Grandes foram as proezas realizadas pela revolução na China até 1976, ano da morte do Presidente Mao Tsetung e da restauração capitalista no país. Na grande batalha ideológica entre o capitalismo e o socialismo foi decisivo o desenvolvimento na filosofia marxista, o materialismo dialético, proporcionado por Mao durante as tormentas da luta de classes na China. Guiados pelo Pensamento Mao Tsetung, camponeses, operários e intelectuais do povo desafiaram as dificuldades da construção socialista e conquistaram verdadeiras façanhas no campo científico e técnico.
O artigo A fabricação de um relógio de frequência de tipo chinês nos apoiando em “Sobre a prática” e “Sobre a contradição”, publicado por Fang Fu-guen na revista Pekin Informa, ano IV, nº 25, 22 de junho de 1966, é um relato da luta pelo avanço científico e técnico, mostrando que o fundamental é manter-se firme no campo ideológico e perseverar na busca por soluções.
O que é um relógio de frequência?
Um relógio de frequência não é um aparelho usado para medir o tempo, mas um instrumento de precisão indispensável nas centrais elétricas para medir a frequência da corrente. Requer um grau muito maior de exatidão que os relógios comuns. Normalmente, os relógios de melhor qualidade costumam adiantar ou atrasar dez segundos ou mais a cada 24 horas, mas um segundo é a variação máxima permitida em um relógio de frequência.
Em 1964 na China, todos os relógios de frequência eram importados, extremamente complexos e caríssimos. Fang era aprendiz em uma fábrica de penas para canetas e, assim como outros da equipe, não sabia o que era um relógio de frequência. Mesmo aqueles que haviam estudado técnicas de relojoaria nunca haviam visto um. Tais adversidades não intimidaram a equipe e iniciou-se um trabalho de investigação e aprendizado, logicamente temperado por uma profunda luta ideológica.
Havia então no Controle Central de Energia Elétrica um relógio de frequência fabricado no USA, na década de 1920 e foram visitá-lo. O relógio era mantido em uma sala de instrumentos a uma temperatura constante e um operário veterano dedicava-se a ele todos os dias do ano. Jamais era aberto, a não ser para sua revisão, porque não podia sofrer a menor vibração, e uma só partícula de pó poderia afetá-lo.
Fang se aproximou para observá-lo através da porta de vidro e notou o quão velho e desgastado era o equipamento. Ele e os demais técnicos sentiram que seria vergonhoso se tivessem que continuar usando algo tão tosco por não conseguir fabricar um relógio de frequência na China. Descobriram ainda que de todos os equipamentos de uma grande central hidrelétrica construída na China, só o relógio de frequência continuava sendo importado. Tal fato encheu os revolucionários de ânimo para, munidos do Pensamento Mao Tsetung (como era denominado o maoísmo na época) lutar por ultrapassar a burguesia ocidental em sua capacidade de fabricar relógios relógios de frequência.
Fang Fu-guen não evoca o Pensamento Maotsetung de forma dogmática, afim de relacioná-lo com a meta a ser atingida. Ao contrário, dá todos os elementos para a compreensão de como ele influenciou o trabalho no político, no ideológico e no metodológico. Já no título, aponta que textos do Presidente Mao Tsetung, Sobre a prática e Sobre a contradição, foram determinantes para orientar o trabalho, e no decorrer do trabalho vai mostrando concretamente como os conceitos ali tratados foram utilizados.
Afirma Fang Fu-guem: “Estamos determinados, devemos contar com nossas próprias forças e construir um relógio de frequência melhor!
A célula do Partido nos apontou que a fabricação de um protótipo de um relógio de frequência constituía um importante tarefa política e que seu processo devia se transformar em um processo de estudo e aplicação de maneira viva das obras do Presidente Mao. Estas palavras do Partido elevaram ainda mais nossa confiança na fabricação de tal protótipo”.
A equipe era composta de operários e especialistas do Partido Comunista da China e nas reuniões eram admitidos operários de diferentes ramos da indústria, que estavam autorizados a dar ideias e sugestões.
E assim, coletivamente, foi construído o relógio de frequência do tipo chinês. Aqui, tipo chinês quer dizer revolucionário e de alta qualidade, e não produto de terceira fabricado com super exploração da mão de obra como hoje em dia, na época do revisionismo, ocorre na China.
A principal luta ideológica se dava contra aqueles que não confiavam nas próprias forças e queriam simplesmente copiar algum modelo estrangeiro. A equipe se deslocou para uma província para examinar um outro relógio. O aparelho era complicadíssimo, seu funcionamento era inseguro, parava de vez em quando e dava trabalho para funcionar novamente. Mesmo assim, haviam aqueles que achavam que ele deveria ser modelo em tudo: estrutura, peças e incluindo a caixa de madeira e parafusos.
“Tal atitude produziu indignação em alguns de nós. Que ridículos eram os que pensaram que nós, os chineses, nem sequer sabíamos fazer os parafusos e teríamos que copiar de outros! O Presidente Mao nos ensina: ao aprender de outros é necessário ‘fazer funcionar nossas próprias cabeças durante o estudo e aprender o que se adapta às condições existentes em nosso país, ou seja, assimilar a experiência que pode nos ser útil. Tal é a atitude que necessitamos’. A atitude de culto cego às fórmulas estrangeiras adotada por certos ‘especialistas e autoridades’ simplesmente esfria nosso espírito revolucionário e infla a arrogância da burguesia! Devemos seguir conscienciosamente os ensinamentos do Presidente Mao, aprender através da prática e nos atrever a fazer coisas novas e aprender dos outros com uma atitude revolucionária e crítica. Alguns camaradas, no entanto, pensavam que tal enfoque indicava que se carecia de uma atitude séria, de precisão e de um método altamente científico. Eu tinha minhas reservas. Não podia concordar com o fato de que carecíamos de uma atitude séria, de precisão e de um método altamente científico ao seguir os ensinamentos do Presidente Mao de comprovar tudo na prática e de basear na prática nossas conclusões, e que ocorria ao contrário daqueles que copiavam tudo de outros países”.
Propôs então seu próprio plano para o desenho. As chamadas “autoridades” perguntaram se estava baseado em alguma teoria e Fang afirmou que havia surgido da prática, o que levou ao rechaço imediato da proposta.
Estas “autoridades” partiram então para a simples cópia de um modelo importado, gastando nisso vários meses. O resultado foi um retumbante fracasso, o relógio atrasava mais de 10 segundos por dia, 10 vezes mais que o aceitável. As tais “autoridades”, aferradas em seu pensamento tacanho de tentar separar a ideologia da tecnologia, e na verdade praticando a ideologia burguesa, atribuíram o fracasso à imperfeição da cópia e compararam cada peça com a original afim de detectar imperfeições. Mesmo assim, o novo protótipo atrasava 5 ou 6 segundos por dia.
“Novamente me dirigi a Sobre a prática do Presidente Mao. Ali diz: ‘Se alguém não entra na toca do tigre, como poderia apoderar-se de seu filhote?’ O básico para se conhecer uma coisa é através da prática. Pelo que se referia a mim, não estava bem em teoria e pior ainda na prática. À minha frente se abria um só caminho; devia entrar “na toca do tigre”. Desta forma, decidi assumir uma atitude honesta e me lançar à prática para aprender com ela. Provaria na prática os diversos métodos de outras pessoas e os compararia para descobrir seus respectivos méritos e defeitos. Ao realizar este trabalho concretamente, terei uma melhor compreensão da relação existente entre as diversas peças do relógio de frequência, bem como dos princípios que regem o funcionamento destas”.
E passa então a comparar os diferentes métodos utilizados em relógios de frequência, analisando os méritos e defeitos de cada um para descobrir os que melhor se adaptavam à realidade concreta. Conseguiu assim ter melhor compreensão da relação existente entre as diversas peças do relógio de frequência, bem como dos princípios que regem o funcionamento destas.
Por exemplo, chegou ao conhecimento de um método extremamente preciso para medir o tempo. Mas como tal método exigia que o relógio fosse mantido num quarto subterrâneo construído especialmente para ele, completamente isolado de qualquer variação externa. Como tal método não era aplicável as condições das usinas chinesas, foi descartado.
“Assim, fomos experimentando, um a um, todos os outros métodos. Após três meses ou talvez mais, e dezenas de experiências, não encontramos nenhum método inteiramente adequado a nossos propósitos. Também não desperdiçamos nosso tempo. A comparação dos diversos métodos proporcionou um quadro geral de bom e de ruim de cada um deles.”
“Para entender as leis do funcionamento de cada parte do relógio, fiz um minucioso exame de diversos fenômenos. Uma noite estava estudando a amplitude da oscilação do pêndulo, quando descobri, pela luz refratada pelo pêndulo em movimento, que após dezenas de oscilações, o pêndulo fazia repentinamente um leve, quase imperceptível movimento de atraso e de adiantamento. Isto era acidental?”
“O movimento de adiantar e atrasar durava 0,3 segundo cada vez. A observação era exaustiva e rapidamente meus olhos começaram a doer. Mas queria obter este material em primeira mão, me mantive firme em meu propósito dia após dia. … Persisti um, dois, três meses… e finalmente descobri as causas. Uma vez encontrada, as contradições foram resolvidas sem demora.
O Presidente Mao disse: ‘Nosso método principal é aprender a combater no próprio curso da guerra… Nesta guerra, o que ocorre com frequência conosco é que em vez de combater depois de ter aprendido, começamos por combater e depois aprender, combater é aprender’. Após um período de prática, consegui adquirir finalmente um conhecimento geral e mais profundo das leis que regem o relógio de frequência. Me convenci mais que nunca de que a prática é a melhor escola. Só mediante a prática podemos enriquecer nossa faculdade de conhecer o mundo objetivo, e só através da prática podemos aprender e nos habilitar para transformar o mundo objetivo.”
Fang entendeu perfeitamente o conceito descrito pelo Presidente Mao em Sobre a prática, que o conhecimento vai da prática à teoria e de volta à prática. Não se limitava a “praticar” como qualquer empirista, mas principalmente a refletir sobre sua prática para dela retirar as lições necessárias para dar o próximo passo. E seus esforços em aplicar a teoria revolucionária a sua prática concreta lhe permitiram solucionar o problema do relógio de frequência de forma extremamente criativa.
Os relógios de pêndulo são uma invenção antiga onde o pêndulo sempre permaneceu conectado às engrenagens. Fang descobriu que aí residia o problema. O fato de o pêndulo dar atividade às engrenagens o sobrecarregava, levando todo o equipamento a atrasos e aumentando o desgaste. Pecebeu que, embora intimamente ligados, pêndulo e engrenagens eram coisas distintas e propôs sua separação. O pêndulo, que é o contador de tempo, passaria a transmitir um impulso elétrico que ativaria as engrenagens, que registram este tempo. Como esperado, tal proposição encontrou resistência entre os conservadores, que consideraram que algo tão simples já deveria ter sido tentado antes, e, se não tivesse sido, também não valia a pena.
Mas Fang seguiu com as experiências, conseguindo um atraso de apenas 0,5 segundo em 24 horas. Mas o relógio parava algumas vezes e as “autoridades” afirmavam que “jamais tínhamos ouvido falar de um relógio de pêndulo com engrenagens movidas por eletricidade. A eletricidade não é digna de confiança…”.
Com o apoio de muitos jovens técnicos, acabou-se descobrindo que o relógio não parava porque se usava eletricidade, mas por imperfeições no mecanismo que afetavam o fluxo da corrente. O erro foi reparado e o relógio foi regulardo com um nível de atraso menor que o padrão internacional.
“Hoje em dia, devemos ser capazes de conhecer as coisas e criar o novo de acordo com as leis inerentes ao desenvolvimento das coisas. Eu havia estudado e comparado diversos tipos de relógios de frequência estrangeiros fabricados de 1922 até pouco depois de 1958. Característica comum é a sua complicada estrutura, que tem algo a ver com o nível científico e técnico daqueles, com o sistema social. Os relógios de frequência feitos em países capitalistas ou revisionistas não só são complicados na estrutura, como também complicadas peças que assustam as pessoas, mas na realidade não são necessárias. Isto é um produto de sua podre ideologia. Em nosso relógio de frequência não existem peças assim. Na produção da prova deste mesmo relógio, nos demos conta profundamente de que a criação de produtos avançados requer, antes de mais nada, ideias avançadas e ter mais revolucionária a ideologia, e por último colocar no comando o pensamento de Mao Tsetung.”