Foto: Alfredo Estrella.
O Ministério da Defesa Nacional (MDN) gastou em compras durante 2020 cerca de 1,554 bilhões de dólares, mas apenas um quinto desse valor foi divulgado publicamente. A conta mostra cerca de mais de 1,2 bilhões de dólares que deixaram os cofres do velho Estado, pagos com a exploração do povo, sem deixar sequer um registro público.
O MDN justificou em várias ocasiões que a informação é mantida confidencial porque se trata de uma questão de “segurança nacional”, mas o seu histórico com desvio de dinheiro público, entre outras “inconformidades” é longo. Exército mexicano desviou 156 milhões de dólares para empresas fantasmas entre 2013 e 2019.
Em um dos casos revelados, a Secretaria desviou 24 milhões de dólares sob um acordo para modernizar alfândegas das quais não se conheciam detalhes porque tinham sido “classificados” durante 12 anos sob o pretexto de “segurança nacional”.
Em 2020, o Exército gastou cerca de 5,716 bilhões de dólares, de acordo com o relatório de orçamento do Departamento do Tesouro. De acordo com a Lei de Aquisições, Leasing e Serviços do Setor Público, cada agência deve publicar informações sobre suas aquisições no portal oficial Compranet. O MDN informou apenas contratos de cerca de 324 milhões de dólares. Quanto ao resto, não se sabe de nada.
Além disso, 41% do dinheiro registrado foi gasto através de contratos de adjudicação direta, um processo excepcional no qual o fornecedor é escolhido à dedo e sem concorrência.
Nas grandes obras pelas quais o exército é responsável, como a construção do Aeroporto de Santa Lúcia ou parte do Trem Maia, a falta de dados sobre o quanto há de gastos ou em quê é recorrente. A Auditoria Superior da Federação também registrou irregularidades no desembolso de mais de 11 milhões de dólares, durante 2019.
A “Quarta transformação” de Manuel López Obrador
Os gastos do exército, junto aos níveis de miséria durante o governo de turno de Manuel López Obrador vão de embate direto às suas promessas de campanha eleitoral em 2018, denominada por ele mesmo como “A Quarta Transformação”.
A “grande transformação” promovida por ele e seu partido eleitoreiro seria a quarta após a Guerra Mexicana da Independência (1810-1821), a Guerra da Reforma (1858-1861), e a Revolução Mexicana (1910-1924). Traficando com a história das grandes rebeliões das massas mexicanas que lutaram pela libertação contra os invasores e o regime de exploração e opressão.
Nas palavras do próprio: “Com base no que conseguimos, procuraremos empreender uma transformação pacífica e ordeira, sim, mas não menos profunda do que a Independência, a Reforma e a Revolução; não fizemos todo este esforço por meras mudanças cosméticas, longe disso, e muito menos para ficarmos com mais do mesmo.”
A demagógica 4T (como é conhecida), acabaria com os “abusos dos privilegiados”, com os altos salários e o luxo de que gozam os altos funcionários governamentais, num país onde metade da população vive na pobreza.
Num discurso proferido no final da sua campanha para presidente, López Obrador apelou à construção de uma “nação de leis onde nada está fora da lei e ninguém está acima da lei”.
No entanto, os escândalos dos gastos pelo exército, combinados a outros gastos não divulgados pelo próprio governo de turno em megaprojetos e compras, além dos índices como o PIB (contraiu 8,5% em 2020; a maior queda desde 1932); o nível de pobreza (o Relatório de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social de 2020 estimou cerca de 70,9 milhões de pessoas pobres de acordo com seu rendimento, ou 56,7% da população.); e a fome (o mesmo RAPDS de 2020 indica que 12,3% da população mexicana está abaixo do nível mínimo de consumo de energia alimentar, superior aos 7,1% registados no período de 2017 a 2019).