México: Mulheres se rebelam em protesto contra feminicídio

México: Mulheres se rebelam em protesto contra feminicídio

Mulheres seguram cartaz em memória de Diana Velázquez, assassinada em 2012, após outro feminicídio

No dia 14 de fevereiro houve uma manifestação combativa de mulheres na Cidade do México contra o feminicídio que ceifou a vida de uma mulher de 25 anos. Durante o ato, as manifestantes (entre outras ações) incendiaram um carro do monopólio de imprensa. A revolta tomou vulto especialmente após vários “jornalões” fazerem piada e trocadilhos com o crime e a desgraça da jovem.

Mulheres queimam van da imprensa burguesa, uma das responsáveis por difundir fotos de Ingrid Escamilla esquartejada em capas de jornais e notícias na internet

Nesse dia, já às 7h da manhã, um grupo de mulheres protestava em frente ao Palácio Nacional, respondendo ao apelo para a primeira de uma série de manifestações contra o femicídio de Ingrid Escamilla, jovem morta por seu parceiro.

Dessa forma, as manifestantes, revoltadas com a incapacidade do velho Estado mexicano em acabar com o assassinato de mulheres no país (que em apenas 5 anos aumentou em 137%), picharam as paredes do Palácio Nacional e tentaram incendiar-lhe as portas. Numa das entradas do Palácio, a da rua Moneda, elas incendiaram uma rede que cobria um pilar.

Diante da exigência de falar com alguma “autoridade” do velho Estado, o subsecretário de governo da Cidade do México, Arturo Medina, tentou falar com as rebeladas, mas foi pulverizado com tinta e atacado.

À tarde, centenas de mulheres se reuniram no memorial conhecido como Antimonumenta, localizado em frente ao Palácio de Belas Artes, para iniciar a marcha até a sede de um jornal do monopólio de imprensa. As manifestantes, lá, picharam a sede do jornal, queimaram uma van da imprensa e disseram que não sairíam do local até que o editor se desculpasse por publicar fotos do corpo de Ingrid desmembrado, junto de títulos sensacionalistas.

foto: perla miranda/ el universal

Também, nesse momento, as manifestantes começaram a empurrar o cordão composto por policiais mulheres, e foram reprimidas com bombas de gás lacrimogêneo.

Depois do ato em frente ao jornal, elas continuaram seu protesto a caminho do Anjo da Independência. No caminho, as manifestantes, revoltadas com a forma com que o monopólio de imprensa trata os feminicídios, quebraram a estação de metrô Hidalgo Metrobus, e estações de metrô foram fechadas devido ao protesto. Várias propriedades estatais e de grande empresas no Paseo de la Reforma foram atacadas. Durante a marcha, as manifestantes entoavam: Justiça para Ingrid!

Manifestantes atacam a estação Hidalgo na linha 4 do Metrobus

Quando elas chegaram ao monumento, voltaram a enfrentar a polícia, após os agentes da repressão cercarem um grupo que tentava arrancar as tábuas que impediam as manifestantes de chegar ao Anjo da Independência (colocadas após a ação contra o Palácio Nacional), sendo atacadas com dióxido de carbono (uma substância contida nos extintores de incêndio) para as dispersar.

Mulheres picham frases em memória à Ingrid em prédio

Manifestantes picham “Memória” no chão no Centro da Cidade do México

Manifestante picha escudo da polícia

Dez mulheres assassinadas por dia no México

Jornais expõem o corpo esquartejado de Ingrid com os títulos “A culpa é do cupido” (em referência ao seu assassinato, cometido no dia dos namorados), e outro com o título “DESMEMBRADA”. Via: Twitter

Lucía Lagunes, diretora da associação civil “Comunicação e Informação da Mulher AC” (CIMAC), especializada na defesa dos direitos civis às mulheres, diz que há um aumento nos casos de feminicídio no México e falta de qualquer política pública em relação a isso. Mesmo Ingrid Escamilla já havia denunciado que era ameaçada por seu parceiro, que mais tarde viria a ser seu assassino, entretanto nada foi feito pelas “autoridades” do velho Estado. 

De acordo com dados oficiais, o número de mulheres assassinadas no país nos últimos cinco anos aumentou em 137%. No entanto, as organizações civis acreditam que o número é maior, já que esses crimes nem sempre são denunciados ou classificados como feminicídios: dos quase 4 mil assassinatos de mulheres relatados no ano passado, apenas 976 foram considerados feminicídios, de acordo com dados do Sistema Nacional de Segurança Pública.

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