonial, mediante a promoção dos seus monopólios, e não obstante a nova maquiagem do bom-mocismo ianque.
É neste sentido que caminham os arranjos de todo tipo, dos acordos militares aos tratos comerciais, que vêm sendo fechados entre a administração Obama e as classes dominantes nativas da América Latina. Quanto aos acordos militares, eles vêm sendo fechados sempre sob a versão local para o pretexto de “combater ameaças”. Desta forma, se no Oriente Médio e na Ásia Central — e cada vez mais na África —, o “terrorismo” serve como mote para o espraio de invasões criminosas, assassinatos e ingerências de toda sorte, por aqui a desculpa do “crime organizado”, que de organizado tem muito pouco, ganha corpo na medida em que ganha corpo a presença militar do USA de norte a sul do continente, inclusive com agressões já em curso. O caso pontual mais recente é o da Costa Rica.
Cartéis vende-drogas ou oligarquias vende-pátrias?
Como parte de sua ofensiva sobre a América Latina, até o final deste ano o USA vai estacionar na Costa Rica um total de sete mil militares, entre soldados e oficialidade, dois submarinos, 200 helicópteros e 10 aviões de combate, além de 46 navios de guerra, entre os quais o porta-aviões USS Making Island, que tem capacidade para transportar mais de 100 oficiais e quase 1.500 fuzileiros navais. As tropas ianques gozarão de total liberdade de ação e não ficarão sujeitas às leis do país.
A gerência costarriquenha, recentemente renovada e ora encabeçada por Laura Chinchilla, é assim mais uma a dar ao imperialismo tudo o que o imperialismo gosta, a título do “combate às drogas”, a exemplo do que já vem sendo feito há tempos na Colômbia. O país caribenho, que não tem exército desde 1948, agora permite a entrada e a operação de forças armadas estrangeiras em seu território. Forças armadas de uma potência amiga de suas classes dominantes, mas inimiga do seu povo.
A autorização a esta ocupação branca foi dada pelo Congresso da Costa Rica no último dia 1º de julho, mas Chinchilla foi levada à chefia da semi-colônia com apoio ianque e com uma campanha que teve como mote exatamente o combate ao “narcotráfico”. Cabe observar que se fossem mesmo necessários submarinos e centenas de helicópteros para dar conta de traficantes, todo o continente latino-americano já estaria sob o jugo de cartéis vende-cocaína, e não de suas podres oligarquias vende-pátrias.
O que existe de fato é jardinagem militar naquilo que os ianques jamais deixaram de considerar seu “quintal”. Planta-se efetivos armados América Latina afora em um contexto no qual rufam os tambores de mais uma grande guerra imperialista. Hillary Clinton acaba de realizar uma longa viagem de conchavos pelo continente. Há planos de instalação de novas bases do USA no Brasil e no Peru. Por aqui, como em qualquer outro canto do mundo, tudo acaba virando oportunidade para a militarização. Ou não foi isso o que aconteceu quando Obama mandou 20 mil soldados para reforçar a ocupação do Haiti na sequência do terremoto?