O jovem gravurista Félix Rebolledo em seu estúdio. Foto: Reprodução.
Félix Rebolledo Herrera (1944-1986) foi um pintor e xilogravurista peruano, ativista revolucionário e herói caído durante o genocídio em Lurigancho, perpetrado pelas Forças Armadas reacionárias peruanas, com o apoio do imperialismo ianque, da Igreja Católica e da socialdemocracia internacional.
Natural de Catacaos, província de Piura, Félix desenvolveu sua consciência revolucionária maoísta durante o período que estudou em Paris, onde participou ativamente das revoltas estudantis de Maio de 68. No início dos anos 70, retornou ao Peru como professor da Escola Nacional de Belas Artes de Lima, integrando-se ao sindicalismo classista.
“Os novos Amautas”. Foto: Reprodução.
Rebolledo buscou refletir as agruras e lutas do povo peruano em seu trabalho, coletando em seus esboços e relatos as experiências das periferias de Lima; não como um observador naturalista, mas de maneira ativa, interrogante e comprometida. Em 1978 monta junto ao pintor Francisco Izquierdo o grupo Movimento de Arte Realista: O artista e sua época, como parte do empenho das forças democráticas do Peru de retomar e desenvolver o caminho de Mariátegui. Assim, por todo o país, o grupo imprimia gravuras de maneira caseira (utilizando-se para tanto de tacos e colheres, à “modo chinês”), e faziam eles próprios o trabalho de circulação, vendendo gravuras por preço reduzido para que chegassem às massas mais profundas.
Rebolledo com seu grupo durante manifestação. No cartaz, lê-se “Mariátegui e Vallejo com o povo na arte e na cultura” (César Vallejo foi um grande poeta comunista peruano). Foto: Reprodução.
Dessa prática social intensa emerge o período de maturidade de Rebolledo, com xilogravuras de grande refinamento estético e chiaroscuro expressivo. Daí devem suas duas séries mais conhecidas: Os Agachados (“Los Agachados”), representações das noites de Lima e Além da vida (“Más allá de la vida”), em homenagem à morte de seu pai, narrando velório e funeral típicos. Ao mesmo tempo, é nesta época em que ocorrem suas últimas mostras individuais, uma vez que sua firmeza ideológica e ativismo custaram-lhe o prestígio que conquistara nas instituições.
Em 1981 Félix conformou a Associação Trabalho e Cultura (ATC), que fazia formação política e capacitação técnico-artística de operários. Através dessa iniciativa, os ativistas produziam artesanalmente centenas de cartazes, murais e panfletos serigrafados, sempre atados às principais lutas e demandas do momento.
Cartaz feito em apoio à Frente Única de Despedidos (FUD). Foto: Reprodução.
Em 1984, foi preso sem provas juntamente com seu aluno Federico Rey Sánchez, sob acusação de “terrorismo”. Mesmo nestas condições, seguiu altivo, dando aulas de arte aos outros prisioneiros, pelo que recebeu o apelido de “El Profesor”; ademais de, com a ajuda de materiais contrabandeados para sua cela, persistir com desenhos, gravuras e murais nas paredes da prisão de Lurigancho.
Esboço feito por Rebolledo durante sua prisão em 1984. Foto: Reprodução.
Faltando uma semana para sua soltura, desatou-se uma jornada de resistência ao plano de genocídio contra os reclusos que estava a ser perpetrado pela reação peruana. Após uma luta feroz, Rebolledo e outros 245 prisioneiros de guerra verteram seu generoso sangue, integrando o panteão dos heróis do Dia da Heroicidade em 19 de junho de 1986. Nunca houve confirmações se Félix foi ou não militante do Partido Comunista do Peru (PCP), embora tenha atuado junto à Revolução Peruana e servido à Guerra Popular, sob direção do PCP e do Presidente Gonzalo.
Como parte das celebrações do Dia da Heroicidade, resgatamos a memória de Félix Rebolledo e de tantos outros artistas, intelectuais e massas do povo peruano que dedicaram-se abnegadamente à causa da revolução, assim como propagandeamos esse exemplo de uma arte feita para o povo, plenamente imersa em suas lutas e em seu estado de espírito.
Da série “Além da vida”. Foto: Reprodução
Da série “O Processo”. Foto: Reprodução
Da série “Os Agachados”. Foto: Reprodução
“Sutep exige justiça”. A Sutep foi o sindicato de professores que assumiu a linha classista no período de Rebolledo. Foto: Reprodução
“Catacaos”. Foto: Reprodução.
Da série “O Processo”. Foto: Reprodução
Da série “Além da vida”. Foto: Reprodução
“Exigimos solução”. No cartaz lê-se “FUTP Basta de enganos, queremos solução para a nossa greve de fome”. Foto: Reprodução.
“Toribia Flores de Cutipa”. Toribia foi uma dirigente camponesa assassinada pela reação em 1981. Foto: Reprodução.