Os primeiros meses do governo de Luiz Inácio demonstram um presidente acuado por todos os cantos. Por um lado, foi eleito com apoio da grande burguesia e grande parte do latifúndio (todos os grandes do “agronegócio”), com beneplácito explícito da embaixada do USA e de Biden (imperialismo ianque); por outro, também foi eleito porque prometeu “mundos e fundos” para as massas e aos movimentos sociais cooptados, de que reverteria os sintomas da destruição dos direitos laborais e da “reforma agrária”. Acendeu vela a deus e ao diabo, mas não tem como servir aos dois. Agora, precisa se equilibrar, com palavrório e medidas cosméticas à “esquerda” e às massas para encabrestar e arrefecer sua ira, e com acenos à direita e às classes dominantes de que isso é necessário para estabilizar o regime político e, logo, evitar o caos social.
Basta ver a questão agrária. Enquanto faz jogos de cena contra o agronegócio e posa como defensor da “reforma agrária” no País, Lula nomeou como ministro da Agricultura Carlos Fávaro, presidente da Associação de Produtores de Milho e Soja (Aprosoja) do Mato Grosso. Ninguém tem dúvidas sobre qual seja a opinião do mesmo sobre as tomadas de terra em curso no País. Para se ter uma ideia, o ex-presidente dessa associação, antes de Fávaro, foi alvo de busca e apreensão, em agosto de 2021, por insuflar o movimento golpista da bolsonarada clamando aos generais pela intervenção militar.
Já o Ministério de Desenvolvimento Agrário, que passou a responder pela falida “reforma agrária”, em dois meses do governo não apresentou um plano, retórico sequer, para esse problema crucial do País. Em face disso, até mesmo a direção nacional do MST – quem atribuiu a vitória de Lula como “estratégica” para “derrotar o agronegócio” – fez críticas e disse que “se acende o sinal amarelo” para o governo. O reajuste do salário mínimo, de tão mirrado, também despertou críticas da CUT. Quando os próprios movimentos cooptados pelo governo chiam, é um mau sinal.
Mas o equilibrismo perigoso de Luiz Inácio não se resume à “reforma agrária” e aos direitos trabalhistas. Enquanto criticou, por anos, o “teto de gastos” criminoso imposto durante o governo Temer, e disse que iria revogá-lo, uma vez no governo só fará mudá-lo de nome e de forma, seguindo estritamente o conteúdo do receituário do mercado financeiro. Em entrevista à CNN, Lula afirmou: “A gente não pode gastar mais do que ganha”, o que é óbvio e parece responsável; mas absolutamente nada disse sobre 50,8% do PIB que, em 2023, serão destinados a amortizar os juros da “dívida” imposta pela oligarquia financeira e o saque que esta promove aos cofres da Nação.
E o que falar da aliança com Arthur Lira, e o mesmo congresso a quem responsabilizou, junto a Bolsonaro, pelo maior caso de corrupção da história na forma do orçamento secreto? E a ausência completa de punição aos altos oficiais, da reserva e ativa, que participaram ou colaboraram com a bolsonarada de 8 de janeiro?
Alguns dirão: mas isso é necessário para que ele governe! Sim, mas é precisamente esse o problema; quem se dispõe a administrar esse velho Estado, se dispõe também a servir como gestor dos interesses, econômicos e políticos, da reação, e deve ser desmascarado enquanto tal. Do contrário, parte das massas continuarão sendo presas ‘fáceis, permanentemente, do demagogo de plantão. Lula não só é comprometido como já é um experiente prestador de serviço – e voltará a demonstrar isso, crescentemente, neste seu terceiro mandato.