Oriundo do projeto Samba do Compositor, criado por Mestre Jonas, Miguel dos Anjos e Dudu Nicácio, há três anos o Samba da Madrugada esquenta as noites de sábado em Belo Horizonte – MG. Utilizando-se do espaço do Ziriguidun, uma casa de shows com decoração singular e muita animação, agregando muita gente, amantes do gênero, dispostos a cantar e dançar até o dia raiar.
— Criamos o Samba do Compositor para dar lugar aos compositores de Belo Horizonte e interagir com o pessoal da velha guarda. Isso nos permitiu trazer nomes importantes para cá, como: Moacir Luz, Ney Lopes, Dona Ivone Lara, Monarco, entre outros, dando um ânimo novo ao nosso trabalho. E como nos encontrávamos nos finais dos nossos shows para comer e confraternizar, sentimos necessidade de desdobrar o projeto, criando um outro espaço para aproveitar esses momentos com música e balanço — explica Mestre Jonas.
— Então decidimos que faríamos um samba. Começando às duas da madrugada, indo até às seis da manhã. Assim chegaríamos cedo em casa e, o pessoal que trabalha até tarde, garçons, produtores, músicos, jornalistas, e outros, poderiam apro veitar esse final de noite para se divertir e confraternizar conosco também. Foi assim que nasceu o Samba da Madrugada — continua.
— Primeiramente alugamos um casarão no tradicional bairro de Santa Teresa e lá funcionamos por seis meses. Depois mudamos para o Ziriguidun, uma casa que já tem cerca de sete anos aqui em BH. A princípio o Dudu, dono do espaço, achou estranha a nossa proposta de fazer samba tão tarde, contudo concordou. Ele é casado com uma artista plástica que transformou o lugar em um ambiente único e aconchegante, tanto que é conhecido como: Ziriguidun, a casa da gente — expõe.
Os compositores entraram com muita alegria nessa nova empreitada e em pouco tempo já tinha um público fiel.
— No início nosso público era composto por pessoas que frequentavam os nossos shows, e depois começou a aparecer mais gente. Hoje o projeto se mantém através de um público diversificado, até porque criamos um espaço bem democrático entre os artistas: quem chega e é de música, convidamos para o palco — declara alegremente.
— Descemos o ‘tapete vermelho’ mesmo, porque entendemos que prestigiando os artistas que vem aqui, mesmo os que estão começando, estamos fazendo um bem para o samba de uma forma geral. E o público recebe isso de uma maneira bem positiva — continua.
— Existe também uma rotatividade entre os artistas fixos do nosso samba, por exemplo, Miguel dos Anjos assinou com a Fina Flor, uma gravadora do Rio de Janeiro, e mudou-se para lá. Então veio a Janaína Moreno cantar conosco, e acabou mudando-se também para o Rio. E veio o Fernando Bento, um grande sambista daqui que costuma atrair um público bem marcante, amante mesmo do samba, que sai atrás, sabe tudo do gênero, descobre qualquer movimento ligado a samba — acrescenta.
Aprendendo com quem sabe mais
Segundo Mestre Jonas o Samba da Madrugada tem agregado valores, atraindo um público que conhece tudo de samba e procura congregar e interagir com outros que gostam do gênero.
— É isso que o Samba da Madrugada tem de melhor hoje para oferecer para as pessoas. O samba de Belo Horizonte já é tradicional, contando com grandes talentos, e o Samba da Madrugada tem sido muito importante para consolidar essa realidade. Temos uma parceria muito boa com a casa, que nos dá toda liberdade de realizar a nossa festa — elogia Mestre Jonas.
— E apesar de parecer meio estranho essa coisa do horário, é impressionante que às duas horas da madrugada surge aquele ‘filão’ (risos), dobrando a esquina, todo mundo querendo entrar e participar da festa. Um pessoal que está mesmo com vontade de ouvir e dançar um samba bacana, e é isso que fazemos. Tocamos os compositores da velha guarda, daqui e de fora, e os novos talentos também — comenta com entusiasmo.
— O público que frequenta o Samba da Madrugada é formado, em grande maioria, por jovens. O espaço não tem mesas e cadeiras: Tocamos em um palco e o pessoal fica de pé, dançando. E ninguém reclama que está cansado, querem mesmo é ‘balançar’ conosco até o dia amanhecer — acrescenta.
Mestre Jonas é compositor de música popular brasileira e sempre trabalha com projetos de samba: além do Samba da Madrugada e do Samba do Compositor, tem também o Samba honesto e o Roda viva, sempre em parceria com seus amigos.
— Neste momento estou lançando meu primeiro CD, o que deverá acontecer em 27 de junho, aqui em Belo Horizonte. O disco chama Sambêro, e nele eu toco as várias influências do samba. Minha formação musical é muito ligada à música instrumental, à música brasileira, e pela sua imensa riqueza, não sigo somente um segmento — explica.
— Sambero significa aquela pessoa que está no samba, mas não sabe nada de samba. É como se estivesse de passagem. E por mais que isso pareça uma contradição, tem tudo a ver com a mistura que proponho. Por exemplo, tenho uma música que tem na letra uma mensagem do sambista, mantendo o compasso 2/4 do samba, mas o ritmo é maracatu — continua.
— O samba tem várias vertentes e se manifesta diferente em cada região do país. É o samba de roda, samba de coco, samba baião, samba frevo, samba maracatu e muito mais. Uma grande diversidade dentro de um mesmo gênero. Faz parte da nossa riqueza cultural. Sou brasileiro, e sendo assim, o bom mesmo é reunir a moçada e curtir a noite com um bom samba — acrescenta.
O Ziriguidun está situado na Av. Presidente Carlos Luz, 470 — Caiçara — Belo Horizonte/MG.