No apagar das luzes de 2010 o Congresso do USA aprovou o orçamento militar ianque para 2011: nada menos do que US$ 708 bilhões para o Pentágono se estruturar, equipar-se, planejar e levar a cabo as ofensivas imperialistas ao redor do planeta. Os recursos são 6% maiores do que o último orçamento militar sancionado pelo então presidente George W. Bush, e 3,5% maiores do que o montante destinado à máquina de guerra sob o comando de Obama no ano passado.
Uma organização baseada na Suécia chamada Instituto de Investigação da Paz fez as contas e constatou: os recursos disponibilizados pelo USA para alimentar sua máquina de guerra correspondem a quase metade (43%) dos orçamentos militares somados de todos os outros países do mundo – seis vezes mais, por exemplo, do que gasta o Estado fascista chinês, de pretensões imperialistas.
Entre o orçamento total, US$ 160 bilhões estão vinculados por lei ao financiamento de “intervenções militares no exterior”, sendo que a maior parte vai para a “Operação Liberdade Duradoura”, epíteto macabro da sangrenta ocupação imperialista do Afeganistão, para onde Obama vai mandar mais 1.400 soldados até março, a despeito da contrapropaganda da Casa Branca segundo a qual o USA começará a retirar seus homens do território afegão neste ano que se inicia.
Também estão previstos no orçamento do Pentágono para 2011 os custos de uma nova geração de aviões não tripulados que deverão entrar em funcionamento também no Afeganistão, cuja fronteira com o Paquistão deve receber o reforço de mais 30 mil soldados invasores.
Cerca de US$ 75 milhões estão reservados para treinar e equipar grupos militares no Iêmen, país que se afigura como o palco provável de uma nova ocupação estratégica por parte do USA, sob o pretexto de sempre: “lutar contra grupos insurgentes”. Outro montante tem como destino a modernização do arsenal nuclear ianque. É a maior potência militar do planeta se preparando para a guerra, que pode não estourar amanhã ou depois, mas é o desaguadouro natural das contradições imperialistas.
O império e seus espasmos de moribundo
A grande novidade da gastança militar do USA em 2011, entretanto, é com o chamado Comando Cybercom. Trata-se de um amplo programa de controle de conteúdo da internet por meio do qual tudo o que for considerado perigoso na rede mundial de computadores para a “segurança nacional” do USA será imediatamente censurado desde Washington.
O Comando Cybercom é reflexo direto das revelações trazidas a tona pelo site WikiLeaks sobre as atrocidades cometidas principalmente pelo imperialismo ianque no Iraque e no Afeganistão e sobre as manobras diplomáticas e militares entre o USA e outros países que, como já se suspeitava, constituem-se de fato como postos avançados de um emaranhado internacional de espiões e sabotadores munidos de passaportes diplomáticos. O fundador do site, o australiano Julian Assange, periga ir parar na prisão de Guantánamo, que por sinal Obama não desativou.
Toda esta movimentação militar, constituindo-se em verdadeiros preparativos para a guerra, é o complemento previsível para a bancarrota da economia capitalista em geral, e da economia capitalista ianque, em particular. O jornal Washington Post alertou recentemente para o risco iminente de quebradeira para mais de cem bancos do USA. Uma em cada seis pessoas que vivem por lá está na miséria. A administração Obama corre o risco de ficar paralisada caso o Congresso não aumente ainda mais o já astronômico limite para o endividamento público.
O imperialismo se debate em agonia e, em meio aos seus espasmos de moribundo, agudizam-se as contradições com potências econômicas e militares em ascensão. Não por acaso a primeira missão internacional do secretário de Defesa ianque, Robert Gates, em 2011 foi ir pessoalmente à China para “convencer os chineses a manterem um diálogo militar permanente” para o caso de ser preciso agir diante do agravamento das contradições.
A China, em todo caso, realizou o voo inaugural de um avião de combate que vem preocupando o USA exatamente durante a visita de Gates a Pequim. Rufam os tambores!
Obama, sanguinário, cobra respeito à vida
Na noite em que os chefes da China revisionista e do imperialismo ianque sentaram-se à mesma mesa na Casa Branca, em Washington, para um “jantar de gala” e de refestelo pelos bons negócios firmados entre os capitalistas de ambos os lados, a demagogia foi o prato principal – a demagogia que dá o tom das provocações que o USA vem dirigindo a diversas nações do planeta, fazendo rufar os tambores da guerra, que é o desaguadouro natural da crise geral de superprodução que ora assola a economia imperialista.
Obama, cujo “desempenho” à frente das agressões imperialistas pelo mundo mostram que ele já é mais sanguinário do que o próprio Bush, seu antecessor, virou-se para o “presidente” chinês Hu Jintao e disse: “A História mostra que as sociedades são mais harmônicas, as nações são mais bem-sucedidas, e o mundo é mais justo quando os direitos e as responsabilidades de todos os países e todos os povos são cumpridos, incluindo os direitos de cada ser humano. O USA vê os direitos humanos como um valor universal, até mesmo para a China”.
Certo: a China está longe de ser o Estado popular que seus dirigentes revisionistas proclamam ser. O arrocho das massas e a repressão contra o movimento operário classista, bem como o trabalho escravo nas olarias e em fábricas de produtos para exportação são verdadeiras políticas públicas da restauração capitalista.
Entretanto, a empáfia com que Obama se apresenta como paladino da vida e se esmera na contrapropaganda imperialista da “exportação da democracia” só é possível porque há aqueles que fazem essa contrapropaganda ecoar, como os que conferiram ao chefe de turno do imperialismo ianque, responsável pela prisão de Guantánamo, pelas atrocidades no Iraque, pelos assassinatos no Afeganistão e pela limpeza étnica na Palestina, nada menos do que o prêmio Nobel da Paz.