Patrick Granja, com informações da Pública — Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
A manifestação ‘Games Over! Resistance Lives!’ ‘Os Jogos acabaram! A resistência vive!’
Ainda faltam dois anos para a Copa do Mundo e quatro para as Olimpíadas no Brasil, mas a máquina de rapina ianque já está movimentando seus pauzinhos no país desde 2009. É o que apontam relatórios secretos do governo do USA divulgados pelo portal WikiLeaks. Segundo as denúncias, telegramas da embaixada do USA são frequentemente compartilhados com a Casa Branca no sentido de mapear movimentos populares e suas atividades, compartilhar informações cedidas pelas polícias brasileiras e identificar oportunidades de acesso de empresas ianques — em especial, as de segurança privada — ao Brasil para explorar os megaeventos.
Um exemplo é o relatório enviado ao Departamento de Defesa do USA pela Ministra Conselheira da Embaixada, Lisa Kubiske, no dia 24 de dezembro de 2009. Intitulado “Olimpíadas do Rio: O futuro é hoje”, o documento enaltece as oportunidades militares e comerciais inauguradas a partir da eleição da cidade como sede dos jogos olímpicos. Em um dos trechos, fica clara a cooperação entre o Estado reacionário brasileiro e a Casa Branca: “O governo brasileiro compreende que enfrenta desafios críticos na preparação dos Jogos de 2016 e demonstrou grande abertura em áreas como compartilhamento de informações e cooperação com o governo dos Estados Unidos”.
Em outro trecho a conselheira yankee diz que “além de preparar as oportunidades comerciais que os jogos vão oferecer às empresas americanas, o governo dos EUA deveria se aproveitar do interesse do Brasil no sucesso olímpico para progredir na cooperação bilateral em segurança e troca de informações. Os EUA buscam cooperação militar, oportunidades comerciais e já preparam um aumento do seu pessoal no país”.
Outros documentos divulgados pelo portal Wikileaks revelam como costuma funcionar o monitoramento das atividades de movimentos populares nos países sede de megaeventos, semanas antes e durante os jogos. Em 2010, nos 16 dias dos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, no Canadá, relatórios eram compartilhados diariamente entre o consulado ianque em Vancouver e inúmeros orgãos do governo do USA, entre eles a Casa Branca, o FBI, o Departamento do Tesouro, o Centro Nacional de Contraterrorismo, a Secretaria Nacional de Defesa e os Comandos militares.
Os 16 relatórios vazados pelo WikiLeaks com o título “Vancouver 2010 Winter Olympics: Situation Report” (Jogos Olímpicos de Vancouver 2010: Relatório de Situação) mostram que todas as atividades — principalmente as manifestações de movimentos populares — foram reportadas na seção “Questões de Segurança”. Em diversos relatórios, fica claro qual era a principal fonte de informação dos agentes de repressão: as redes sociais da internet. Em trehos do relatório, várias manifestações são citadas nas subseções “antecipação de atividade de protesto”. Um dos trechos cita que “outra manifestação, ‘2010 Autonomous Day of Action’ está prevista para segunda-feira 15 de fevereiro (…) pequenos grupos de anarquistas podem se envolver em atos de vandalismo e confronto com a lei”.
Em outro trecho: “A manifestação ‘Games Over! Resistance Lives!’ (‘Os Jogos acabaram! A resistência vive!’) está agendada para acontecer das 13h às 15h de hoje na intersecção entre as ruas Smithe e Cambie. As informações iniciais indicavam que os organizadores queriam que o evento fosse inofensivo para a polícia e para os manifestantes. Contudo, 171 pessoas estão confirmadas para comparecer ao local e eles podem bloquear as ruas. O grupo Black Bloc deve participar do evento, embora não haja indicação alguma de que eles queiram engajar-se em táticas violentas ou ilegais durante o evento. Discussões online sobre o evento indicam que um grande número de participantes pode prosseguir para a Tent Village para juntar-se a outros simpatizantes, uma decisão que pode se transformar em uma marcha improvisada”.
Os documentos mostram o nível extremo de monitoramento da Casa Branca, não apenas no Rio, mas em todo o Brasil, com vistas à Copa e as Olimpíadas. Mostram também a necessidade de discrição das organizações revolucionárias no Brasil no que diz respeito ao contato telefônico e pela internet.