No dia 31 de outubro dois trabalhadores foram assassinados em uma mina de carvão na província de Kwazulu-Natal, no leste da África do Sul, por mercenários (vulgo “seguranças”) de uma transnacional canadense, a Forbes Coal.
Os operários da mina de Magdalena estão em greve desde o último dia 17 de outubro, reivindicando melhores salários. As informações são de que, no dia das execuções, cerca de cem trabalhadores estavam concentrados na mina quando sofreram uma truculenta tentativa de dispersão por parte dos mercenários fantasiados de “guardas” da Forbes Coal. Os dois que foram mortos teriam tentado entrar na sala de armas do local em busca de meios para se defender.
No último dia 6 de novembro a agência internacional de notícias Reuters anunciou que tivera acesso a fotografias atestando que a polícia da África do Sul “plantou” armas junto aos corpos dos 34 mineiros assassinados em agosto em uma mina de platina de uma transnacional britânica que opera naquela semicolônia, na maior chacina levada a cabo pelas forças de repressão sul-africanas desde o fim (fim apenas formal, oficialesco) do regime de Apartheid.
Em fotografias tiradas logo depois da matança, pelo menos dois operários jazem sem qualquer vestígio de armas ao seu lado. Já em outras fotografias, estas tiradas um pouco mais tarde, há várias armas, inclusive lanças e um facão, que aparecem ao lado dos mesmos cadáveres, em uma clara armação para tentar justificar as infames execuções de trabalhadores em plena luta por melhores salários e condições de trabalho.
No dia 25 de outubro a Câmara de Minas da África do Sul, entidade patronal, anunciou que conseguira fechar um acordo com o sindicato União Nacional dos Mineiros (NUM , na sigla em inglês) para um aumento salarial de míseros 500 rands (cerca de US$ 57,00), a se somarem aos 4 mil (cerca de US$ 500,00) rands que os mineiros ganham hoje, em média, no país. O valor é muito abaixo do que vinha sendo reivindicado pelos trabalhadores há várias semanas em greve, que é um salário de 16 mil rands (US$ 1.800) por mês.
Famigerados acordos a custa de sangue
Os trabalhadores em greve, aqueles que vão para a frente das minas enfrentar a polícia, têm acusado a NUM, o maior sindicato do setor, de manter relações muito amáveis com os gerentes locais aos donos das minas, e de não honrar nas negociações a radicalização do movimento sustentada no punho e a custa do sangue do operariado (no auge da greve, cerca de 80 mil trabalhadores chegaram a cruzar os braços). Um dia antes do aperto de mãos da direção da NUM com os opressores das transnacionais mineradoras, uma delas, a Anglo Gold Ashanti, colocou 12 mil grevistas no olho da rua.
A feroz repressão à greve e às manifestações dos trabalhadores mineiros sul-africanos mobilizados para a luta classista já resultou em dezenas de operários mortos pela polícia e pela segurança privada dos patrões. O mais recente grande episódio de violência aconteceu no último dia 30 de outubro, quando a polícia reprimiu com balas de borracha um agigantado protesto na mina de platina da cidade de Rustenberg contra o ultimato para que os mineiros voltassem ao trabalho emitido pela transnacional Anglo American Platinum, a maior produtora de platina de todo o planeta.
Enquanto os trabalhadores das minas sul-africanas são oprimidos e assassinados por companhias estrangeiras e pelas próprias forças de repressão daquele Estado reacionário, a gerência de Johannesburgo reclama que as sucessivas greves dos mineiros vêm tendo um efeito negativo na economia sul-africana, que em setembro viu as exportações de metais e minerais cair 7,7%. O “presidente” da África do Sul, Jacob Zuma, saiu dizendo que as greves nas minas de ouro e platina custaram ao país 4,5 bilhões de rands (US$ 500 milhões).
Seguirão fazendo este tipo de matemática e fazendo declarações dessa estirpe, bem como fechando negócios com as transnacionais sanguessugas, até o dia em que forem justiçados pelas massas negras oprimidas e humilhadas nas minas de carvão, platina e diamante para enriquecer as elites parasitárias locais e seus patrões das potências capitalistas.