Um dos bateristas mais atuantes da música brasileira, Wilson Das Neves já acompanhou muitos dos grandes nomes da música brasileira. Carioca, tocou em conjuntos e orquestras que animavam as gafieiras e todo tipo de bailes nas noites do Rio dos anos cinquenta. Na década seguinte passou pela Rádio Nacional e integrou a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, abandonando-a tempos depois, por preferir tocar música popular, o samba, sendo figura importante no Império Serrano.
— Nasci em 1936, numa época de boemia e muito samba, e desde menino me entusiasmei por bateria. Tinha uma tia que gostava muito de fazer festas em casa, me proporcionando momentos ao lado de quem sabia tocar, como o Bituca, um grande baterista, já falecido, que me incentivou a começar a tocar e me levou para estudar música na mesma escola que ele havia estudado. Costumo dizer que foi ele que me inventou como baterista — conta Wilson.
Levado por Bituca, Wilson das Neves estudou bateria, teoria e solfejo musical.
— Me tornei profissional em 1954. Naquele tempo tinham muitas orquestras, e trabalhos em boates, gafieiras, teatros de revista e as casas de dança de aluguel. As bailarinas eram da casa, o cliente picotava um cartão que marcava quantos minutos dançou e pagava por isso. Não era competição e nem casa de prostituição, e sim um local onde o sujeito ia para dançar, dança de salão, com uma mulher que sabia fazer isso. Duas orquestras ficavam tocando o tempo todo — explica.
— Tocava em todos esses lugares. Como estava começando, e não se começa no topo como hoje muitas pessoas pensam, tinha que ralar muito fazendo um bailinho no subúrbio, outro no centro, substituindo um músico aqui e outro ali, até acreditarem no meu trabalho. Na verdade, temos que matar um leão todo dia, se quisermos sobreviver de música — comenta animadamente.
Wilson já tocou com importantes nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Elis Regina, Elizeth Cardoso, e muito mais.
— Eles foram me chamando e eu não dispensava trabalho. Toquei mais de vinte anos com a Elizeth Cardoso. Com o Chico Buarque toco até hoje, quando trabalha me chama. O problema é que ele trabalha dois anos e descansa dois, e assim por diante (risos). Paralelo, sempre fiz minhas apresentações solo, acompanhado do meu conjunto — comenta.
— Sou do tempo das duplas de samba. Cheguei inclusive a acompanhar algumas, como a Verde e Amarelo, que eram o Erasmo Silva e o Wilson Batista. Cheguei a gravar com algumas também. Recentemente o Carlinhos Vergueiro, meu amigo e parceiro, formou uma dupla com o Ruy Faria e fizeram um trabalho muito bonito, até porque todos dois são ótimos — elogia.
Em plena atividade
— Comecei a compor a partir de 1973 e não parei mais. Mas não mostrava para ninguém, guardava. Só fui mostrar em 1997. Daí passei a gravá-las, e tem vários cantores gravando minhas músicas, de acordo com as oportunidades — conta.
Ele compõe música e tem parceiros certos para as letras. Entre eles, estão Luiz Carlos da Vila, Chico Buarque, Carlinhos Vergueiro, Elton Medeiros, Paulo César Pinheiro, Ney Lopes, Cláudio Jorge, Moacyr Luz, Aldir Blanc, Nélson Sargento e muitos outros.
— Letra e música sozinho só tenho uma, que fala exatamente dessa minha chegada como compositor de letra. Normalmente faço a melodia e mando para os parceiros colocarem a letra. Depois eles me dão: Vê se é isso aí? E é isso mesmo (risos). Componho sem saber exatamente o quê. Faço o que vem na minha cabeça naturalmente, depois da música pronta é que vejo o que deu — declara.
— Quando eles põem a letra é que eu vou juntar os cacos, porque a própria música é quem diz o que ela é. Não gosto de classificar nada, deixo solto. É só ir tocando que achamos o caminho. Minha inspiração aparece de repente na cabeça, eu não sento para fazer. Assim que surge eu gravo em um gravadorzinho simples, na base do lá, lá, lá mesmo. Depois chamo um violonista, e vemos a harmonia, ajeitamos — continua.
— É composição, arte, assim tem que ser uma coisa demorada, elaborada, não é sair fazendo de qualquer jeito. É criação natural trabalhada. Tenho oito discos gravados até agora, cinco instrumentais e três cantados. O oitavo lancei no mês passado, pela etiqueta MPB — acrescenta.
A identificação de Wilson das Neves com o Império Serrano vem de sua mãe, que todo ano saía de baiana na escola.
— Comecei saindo na bateria, tocando meu tamborim. Depois virei compositor, diretor, vice-presidente e presidente da ala de compositores. Hoje sou benemérito da escola com muita honra — fala alegremente.
— Fiz sambas em homenagem a ela, mas nunca disputei samba-enredo porque não gosto. Sou da velha guarda, junto com o Zé Luiz, Ivan Milanez, Cizinho, Mestre Fuleiro, Mano Décio, Lindomar, Carlinhos Vovô, Nilton Campolino, Tio Hélio, Aloísio Machado, Fabrício, Sebastião Molequinho, e o pessoal todo — acrescenta.
— Existem duas velhas guardas nas escolas de samba: a velha guarda show, composta por aqueles que se apresentam, e a velha guarda normal, que é composta por antigos ritmistas, mestres-salas, compositores e pessoas de qualquer outra atividade na escola. Vamos ganhando idade e passando para ela — continua.
Com o lançamento do novo disco, Wilson já tem uma agenda de apresentações pelo Brasil, que começa com um show em Porto Alegre, ainda no mês de agosto.
— Viajo para o Sul e depois São Paulo, e assim vão surgindo novos trabalhos. O que importa para mim é ver as pessoas cantando e dançando. Essa alegria é que me interessa. Também continuo saindo no carnaval, agora na ala da diretoria, mas planejo parar e só ficar torcendo. Mas, como minha mãe dizia isso todo ano e saiu de baiana até morrer, não tenho certeza se realizarei esse propósito — brinca Wilson das Neves.