Vietnã: A derrota que os ianques não esquecem

Vietnã: A derrota que os ianques não esquecem

Neste mês de dezembro, comemora-se o 44º aniversário de criação da Frente de Libertação do Vietnã do Sul, que desenvolveu a guerra popular anti-imperialista. A Frente protagonizou uma das lutas mais exemplares da história contemporânea, infringido ao USA uma das derrotas mais humilhantes de sua trajetória.

Terminada a 2ª Grande Guerra, as potências imperialistas tiveram de lidar com os diversos movimentos de libertação nacional que pipocavam em suas colônias já desde antes do fim do conflito mundial. A região da Indochina, no sudeste asiático, vivia sob o domínio do imperialismo francês. Durante a Guerra, os japoneses ocuparam a área, promovendo com isso um efeito paradoxal: ainda que os novos invasores também se mostrassem tão cruéis quanto os ocidentais, o fato de se tratar de um povo oriental estimulava a luta pela independência, pondo por terra os mitos racistas de superioridade européia.

Os franceses tentaram restabelecer os laços coloniais no sudeste asiático ao fim da Guerra. Na resistência, Ho Chi Minh desempenha importante papel ao liderar a Liga para a Independência do Vietnã (Vietminh), que ocupa Hanói em 2 de setembro de 1945. É fundada a República Democrática do Vietnã. Em resposta, cria-se, com apoio da França, o Estado do Vietnã (Vietnã do Sul) em 1° de julho de 1949. Em dezembro de 1949 começa o conflito com a França. Inicia-se assim a epopéia de resistência do povo vietnamita, que infringe o primeiro golpe ao imperialismo ocidental em maio de 1954, quando vencem os franceses na batalha de Diem Biem Phu.

A Conferência de Genebra, convocada no mesmo ano para negociar a paz na Indochina, reconheceu a independência do Camboja, Laos e Vietnã. Todavia, o Vietnã se dividiu em dois, a partir do paralelo 17: o norte era socialista, sendo representado pela República Democrática Popular do Vietnã, liderada por Ho Chi Minh, com capital em Hanói; o sul, neo-colônia capitalista, era formado pela República Democrática do Vietnã, comandada por Ngo Dinh-Diem — um títere do imperialismo ianque— com capital em Saigon. De acordo com a conferência em Genebra, tal divisão seria provisória e a reunificação deveria acontecer em 1956.

Passando por cima do acordo de Genebra, o Vietnã do Sul não realiza as eleições previstas. A guerra entre os dois Estados foi deflagrada. Em dezembro de 1960 é criada a Frente de Libertação do Vietnã do Sul, da qual germinou a guerrilha que assombrou o mundo ao derrotar o “invencível” exército ianque. Já o regime títere do sul passa a contar com a colaboração de consultores ianques enviados pelo presidente John Kennedy.

Fortalecido com o fim da 2ª Grande Guerra Imperialista, o USA surge como maior potência militar e substitui os nazistas alemães no papel de principal força imperialista e anti-comunista. Com o intuito de assenhorear-se da Indochina, os ianques operam a ingerência no processo de libertação daquela região, dominada pela França até pouco tempo antes.

Só não contavam com a tenaz e abnegada resistência do povo vietnamita, que reuniu em uma frente única os setores democráticos de sua sociedade e, armado com bambus e armas tomadas do inimigo, infligiu uma fragorosa derrota ao imperialismo e às classes que o sustentavam internamente. Em 1964, Lyndon Johnson, sucessor de Kennedy, alegou que navios estadunidenses haviam sido atacados pelo Vietnã do Norte. O pretexto serviu para a intervenção militar. Começava a participação ianque no conflito da Indochina, que se prolongaria até 1975 (11 anos de guerra).

Em seu livro A guerrilha vista por dentro, o jornalista australiano Wilfred G. Burchet relata, entre outras coisas, como, a partir de uma velha carabina enferrujada, os guerrilheiros vietnamitas conseguem equipar todo um batalhão. Destaca ainda a maneira com eram tratadas as questões nacionais, as bases de apoio, a relação com os prisioneiros, a destruição do latifúndio nas áreas libertadas, mostrando sempre a superioridade da moral do exército do povo em contraste com a degeneração do exército pró-imperialista.

Em 1965, os invasores iniciaram a ofensiva aérea sobre o Vietnã do Norte. Durante os seis primeiros anos, o povo vietnamita sofreu intensos bombardeios. Principalmente sobre Hanói foram lançadas bombas de alto poder de destruição. No sul, agentes químicos foram derramados sobre as florestas, numa tentativa de retirar o abrigo dos guerrilheiros. Boa parte dos rios do país foi contaminada pelo agente laranja e as plantações de arroz foram envenenadas por décadas.

Na campanha presidencial, Richard Nixon, diante da pressão popular, disse que traria “os rapazes de volta”. Eleito, não cumpriu a promessa, combinando a retirada gradual com pesados bombardeios sobre o norte e com intervenções militares no Laos e Camboja, visando eliminar as “trilhas Ho Chi Minh”, usadas pelos guerrilheiros.

No iníco de 1968, a guerra popular conseguiu importantes vitórias por meio da “ofensiva do Tet” (ano-novo vietnamita). As principais cidades do sul foram tomadas. Mesmo com o investimento de mais de 250 bilhões de dólares e uso de material bélico condenado pelas Nações Unidas — bombas químicas de alto poder destrutivo e a desfolhante napalm—, os USA não foram páreo para a bravura do povo vietnamita.

Em 1973, os Acordos de Paris estabelecem a retirada dos ianques do conflito na Indochina. Era o término oficial da Guerra do Vietnã, que marcou uma das mais contundentes derrotas do USA. Contudo, o conflito entre os militantes da Frente de Libertação do Vietnã do Sul e os sul-vietnamitas pró-ianques continuaram até 30 de abril de 1975, quando Saigon foi dominada pelas tropas do Exército Popular. Horas antes, centenas de helicópteros ianques retiravam da capital os últimos remanescentes que colaboraram com o USA. É célebre a imagem que retrata os últimos ianques fugindo, desesperados, no teto da embaixada do USA, se agarrando aos patins dos helicópteros lotados, enquanto o Exército Popular libertava Saigon. O país se reunificava sob o regime socialista, passando a se chamar República Socialista do Vietnã.

O total de vítimas não é preciso, variando entre 1,5 milhão a 2 milhões de vietnamitas mortos, entre militares e civis. Os mutilados ultrapassaram a marca do meio milhão. Além disso, o presidente ianque Ronald Reagan (1980-88) passou por cima dos Tratados de Paris e suspendeu a ajuda financeira para a reconstrução do país.

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