Um dos curadores do projeto Voa Viola, Roberto Corrêa pretende fazer um mapeamento do panorama geral da viola no Brasil hoje, realizando um festival nacional, que inclui viola caipira, de cocho, buriti, nordestina e outros, que terminará com shows por quatro grandes capitais brasileiras. Contando também com uma rede social, em que interagem artistas e as pessoas amantes do instrumento, o projeto destina-se a descobrir talentos, promover carreiras e a cultura da viola.
— O festival itinerante Voa Viola está previsto para acontecer em Recife, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, nos próximos meses de novembro e dezembro. Tivemos muitas inscrições de violeiros de toda parte do país, dos quais selecionaremos 24 que representarão a viola no país. Esses serão submetidos a juri popular, via internet, que escolherá 12 para participar dos shows. Serão 3 para cada um — explica Roberto Corrêa.
— Recebemos todo tipo de trabalho, desde que a viola estivesse presente, sendo ela caipira, de cocho, de cabaça, de buriti, de fandango, nordestina ou qualquer outra. E os estamos encaixando dentro de cinco categorias: canção, duplas, música instrumental, inovação e tradição. No final escolheremos um representante para cada uma delas, e estes receberão premiações, além da honra de terem sido escolhidos — continua.
— Além dos três violeiros selecionados os shows contarão também com um violeiro anfitrião, um violeiro consagrado e um artista convidado, que tem alguma coisa a ver com o universo da viola, e que tocará com um violeiro. Também acontecerão seminários sobre viola, onde discutiremos o uso atual e as vertentes da viola no Brasil ‘tradição e inovação’. Também os shows como os seminários e palestras serão filmados e disponibilizado na internet — acrescenta.
Roberto diz que esse mapeamento que está trabalhando é algo inédito no país, e que a rede social proposta por ele e seus companheiros vai unir mais artistas e amantes do gênero.
— Além do festival, temos uma rede social na internet, que apesar de estar começando agora, já está em plena ação. Entre outras, o violeiro terá um espaço na rede para fazer o seu perfil, e lá colocar uma pequena apresentação do seu trabalho, suas músicas, vídeos, seus contatos. Vários violeiros e amantes de viola já estão participando, e cada dia tem mais adesões — comenta entusiasmado.
— Tem até violeiros de Açores e Portugal participando da rede e podendo dialogar com violeiros daqui, como Chico Lobo, Levy Ramiro, Ricardo Vignini e muitos outros, além dos ainda desconhecidos e o povo amante de viola, que também tem pode participar das conversas e tudo que acontece na rede — diz acrescentando que idealizou o Voa Viola ao lado do também violeiro Paulo Freire.
— Entre os violeiros convidados e anfitriões que participarão dos shows estão: Pereira da Viola, Passoca, Vignini, Chico Lobo, Almir Satter. Também terão artistas importantes como o maestro Jaime Alem, que entre outras também toca viola caipira — declara Roberto.
Vivendo para a viola
O violeiro, compositor, cantor, pesquisador e educador, Roberto Corrêa, nasceu em Campina Verde, pequena cidade no triângulo mineiro. Começou a se envolver com música ainda menino aprendendo violão com o mestre José da Conceição, que ensinava choros populares do instrumento na região.
— Quando me mudei para Brasília, onde resido até hoje, fui estudar violão clássico. Até então não conhecia a viola e nem tinha certeza que queria ser músico. Tanto que ingressei para a Universidade de Brasília, no curso de física — diz Roberto, que chegou a se formar em física, mas, logo cursou também música e se profissionalizou na área.
— Na UNB mesmo encontrei pessoas que tocavam e assim montamos um grupo de música regional. Em 1977 encontrei uma viola em promoção em uma loja e acabei comprando só por curiosidade. Mas quando fui saber sobre afinação descobri que não tinha absolutamente nada. Instigado, comecei a viajar para onde havia violeiro e aprender com eles. Não demorou muito e eu estava trocando meu violão pela viola — lembra com alegria.
O resultado de suas andanças foi o livro Viola Caipira, 1983, sua primeira publicação. Dois anos depois foi convidado a lecionar viola na Escola de Música de Brasília, a primeira do país a adotar a viola oficialmente como instrumento.
— A partir daí comecei a gravar discos, solos e com parceiros, e a tocar pelo mundo, inclusive completei 29 países divulgando a viola caipira e a de cocho. Costumo levar as duas em todos os recitais que faço. Em 2000 publiquei meu segundo livro, A arte de pontear viola, que inclui método de ensino, técnicas, partituras. Fiz uma sistematização das técnicas de violeiros antigos somado com as de violão clássico — fala.
— Entre meus discos, destaco o primeiro, Marvada Viola, de 1986, que teve participação de Sivuca, Rolando Boldrin, Zé Mulato e Cassiano, entre outros. Dois anos depois saiu o segundo, e no mesmo ano o primeiro no exterior, Viola caipira Brasil. Depois gravei Viola Andarilha, o primeiro cantado. Gravei discos com composições minhas e interpretações — continua.
— Ano passado lancei Temperança, um álbum só com violão e voz que tem praticamente todas as minhas canções. Também gravei um DVD com a Orquestra do Estado do Mato Grosso, como solista de viola de cocho, e com essa mesma orquestra lancei o meu mais recente CD, no mês passado, com uma turnê pelo estado do Mato Grosso. Considero minha música caipira por definir a palavra como um contexto de localização e origem. Sou um homem do cerrado e ela é a expressão desse lugar — define Roberto Corrêa.
A página da internet para participar da rede social do Voa Viola é: www.voaviola.com.br