Manifestante atira pedra contra o Palácio da Justiça de Iguala no sexto aniversário do sequestro dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa. Foto: Cuartoscuro
No sexto aniversário do sequestro dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa, multidões e organizações populares tomaram as ruas exigindo a verdade sobre o caso e justiça para as vítimas e familiares em todo o país. Nas cidades de Chilpancigo (capital do estado de Guerrero), Oaxaca (capital de Oaxaca) e Iguala (Guerrero), o povo promoveu protestos combativos e ataques incendiários contra prédios do velho Estado.
Como parte dessas ações, a organização revolucionária Corrente do Povo – Sol Vermelho, em coordenação com os pais dos 43 estudantes, assim como outras organizações irmãs, realizaram ações de propaganda nesses estados, além de Hidalgo, Estado do México e outros, colocando faixas e exigindo também a apresentação de Dr. Sernas com vida. Dezenas de marchas e manifestações foram realizadas em várias cidades ao redor do país.
Corrente do Povo – Sol Vermelho faz ato junto dos pais das vítimas. Foto: Corrente do Povo – Sol Vermelho
Em Chilpancigo, dia 22 de setembro, manifestantes invadiram a sede do Congresso do Estado utilizando uma van pertencente à empresa Lala, van que foi incendiada enquanto estava dentro do Congresso. O governador de Guerrero, Héctor Astudillo, disse que os escritórios administrativos do primeiro e segundo andares foram afetados, assim como a entrada da biblioteca e monumentos no campus.
No dia 21 de setembro, os pais dos 43 desaparecidos em Iguala, Guerrero, manifestaram-se no Palácio da Justiça de Iguala para exigir que lhes fossem fornecidos os vídeos das 25 câmeras de segurança da cidade, de 26 de setembro de 2014, até hoje negados. Eles também exigiram que o presidente do Tribunal Superior de Justiça, Alberto López Celis, fosse chamado a testemunhar.
A mãe de uma das vítimas disse em sua fala: “Estamos aqui, em frente ao palácio de justiça, onde tiveram câmeras, onde nos enganaram, onde nos disseram muitas mentiras. Que nossos filhos estão mortos, que os nossos filhos foram levados daqui. E as câmeras estiveram gravando, estiveram aqui nessa data de 26 de setembro de 2014. E por que nos enganaram? Por que não querem que saibamos a verdade? Por que levaram as câmeras? Por que não nos querem mostrar os vídeos? E se chegamos sem resposta aos seis anos, é por causa da corrupção que se passa”.
No final do protesto, normalistas de Ayotzinapa e a Federação dos Estudantes Camponeses Socialistas do México (FECSM) quebraram janelas, atiraram fogos de artifício e bombas molotov e picharam o edifício em protesto ao terrorismo do velho Estado contra as famílias e a completa impunidade aos perpetradores do crime.
A FECSM incendiou uma van pertencente à empresa Bimbo e invadiu com ela os escritórios do Palácio da Justiça, passando pelo hall de entrada. Enquanto a van queimava dentro do Palácio, os manifestantes atiravam pedras e bombas incendiárias contra ele.
Então os estudantes deixaram o Palácio da Justiça, entraram nos ônibus e voltaram para Ayotzinapa.
Na Cidade do México, pais dos “43”, bem como estudantes da escola rural normal Raúl Isidro Burgos manifestaram-se fora do Supremo Tribunal de Justiça da Nação. Em Oaxaca, o Palácio da Ignomínia (que é o Palácio do Governo) foi cercado pelo povo. Um vigoroso ato foi realizado e uma faixa de 20 metros de comprimento foi colocada no prédio com a palavra de ordem que estava presente em todas as lutas a nível nacional.
O caso dos 43 estudantes sequestrados
Pais dos 43 estudantes desaparecidos exigem a aparição dos seus filhos. Foto: Tlachinollan CDHM/Twitter
De acordo com as investigações da Procuradoria Geral da República (PGR), encabeçadas por Jesus Murillo Karam, um ônibus de estudantes normalistas que se dirigia à Iguala para participar de protestos estudantis na data histórica de 2 de outubro [1], quando foi interceptada pela polícia municipal, que a entregou ao grupo criminoso Guerreros Unidos.
O cartel supostamente teria confundido os estudantes com membros de Los Rojos, um grupo criminoso rival, e os matou e os queimou em um depósito de lixo em Cocula, despejando seus restos mortais no rio San Juan.
Esta versão oficial dos eventos foi autodescrita como a “Verdade Histórica” pelo ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018). Entretanto, até o momento, tem sido muito criticada pelas mães e pais dos 43, bem como por organismos de “direitos humanos”, devido a inconsistências na narrativa e nos meios utilizados para obter testemunhos, tais como tortura e outros métodos criminosos.
Notas:
[1] O histórico dia de 2 de outubro foi quando, em 1968, ano de intensas mobilizações estudantis contra a velha ordem de opressão e exploração e o governo de turno reacionário de Gustavo Díaz Ordaz, assim como exigências específicas, como a libertação dos presos políticos. Participaram também professores, intelectuais honestos, mulheres donas de casa, trabalhadores e camponeses.
O velho Estado mexicano caracterizou o movimento como uma tentativa de derrubar o governo, instalar um regime “comunista” como parte de um “Plano Subversivo de Projeção Internacional ” e criminalizou-o, argumentando que seus participantes eram terroristas, criminosos ou um perigo para a segurança nacional. Por esta razão, ele foi continuamente reprimido durante seu curso e, para o aplastar, em 2 de outubro de 1968, foi perpretado o que ficou conhecido como “Massacre de Tlatelolco” na Praça das Três Culturas em Tlatelolco. O ato foi cometido conjuntamente como parte da “Operação Galeana” pelo grupo paramilitar conhecido como Batalhão de Olimpia, a Diretoria de Segurança Federal (DFS), a então Polícia Secreta e o Exército Mexicano, contra uma manifestação. Segundo o que foi dito por ele mesmo em 1969, e por Luis Echeverría Álvarez (subsecretário de governo), a pessoa responsável pelo massacre foi Gustavo Díaz Ordaz.