Vila Quaxime: Moradores são expulsos pela prefeitura do Rio

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Vila Quaxime: Moradores são expulsos pela prefeitura do Rio

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Moradores resistem à remoção bloqueando a entrada da Vila Quaxime

Na manhã do dia 13 de abril, 28 famílias que viviam na Vila Quaxime, em Madureira, foram atacadas pelas tropas do prefeito Eduardo Paes em mais uma ação de despejo na zona norte da cidade. Os moradores, alguns no local há 30 anos, resistiram à operação e se negaram a sair do local. Segundo eles, nada além do famigerado aluguel social lhes foi oferecido pelos gerenciamentos de turno como alternativa habitacional. A covarde ação da prefeitura é parte do projeto para a construção do corredor expresso de ônibus (BRT) Transcarioca, que ligará a Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, ao aeroporto internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. O projeto é uma exigência do Comitê Olímpico Internacional e da Fifa para a realização da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas no Rio de Janeiro.

Era uma bela tarde de sexta-feira no tradicional bairro de Madureira, subúrbio carioca, quando um oficial de justiça, acompanhado de representantes da prefeitura, entregou aos moradores da Vila Quaxime uma notificação dando-lhes um prazo de três dias úteis para que deixassem o local. Segundo o oficial de justiça, o terreno é particular e o suposto proprietário —  apesar de estar há 40 anos sem pagar impostos imobiliários —  já teria sido indenizado.

Revoltados, os moradores procuraram o Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio. Por  meio de uma liminar, os defensores tentaram, sem sucesso, impedir a ação e, poucos dias depois, dezenas de agentes de repressão do velho Estado já enfileiravam-se na entrada da Vila Quaxime para o despejo dos cerca de cem moradores.

Contudo, as famílias decidiram resistir e passaram a madrugada bloqueando o portão de acesso à vila com pneus e entulho. Outros moradores faziam um cordão humano para impedir a passagem da polícia, que o tempo todo ameaçava prender aqueles que resistissem.

Vencidos pelo cansaço

Depois de muita luta e resistência ao jogo sujo dos cães de guarda do prefeito Eduardo Paes, os moradores aceitaram sair em troca dos cheques do aluguel social. A prefeitura garantiu aos moradores que só iria intervir nas casas depois que os cheques fossem entregues. Contudo, a mobília dos moradores foi retirada e até o fim da noite nem um centavo havia sido pago pela prefeitura.

A prefeitura poderia muito bem dar um prazo maior para nós sairmos. Eles nos deram apenas três dias úteis após a comunicação judicial. Eles nos avisaram em uma sexta, para até quarta nós arrumarmos um lugar pra morar, sem dinheiro, sem tempo, sem nada. Nós não temos nenhuma garantia. Nós estamos saindo, mas o cheque ainda não chegou. Eles querem que a gente coloque as nossas coisas no caminhão, mas não temos dinheiro nenhum ainda e não sabemos nem ao menos para onde vão levar nossas coisas — disse o morador Rogério da Costa, de 48 anos.

Nós não invadimos esse terreno. Nós adquirimos esse imóvel com a credibilidade da prefeitura, pois financiamos ele através da Previ-Rio. Eu estou indignado com tudo isso que está acontecendo. Minha esposa é funcionaria da prefeitura. Onde está a responsabilidade da Previ-Rio com o seu segurado? Onde está a responsabilidade da prefeitura com o cidadão? Esse é o maior descaso que eu já vi acontecer — reclama Rogério.

Acordo descumprido

Depois que operários e funcionários da Comlurb (empresa de saneamento urbano da cidade do Rio) entraram na Vila Quaxime para retirar os pertences dos moradores, outro conflito começou. A prefeitura descumpriu o acordo inicial com os moradores — de que somente após o pagamento dos cheques as casas seriam descaracterizadas —  e ordenou aos funcionários da Light que desligassem a energia e aos operários que destruíssem as ligações de água. Os moradores protestaram, mas, nesse momento, já não havia nada a ser feito para barrar a ação dos encarregados da prefeitura.

Nós tínhamos um acordo, mas não tem como fazer acordo com esses cachorros. Eles mentem, dividem os moradores, jogam o jogo mais sujo possível para conseguir o que querem. Só neste país um sujeito de má-fé desses ganha tanto poder e autoridade. O Eduardo Paes só serve para ser prefeito do inferno. Esse homem é muito mal. Tenho 69 anos e nunca vi uma coisa dessas acontecer — dizia um senhor vizinho a Vila Quaxime e solidário a resistência dos moradores. Com medo, ele não quis se identificar.

Eu acho que eles tinham que ter programado uma coisa certa e não tirado a gente daqui dessa maneira. Eles tinham que ter conversado com a gente dignamente. Na época da eleição, o Eduardo Paes vai entrar aqui, vai beijar leproso, cachorro, mas agora vê se ele entra aqui para ver o nosso problema. O rapaz da prefeitura falou lá fora: ‘vocês vão ter que sair e dar o jeito de vocês para arrumar onde morar’.  Agora é assim? Tudo o que a gente construiu, tudo o que a gente fez, o patrimônio que nós lutamos para dar aos nossos filhos, vamos perder tudo assim? Teremos que jogar tudo no lixo? — pergunta a moradora Roselaine Carneiro, de 25 anos, grávida de oito meses.

É muito triste ter que sair daqui. Eu fui nascida e criada nesse lugar, passei por todas as minhas alegrias e tristezas, todos os momentos da minha vida. Nós temos uma história aqui. Nossos filhos têm escola, hospital, tudo. É triste sair daqui e ir para um lugar que a gente não conhece — lamenta.

PM ameaça moradores

A maioria dos moradores disse que saiu não pelas falsas concessões feitas pela prefeitura, mas pelas constantes ameças dos agentes de repressão do velho Estado. Somente para essa ação, foi deslocado um efetivo de cerca de dez policiais militares fortemente armados e trinta guardas municipais, munidos de pistolas de choque e spray de pimenta.

Eles disseram que se nós não saíssemos por bem, sairíamos por mal. Disse que se eu não saísse da frente ele iria me agredir. Isso porque eu estou grávida. Imagine se eu não estivesse. O meu marido falou: ‘ela é minha esposa’ e o policial respondeu: ‘não quero saber. Saia daqui você e ela, porque senão eu prendo vocês dois’. Eu disse para ele que ninguém estava me obrigando a nada, que eu estava lutando por um direito que é meu. Eu não estou aqui só lutando por mim, estou lutando pelos meus filhos também — diz a gestante.

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