A Organização Política Reaja ou será Morta, Reaja ou Será Morto (Reaja), em seu 14º ano de compromisso com a luta contra o genocídio do povo negro, levou às ruas de Salvador, na comunidade do Engenho Velho de Brotas, a VI Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro, ocorrida dia 22 de agosto.
Manifestantes exigem fim do genocídio do povo preto
A mobilização anual, como dito pela própria organização “convoca todas as pessoas pretas a marcharem por suas vidas, politizarem seus mortos e criarem coletivamente estratégias de enfrentamento contra o ódio que se tem ao povo preto nesse país”.
A VI Marcha contou com pessoas da comunidade: pais, mães, jovens, além das crianças da Escola Winnie Mandela (EWM), que há três anos forma meninas e meninos pretos para a luta. É na EWN onde as crianças da comunidade do Engenho Velho de Brotas recebem aulas de artes marciais, educação básica e, principalmente, formação política através de figuras da luta anticolonial.
As crianças formaram a tradicional “Coluna Uhuru”, conduzindo a marcha e apontando o horizonte a se ganhar. Para a Organização Reaja, “as crianças são continuidade, a garantia de uma permanência na forma de ação quilombista que se constrói desde que o primeiro africano e africana pisou nesta terra”. Crianças de 6 a 14 anos, com responsabilidade, garantiram que as ruas do Engenho Velho de Brotas permanecessem como território de politização e luta, com a seriedade de um povo que sabe o que quer e onde quer ir.
Ao final da VI Marcha, as crianças da EWM, enfileiradas, fizeram uma combativa declaração chamada “Uma promessa pelo povo negro”, na qual prometem lealdade, afastar-se do uso de entorpecentes e colocar todo o vigor físico e mental para proteger e lutar pela libertação do povo.
A Organização Política Reaja relata que visa “mostrar ao povo que além das guarnições da polícia militar, a educação defasada, a saúde inacessível, o esgoto a céu aberto, a falta de saneamento e calçamento, as drogas lícitas e ilícitas e os bares são ferramentas do adoecimento físico e mental que fazem parte de um complexo sistema de aniquilação do povo”.
Terror policial
A população preta e pobre vive na Bahia, mas não somente nela, sob um estado de completo terror. Nos últimos anos o que se viu foi a construção de um império policial que organiza Salvador tanto oficialmente com investimentos gigantescos em uma segurança pública pautada em táticas de abordagens truculentas, revanchismo e extermínio do povo, quanto extraoficialmente com os grupos de extermínio e paramilitares que se articulam local e nacionalmente.
Segundo levantamento divulgado pelo G1, em 2017 foram contabilizados 726 mortos em decorrência de ação policial no Estado, e em 2018 esse número aumentou para 797 mortos, é o terceiro estado com mais números de mortos, e, por proporção de habitantes, com uma taxa de 5,4% a cada 100 mil habitantes, a quinta maior taxa do país superando o Estado de São Paulo onde esse número é de 1,9% a cada 100 mil.
Nos últimos doze anos os cargos de direção prisional foram ocupados por militares ou ex-militares, o crescimento exponencial da população prisional que já atinge 15.660 (dados de 2019) acompanhado pelo fechamento de aproximadamente 200 escolas no estado revelam bem o caráter das políticas que o governo Rui Costa (PT) tem adotado.