Segundo um levantamento feito pelo monopólio de imprensa O Globo, o terceiro governo de Luiz Inácio é o que menos conseguiu aprovar projetos, dentre eles PECs e MPs, desde o governo de Fernando Collor, que governou entre os anos de 1990-92. O fracasso é expressão da crise ainda patente entre o governo e o Congresso Nacional, apesar das aberturas do Palácio do Planalto ao centrão em ministérios e órgãos como a Caixa Econômica Federal.
Em números reais, Luiz Inácio apresentou 75 propostas, mas somente 18 passaram, uma proporção de um quarto. Os resultados são piores que todos os índices de primeiro ano dos governos anteriores: o ultrarreacionário Jair Bolsonaro, mesmo sem base parlamentar forte no primeiro ano, conseguiu aprovar 25 das 79 propostas apresentadas (32%) após ampliar seus esquemas escusos com o centrão. Michel Temer (2016 – 2018) aprovou 49% dos projetos em 2016. Dilma Rousseff, no primeiro governo (2011 – 2014), 70%. Governos mais antigos, como Fernando Henrique Cardoso, tiveram índice de 51% no primeiro governo (entre 1995-1998), antecedido por Itamar Franco (1993 – 1994), com 59%, e Fernando Collor (1990 – 1992), com 34%.
A dificuldade de Luiz Inácio em aprovar medidas ocorre apesar do “toma lá, dá cá” constante nos primeiros meses de governo. Somente esse ano, o presidente trocou a aprovação de projetos por órgãos como o Ministério dos Esportes, entregue a André Fufuca (PP-MA), e o Ministério dos Portos e Aeroportos, criado a partir de uma divisão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços especialmente para alocação do parlamentar do centrão Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). As trocas garantiram a aprovação de medidas como o arcabouço fiscal, o novo teto de gastos que foi bandeira central do primeiro ano do terceiro governo Lula. Meses depois, Luiz Inácio entregou a Caixa Econômica Federal ao indicado de Arthur Lira, Carlos Antônio Vieira Fernandes, em troca de celeridade na aprovação do projeto de taxação das offshores.
Essa relação complicada com o congresso deve se desgastar ainda mais, sinalizando o agravamento da crise política que aguarda o novo governo nos três anos vindouros: nas próximas semanas, os parlamentares devem derrubar o veto de Luiz Inácio em medidas como o marco temporal, em mudanças no arcabouço fiscal e em alterações no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. O recente veto de Luiz Inácio ao projeto de prorrogação da desoneração a 17 setores da economia também está sob ameaça pelo congresso. Além disso, o congresso exige, faminto, um aumento bilionário no valor das emendas parlamentares e um calendário obrigatório de pagamento que restringirá ainda mais a possibilidade do governo de comprar votos (nesse caso, em vez de cargos, por orçamento).
Os caminhos de Luiz Inácio são cada vez mais estreitos. Seguir como está não levará o governo a lugar algum, com riscos à popularidade do governo pela falta de mudanças. Por outro lado, aprovar outras medidas centrais exige entregar ainda mais ao centrão, e cada vez mais os parlamentares buscam se adonar de áreas mais sensíveis, como o próprio orçamento, pastas como o Desenvolvimento Social ou a já entregue Caixa Econômica Federal, responsável por programas vitrines do governo como o Minha Casa, Minha Vida. É certo também que essas entregas de áreas vitais não ocorrerão sem o crescimento expressivo da insatisfação popular.