México: Manifestação denuncia prisão injusta de camponeses por homicídio

México: Manifestação denuncia prisão injusta de camponeses por homicídio

Manifestação pela liberdade dos cinco camponeses presos. Foto: Animal Politico

Cerca de 100 camponeses indígenas e membros da comunidade do povo Tzeltal protestaram no dia 4 de junho no estado de Chiapas, cidade de San Juan Cancuc, para exigir a libertação de cinco camponeses acusados injustamente de assassinato de um policial municipal. Os camponeses denunciam que as prisões foram realizadas contra camponeses organizados e ativos na luta contra a construção de megaprojetos do velho Estado mexicano nas suas terras. 

A manifestação ocorreu no Centro de Reabilitação Social número 5. Os camponeses marcharam ao redor da prisão entoando canções e palavras de ordem exigindo a soltura de seus companheiros, assim como levaram cartazes escritos “nós olhamos de frente porque caminhamos com a verdade”, “não queremos mais mentiras, governo, queremos justiça verdadeira e respeitosa” e “Promotoria Repressiva”. A marcha culminou no Palácio da Justiça de Los Altos.

Rosa López Pérez, esposa de um dos camponeses presos, Agustín Pérez Domínguez, disse ao monopolio de imprensa EFE durante a manifestação: “Tenho sete filhos, estou preocupada porque meu marido é o encarregado de trabalhar a terra e prover o sustento de todos nós”.

Enquanto isso, José Luis Vargas, vigário de San Juan Cancuc, relatou que a perseguição política do velho Estado contra os camponeses está relacionada ao fato de sua participação política: “Eles participam ativamente contra megaprojetos nacionais, como o caso de uma rodovia que pretendem construir de Palenque a San Cristóbal, tirando as poucas terras que têm”, denunciou o vigário.

“Crime” sem provas

Manuel Santiz Cruz, um dos que está preso “preventivamente”, é presidente do Comitê de Direitos Humanos da cidade de San Juan Cancuc. Ele e mais quatro Tzeltals estão detidos pelo Ministério Público Indígena.

Os cinco camponeses lutadores do povo estão sendo acusados de homicídio sem que, na verdade, exista qualquer prova de que o policial foi assassinado: suas prisões se baseiam nas acusações de um único policial e não há autópsia que comprove a causa da morte. Há apenas uma avaliação médica que declara “morte devido a parada cardiorrespiratória por choque hipovolêmico”, sem comprovação alguma de que fora por homicídio.

Prisão política

Manifestação pela liberdade dos cinco camponeses presos. Foto: Animal Politico

A história do breve contato dos camponeses com o policial remonta ao dia 28 de maio, quando os moradores do bairro de C’ani da capital municipal de San Juan Cancuc, em Chiapas, acharam o policial bêbado, perambulando e gritando em um barranco.

A vizinhança decidiu se organizar para o resgatar e entregá-lo a seus colegas policiais. Foi apenas então, após a entrega aos outros policiais, que o policial municipal Antonio Aguilar Pérez morreu.  

Na manhã seguinte (29/04), uma operação conjunta de três patrulhas da Guarda Nacional, três patrulhas do Exército reacionário e dois policiais municipais, entre 30 homens armados, prenderam Manuel Sántiz Cruz na cidade de San Juan Cancuc. Agustín Pérez Domínguez e Juan Velasco Aguilar, também ativistas da organização comunitária de defesa dos direitos do povo, foram presos com ele. 

Durante 24 horas, os três homens desapareceram e ficaram incomunicáveis, sem acesso a advogados ou tradutores da língua tzeltal ao espanhol. Mais tarde, quando seus advogados conseguiram os encontrar, foi descoberto que a Promotoria Especial de Justiça Indígena declarou a prisão como sendo por “posse de maconha” que teria ocorrido na manhã do dia 30/05, no bairro de San Diego da cidade de San Cristóbal de Las Casas.

Diante do testemunho de membros da comunidade de que suas prisões haviam ocorrido não no dia 30/05 em San Cristóbal de Las Casas, mas sim no dia 29/05 em San Juan Cancuc, os três detentos acabaram sendo libertados. Eles foram libertados no dia 31/05, e logo após foram presos novamente pelo suposto assassinado do policial.

O Ministério Público Indígena solicitou um mandado de prisão em 31 de maio às 15h41 e o Juiz de Controle o concedeu na mesma data às 15h40, um minuto antes de o pedido ministerial existir formalmente.

Há ainda três outros mandados de prisão para camponeses de Cancuc baseados no “testemunho” desse único policial. 

detenção busca frear a luta pela terra

Manifestação pela liberdade dos cinco camponeses presos. Foto: Animal Politico

Em mais de uma assembleia no município, Manuel Sántiz Cruz, presidente do Comitê de Direitos Humanos da cidade, confrontou o prefeito do município, José López López. Sántiz Cruz, representando a comunidade camponesa, se opunha à presença de uma base da Guarda Nacional em seu território e a um mega-projeto chamado “Rodovia das Culturas”.

A Rodovia das Culturas, proposta há 20 anos, tem como objetivo conectar as cidades de San Cristóbal de Las Casas e Palenque para o turismo. A oposição das comunidades camponesas, que denunciam a intenção de transformar Chiapas em uma “nova Cancún”, levou ao congelamento do megaprojeto em 2008, mas o atual governo do estado decidiu retomá-lo e estendê-lo por 300 quilômetros. 

Aprovada pelo Congresso de Chiapas em dezembro de 2019, a nova Rodovia das Culturas visa conectar os resorts e sítios arqueológicos da região de Palenque com as praias de Pijijiapan.  Além disso, ela ligaria o Trem Maia ao Corredor Transístmico. Atualmente, 45 comunidades de San Juan Cancuc lutam contra o projeto. 

“O que está acontecendo em San Juan Cancuc [as prisões] pode estar ligado à situação de José Luis Gutiérrez Hernández e César Hernández Feliciano de Chilón”, diz Victórico Gálvez Pérez do Centro de Direitos Humanos Frayba (CDH Frayba). Ele se refere ao caso de dois outros camponeses Tzeltal que também se opõem à construção da Rodovia das Culturas em suas comunidades e terras, localizadas no município de Chilón, e que foram detidos em outubro de 2020 durante uma manifestação contra a construção de um quartel da Guarda Nacional em seu território.

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