Camponeses marcham em protesto à entrega dos recursos naturais do México ao imperialismo ianque. Foto: @RicardoMeb.
O monopólio de imprensa ianque The New York Times, em 14 de outubro, publicou uma matéria a respeito da luta dos camponeses pela água do México. Além de mostrar a luta que percorre desde o início deste ano, a matéria também traz à luz a contradição entre os interesses do imperialismo ianque e do povo mexicano sobre o recurso natural do México.
O texto começa falando a respeito do acontecimento do dia 8 de setembro, quando camponeses na cidade de Boquilla, vilarejo no estado de Chihuahua, México, ocuparam uma represa que transfere água do país para o Estados Unidos (USA), depois de expulsarem soldados do local.
Armados com paus, pedras e escudos improvisados, os camponeses emboscaram os soldados que estavam controlando o local, erguendo a bandeira nacional sobre a represa, a maior do estado, como uma sinal de vitória.
Horas mais tarde, quando três camponeses foram presos sob a acusação de terem roubado armamento dos soldados, uma jovem camponesa pobre em luta pela terra foi assassinada durante a repressão pelos agentes da reação. Pelo menos 17 camponeses foram presos no total, segundo o comandante reacionário da Guarda Nacional.
Jéssica Silva, de 35 anos, a manifestante que foi morta no dia em que os camponeses tomaram a represa de Boquilla, não tinha terra própria. Ela e seu marido, Jaime Torres, arrendavam cerca de 22 acres de árvores de nozes e ajudavam seus pais a cultivar um terreno ainda menor.
A Guarda Nacional atirou várias vezes pelas costas de Jéssica através da janela do caminhão de seu marido. Ele foi ferido, mas sobreviveu. “Ela estava defendendo o que nos pertence”, disse seu pai, José Luis Silva.
Em fevereiro, o velho Estado mexicano, encabeçado pelo oportunista Andrés Obrador, já havia enviado centenas de forças federais para ocupar a represa. Os camponeses construíram várias barricadas de saco de areia e de outros objetos, tudo para impedir a perda do território para as forças militares reacionárias; um reflexo do que os camponeses afirmaram ser “uma guerra”, como expôs o monopólio de imprensa El Periódico.
Desde a ocupação da área no início do ano, os camponeses em Chihuahua queimaram prédios do velho Estado, destruíram carros de instituições governamentais e mesmo sequestraram políticos do velho Estado, além de bloquearem durante semanas uma importante linha de trem, responsável por enviar produtos industrializados entre o país ianque e o México, segundo informações do jornal do monopólio de imprensa ianque The New York Times.
Camponeses enfrentam a Guarda Nacional mexicana em defesa dos seus recursos naturais. Foto: @yayatm/ Twitter.
Submissão do velho Estado ao imperialismo ianque
Com uma seca intensa afetando o estado de Chihuahua este ano, o México ficou devendo a sua entrega quinquenal ao país ianque, tendo que entregar mais de 50% de sua taxa anual de água em cerca de semanas.
Tal venda dos recursos naturais nacionais, característica de países semicoloniais como o México, vem com base num acordo de 1944 entre o USA e o México, no qual o México deve prover 430 milhões de metros cúbicos de água para os ianques, partindo do Rio Grande, em contraste aos 1,8 milhões de metros cúbicos que receberiam do país ianque. O acordo funciona sob um ciclo de cinco em cinco anos, onde o México deve providenciar sua parte da água. Caso não cumpra, devido a secas, por exemplo, o que não foi pago é adicionado no próximo ciclo.
O tratado não pune (diretamente) nenhum dos lados por não cumprir com o acordo, mas, submisso econômica e financeiramente aos ianques, o velho Estado mexicano vê como uma das soluções entregar uma quantidade significativa da água que possui em reservatórios, normalmente utilizados por dezenas de cidades mexicanas. Em troca, o México pediu aos ianques que lhe “emprestassem” água potável (logo apenas para o consumo humano) para essas cidades, caso a do México acabe por se esgotar.
Os cientistas que estudam os recursos hídricos da região pontuam, ainda, que a necessidade de água do México cresceu desde a assinatura do Acordo de Livre Comércio Norte-Americano nos anos 90, à medida que mais pessoas se estabeleceram na região de fronteira árida do país e a produção agrícola aumentou para satisfazer às necessidades dos consumidores americanos (não os mexicanos).
A revolta camponesa, por sua vez, acendeu o alarme dos reacionários no USA. O governador do estado do Texas, Greg Abbot, em conversa com o Secretário de Estado, Mike Pompeo, exigiu que ele persuadisse o México a entregar a água até a terceira semana de outubro, caso contrário, a agricultura do Texas teria prejuízos.
O presidente oportunista do México, Andrés Manuel López Obrador, já deixou claro sua submissão ao país ianque, em atos e palavras. Após prometer que vai cumprir com suas obrigações em relação à água, além do envio da Guarda Nacional para Chihuahua, o governo congelou as contas bancárias do camponeses que vivem no local, assim com acusou os pequenos camponeses de serem latifundiários, para confundir as massas do resto do país e deslegitimar a resistência. No entanto, mesmo com o presidente semicolonial insistindo que vai cumprir com seu empreendimento de submissão, cientistas afirmam que é uma tarefa impossível devido à seca.
Para os camponeses, o governo mostrou claro sinal de traição ao povo. “O que aconteceu na represa de Boquilla foi impressionante, porque tiramos nossas roupas de camponês e vestimos o uniforme de guerrilheiros”, afirmou o camponês Velderrain, homem de 42 anos que liderou a ocupação dos camponeses, ao The New York Times.