No dia 16 de julho, o menino Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade, de 11 anos, assistia à aula no Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Rubens Gomes, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, quando foi atingido por um tiro no peito e morreu. No momento em que o estudante foi baleado, PMs do 9º batalhão da PM (Bangu) faziam uma operação ao lado da escola, no morro da Pedreira, onde cinco pessoas também morreram.

Protesto de moradores do bairro Costa Barros após o assassinato de Wesley
Segundo a PM e o monopólio dos meios de comunicação, todos eram traficantes que trocaram tiros com a polícia. Revoltados, moradores de Costa Barros bloquearam ruas, queimaram pneus e enfrentaram a polícia.
A bala que atingiu Wesley tinha o mesmo calibre dos fuzis usados pela PM na invasão ao morro da Pedreira e, por isso, as 30 armas dos policiais que participaram da operação começaram a ser periciadas pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli apenas três dias após o assassinato de Wesley.
Quando o crime completou um mês, professores, moradores de favelas, parentes de vítimas da violência policial, democratas e intelectuais progressistas se reuniram na Central do Brasil, no Centro do Rio de Janeiro, para protestar. Na ocasião, músicos e atores fizeram apresentações e centenas de trabalhadores que passam pelo local todos os dias puderam conhecer a luta por justiça da família e amigos do menino Wesley, assim como de várias outras vítimas da violência deste Estado fascista.
É o caso de José Luís Farias da Silva, morador de Acari e pai do menino Maicon, morto pela polícia há 14 anos. Na época, o garoto tinha dois anos e, desde o seu assassinato, José Luís tornou-se uma figura conhecida nos movimentos sociais que lutam contra a política de extermínio de pobres dos gerenciamentos de turno. Ele diz que a indiferença da polícia às escolas e creches em favelas e bairros pobres é um problema antigo.
— Isso que aconteceu com o Wesley nunca foi novidade. Em Acari também teve esse problema. Há quatro meses, teve uma operação da polícia que deixou uma criança de dois anos e um professor do Ciep Antonio Candeia Filho feridos. Mas não passou nada nos jornais — denuncia José Luís.
— No dia 13 de agosto, a polícia civil fez uma operação lá em Acari e a creche da comunidade ficou toda esburacada de tiros. Os policiais ficaram o tempo todo escondidos do lado da creche, sabendo que tinham várias crianças no local. Quando eles entraram em Acari, vários tiros que partiram da direção da polícia atingiram a creche. Eles não querem nem saber. Em janeiro, no mesmo beco, a mesma polícia matou o senhor Ébis Peixoto, de 69 anos, com nove tiros. O Ministério Público disse que ia fazer a reconstituição do caso, mas até hoje, nada foi feito — protesta o pai de Maicon.
Márcia Honorato, da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, concorda com José Luiz e diz que nas favelas todos são alvos da polícia assassina de Cabral e Beltrame.
— A polícia está cumprindo perfeitamente o papel que ela tem que cumprir: reprimir os pobres. Então, tanto faz para ela se o pobre é estudante ou se não é estudante. O caso do Wesley não é novidade. Isso acontece todos os dias em escolas que ficam dentro de favelas e os governantes não querem nem saber. Para eles, a vida de ninguém ali vale nada, seja estudante, professor, morador, qualquer um. Todo dia morre um Wesley — lamenta Márcia.
Várias organizações participaram do ato na Central do Brasil, entre elas o SEPE-RJ (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação), a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, a OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), a Pastoral das Favelas, o Grupo Tortura Nunca Mais, o IDDH (Instituto de Defensores dos Direitos Humanos), o Comitê Palestina Livre, a Associação de Moradores e amigos de Vigário Geral e o Movimento Direito Para Quem. Integrantes de todas as organizações, reunidos em uma audiência na Secretaria estadual de Segurança, exigiram melhores condições de trabalho para professores e o fim das operações policiais nos horários de aula.