No último dia 28 de maio, o ex-gerente dos monopólios internacionais em Honduras, Manuel Zelaya, “presidente” populista deposto há quase dois anos, no dia 28 de junho de 2009, por um golpe de Estado levado a cabo para azeitar ainda mais a rapina imperialista naquela semicolônia da América Central, voltou ao país com um acordo com o imperialismo embaixo do braço, pregando o perdão aos golpistas e o reconhecimento do “presidente” Porfírio Lobo pela “comunidade internacional”.
Uma breve recapitulação: após sofrer o golpe, Zelaya partiu para o exílio na Costa Rica e voltou a Honduras logo depois, contando com o apoio massivo do povo para retornar à gerência do Estado. Frustrado, encontrou abrigo na embaixada brasileira em Tegucigalpa, de onde fez articulações políticas durante quatro meses. Zelaya foi substituído na gerência hondurenha por Roberto Micheletti, que exerceu as funções de junho de 2009 a janeiro de 2010.
Zelaya foi deposto porque estava perto de viabilizar uma Assembleia Constituinte que poderia resultar em uma alteração na lei que lhe permitiria disputar a reeleição, o que é proibido pela Constituição de Honduras, enquanto os ianques, que nunca deixaram de considerar o país uma verdadeira república bananeira, já aguardavam ansiosos a substituição de Zelaya, mediante as eleições que então se avizinhavam, por um gerente mais afinado com os monopólios e mais solícito às ordens de Washington — não obstante a demagógica condenação do golpe por parte do USA, o que só prova que o jogo duplo é um estratagema caro ao imperialismo para alcançar seus objetivos.
Mas agora, depois de dois anos de acenos por parte de Zelaya no sentido da reconciliação com os golpistas e da conformação de um pacto que lhe permitisse voltar a pleitear as comissões que o imperialismo paga aos oportunistas de plantão — tudo enquanto as massas sofriam a repressão nas ruas e líderes de movimentos democráticos populares eram assassinados pelo regime —, ele enfim acertou a sua volta a Honduras mediante o chamado “Acordo de Cartagena”.
Mulher de Zelaya deve ser candidata
Este acordo para a volta de Zelaya e para a reincorporação de Honduras à Organização dos Estados Americanos foi costurado com a intermediação da Venezuela e da Colômbia (sim, dos gerenciamentos só aparentemente antagônicos de Juan Manuel Santos e Hugo Chávez, cuja colaboração para a completa reintegração de Honduras às engrenagens do imperialismo na América Latina mostra o quão complexas são as relações que se desenvolvem entre os oportunistas e reacionários da região para garantir o que interessa: o atendimento às demandas dos monopólios).
O Acordo de Cartagena foi assinado por Manuel Zelaya e Porfírio Lobo no último dia 22 de maio na cidade colombiana de mesmo nome.
Mal colocou os pés em Honduras novamente, no dia 29 de maio, Zelaya começou a se esmerar na desfiguração da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) a fim de transformar em partido eleitoreiro o movimento que se formou em Honduras para enfrentar os golpistas, encarando a repressão nas ruas e levando a cabo greves e ações de protestos em massa.
A transfiguração da FNRP em mais uma facção partidária que fará pactos com o imperialismo e disputará a preferência dos monopólios internacionais e do poder econômico em farsas eleitorais vindouras também estava previsto no Acordo de Cartagena.
Zelaya chegou, sobretudo, cumprido a sua parte no acordo que assinou com o imperialismo sob o intermédio dos seus entrepostos, inclusive valendo-se do léxico das potências ao dizer que este acordo “permite criar as bases da reincorporação de Honduras com pleno direito à comunidade internacional”
“Nisto é preciso ser equitativo: se o governo reconhece os direitos do povo, e o presidente Lobo está reconhecendo os direitos democráticos que tinha violado, a comunidade internacional então tem agora a obrigação de reconhecer os direitos do presidente (Lobo) e de seu Governo”, disse Zelaya.
Em meio a todos esses arranjos, surge a notícia de que a mulher de Zelaya, Xiomara Castro, será a candidata da FNRP no teatro eleitoreiro agendado para 2013, caso ele próprio não consiga mudar a Constituição a tempo de ele mesmo bater continência para o USA.