Vila Bandeira Vermelha: 10 anos

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Vila Bandeira Vermelha: 10 anos

A história viva da luta do povo

Em abril último, na cidade de Betim — MG foi recordada a data em que o Brasil recebeu um baque que não era sentido desde os acontecimentos de Corumbiara e Eldorado dos Carajás. A batalha da Vila Bandeira Vermelha ocupou os editoriais raivosos dos principais jornais impressos e televisivos, revistas e rádios, não houve pauta que não mencionasse os "guerrilheiros de rostos tapados", que não espumasse de ódio e pavor das famílias que enfrentaram mais de 200 policiais e mediram forças: paus, foices e ferramentas contra balas. A luta campal daquelas famílias pobres ganhou o mundo. As organizações combativas de luta foram alvo da sanha reacionária do velho Estado. Sindicatos, organizações populares, democratas, todos se uniram para defender as famílias em luta. No confronto, tombaram dois operários, Elder Gonçalves de Souza e Erionides Anastácio dos Santos. As famílias da Bandeira Vermelha resistiram ao cerco e venceram, conquistaram a moradia.

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A Vila Bandeira Vermelha: uma vitória operária contra o velho Estado

A Vila Bandeira Vermelha é um acontecimento histórico. Seu heroísmo não é um capítulo passado ou apenas uma memória, ele circula no sangue e na fala viva das famílias que vivem hoje em um dos terrenos mais valiosos do país. Não há especulação imobiliária ou luxuoso condomínio burguês que valha um tijolo daquelas casas de operários e trabalhadores, as sólidas casas da Vila Bandeira Vermelha.

Nesses 10 anos, todo o dia 26 de abril é celebrada a vitória das famílias da Vila. Foi nesse dia que, em 1999, a prefeitura de Jésus Lima-PT ordenou um truculento ataque policial contra os acampados, o que desencadeou heróica resistência.

Neste ano, uma grande celebração foi preparada pelas famílias da Vila e pelos movimentos que a apoiaram desde a tomada do terreno. A Luta Popular pela Moradia — LPM, Movimento Feminino Popular — MFP, Liga Operária, Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo, Frente Cultural, União Colegial de Minas Gerais, Movimento Estudantil Popular Revolucionário, entre outros prepararam cartazes, panfletos recordando a luta, atividades culturais e um vídeo com a história e depoimentos sobre os 10 anos de luta da Vila Bandeira Vermelha.

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Crianças da tomada

A celebração dos 10 anos se iniciou com o hino A Internacional. Em seguida foi exibido o vídeo histórico dos 10 anos de luta. Com atenção e curiosidade as famílias acompanharam cada cena em silêncio. Durante meia hora os moradores da Vila reviveram toda sua história. "A nossa luta é viva! Essas casas são motivo de orgulho para todo o povo. Conquistamos nossa moradia com nossas próprias forças. A Vila Bandeira Vermelha está cravada em Betim e o Estado estremece diante da nossa vitória", agitou Cícero de Souza, morador da Vila e operário da construção civil.

Personagens e fatos marcantes da luta

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Elder e Erionides, heróis da batalha

O operário Elder filmou toda a ação policial, foi atingido com a câmera em punho, registrou cada instante até a sua queda com um tiro assassino no joelho e outro no abdômen. Erionides, ao socorrer uma companheira que levara um tiro no joelho, foi assassinado covardemente com um tiro nas costas.

— A repressão, longe de fazer recuar a luta do povo, gerou uma revolta muito grande. As famílias não abaixaram a cabeça, continuaram lutando. Esses companheiros são mártires da luta do povo — disse Gerson Lima da Liga Operária, apoiador da tomada.

— A gente levantava os paus, foices e facas, dizendo aos policiais: "Daqui a gente não sai! Não temos onde morar!" A organização era muito forte. Elder e Erionides morreram, mas para a gente eles estão vivos, não esqueceremos nunca. A nossa casa custou a vida deles. Essa casa vai ficar pros meus filhos e netos, mas nunca devemos abrir mão dela — disse emocionada a Sra. Anésia, que conquistou sua casa no bairro Teresópolis em Betim.

— Jésus Lima, aquele assassino, nunca pisou por aqui. Era do PT na época, um demagogo que dizia ajudar o povo sem casa, mas era só discurso para ganhar voto. Ele quem ordenou os policiais e é o mandante desse crime contra Elder e Erionides. Nós não esqueceremos disso — declarou o operário Cícero.

Um combativo e indignado protesto carregou o caixão de Erionides até a prefeitura de Betim. Os moradores revoltados destruíram a fachada de vidro da prefeitura e fizeram o velório de Erionides no salão do prédio.

No dia seguinte ao conflito a cidade de Betim amanheceu marcada com dezenas de pichações: "Jésus Lima Assassino".

— Não devemos esquecer como conquistamos essas casas. As crianças de 10 anos atrás estão grandes, e hoje temos novas crianças na vila, que nasceram tendo onde morar. Na nossa vila não somos somente moradores, ou vizinhos um dos outros, somos companheiros — disse a Sra. Marsonília, moradora da vila.

— Eu pagava aluguel na época, um barracão de dois quartos cheio de ratos. Tinha mês que eu nem sabia como ia pagar o aluguel. Vi o panfleto do LPM chamando para a tomada e fui ver como era. No começo eu achei estranho ver todo mundo com a cara tapada, mas depois eu vi que era necessário para nos proteger. Decidi que meu caminho era junto com aquelas famílias que lutavam. A gente não acreditava em candidatos, em políticos safados — disse no vídeo a Sra. Deise, também moradora da vila.

O povo não esquece sua luta

Uma saraivada de fogos de artifício explodiu com a conclusão do vídeo. Os moradores da Vila Corumbiara, um outro terreno conquistado por famílias da região do Barreiro em Belo Horizonte, há 13 anos, foram até a celebração e apresentaram um teatro dirigido pela Frente Cultural. O teatro conta a luta e resistência da Vila Corumbiara contra a tentativa da prefeitura de trocar seu nome por outro. A encenação narra a luta por reafirmar que a Corumbiara segue o exemplo da luta camponesa e que não abre mão de sua história de resistência.

No encerramento, o LPM exaltou a continuidade da luta e a necessidade de manter firme a organização das massas para defender o que é seu e destruir o velho Estado, construindo um Poder Popular, uma Nova Democracia.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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