Ato realizado por familiares dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa. Foto: AP.
Em novo testemunho público pelo monopólio de mídia Reforma, no México, uma testemunha denuncia o papel exercido pelo exército e o velho Estado reacionários mexicano, em conluio com o tráfico varejista de drogas, no desaparecimento de 43 estudantes universitários da Universidade de Professores Rurais de Ayotzinapa, no ano de 2014.
A revista revela que a testemunha investigada, identificada como Juan, suposto líder da gangue Guerreros Unidos, deu declarações sobre o papel dos soldados no desaparecimento dos estudantes. A atuação destes soldados era efetuando prisões e interrogando (torturando) os estudantes antes de entregá-los a gangues do tráfico de drogas.
O corpo dos estudantes foram queimados depois em um crematório em Iguala. Aqueles que não foram cremados teriam sido dissolvidos em ácido. E acabariam por ser despejados em drenos, conforme afirma a testemunha. Ainda segundo a testemunha, outros corpos foram dilacerados e espelhados perto da cidade de Taxco. Sendo assim, fica implícito que os estudantes nunca serão encontrados.
A testemunha também revela que um capitão do exército reacionário mexicano, que hoje é acusado de se envolver com crime organizado, manteve preso estudantes em uma base militar local, torturando e interrogando-os antes de entregar os estudantes para a gangue Guerrerros Unidos.
A Polícia, por sua vez, manteve outro grupo preso, e membros de gangue capturaram outros. Ao total, a testemunha afirma que entre 70 e 80 pessoas foram sequestradas, entregues à gangue e mortas.
Mais de seis anos de investigação, e autoridades do velho Estado encontraram dúzias de túmulos clandestinos e 184 corpos, mas nenhum dos estudantes.
O Ministério do Interior confirmou que o testemunho é parte de um arquivo de investigação, afirmando que vai apresentar acusações contra aqueles que o vazaram, evitando comentar sobre a veracidade do testemunho.
SEQUESTRO Dos ESTUDANTES: TERROR DO VELHO ESTADO
Os 43 estudantes, alunos da Escola Rural Normal de Ayotzinapa, foram sequestrados no fim de setembro de 2014 quando se dirigiam à cidade de Iguala, no estado de Guerrero — no sudoeste do México, um dos mais pobres do país —, para um protesto. No caminho, policiais e “criminosos” (assim noticiou a maioria dos veículos do monopólio, como se fosse possível estabelecer a diferença) ligados ao prefeito e à “primeira-dama” de Iguala (ela, tesoureira do cartel de drogas chamado ‘Guerreros Unidos’) abriram fogo contra três ônibus ocupados pelos jovens, matando três na hora, além de três outras pessoas que passavam pelo local, e sumindo com 43 deles.
Segundo informações que já vieram à tona, tudo a mando do próprio prefeito, José Luis Abarca Velázquez, que desde 2013 já tinha os estudantes da Escola Rural Normal de Ayotzinapa entalados na garganta. Em julho daquele ano, os normalistas atacaram a prefeitura de Iguala depois do assassinato do líder camponês Arturo Hernández Cardona, cujo mando foi atribuído a Velázquez.
“Os alunos que estudam naquela escola são militantes e têm maior conhecimento político que a média. Pelo menos é assim que são vistos pelo governo mexicano”. Assim Juan Carlos Perez, correspondente da BBC no México, qualificou os estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa.
As Escolas Normais mexicanas foram criadas em 1926 com o intuito de formar educadores que exercessem a profissão nas regiões mais pobres do país e torná-los líderes comunitários. Daí vem a conhecida rebeldia e politização de seus alunos. Há muitas décadas é travada uma dura batalha com os sucessivos governos para garantir sua existência. Das 29 que existiram, hoje sobraram somente 13.