Nota da Redação: Reproduzimos abaixo nota enviada pelo Comitê de Apoio à Luta pela Terra de Montes Claros, que denuncia as intimidações feitas por pistoleiros durante uma panfletagem no dia 26 de novembro de camponeses do Acampamento de Nova Cachoeirinha e apoiadores da luta camponesa em Verdelândia, no Norte de Minas Gerais.
Camponeses enfrentam tentativa de intimidação por pistoleiros e reafirmam decisão pela retomada da Fazenda Vera Cruz
Comitê de Apoio à Luta pela terra – Montes Claros
Sob os olhares interessados dos moradores e feirantes que acompanham a queda de braço entre camponeses e latifúndio na disputa da Fazenda Vera Cruz, foi realizada uma decidida panfletagem, no dia 26/11, na cidade de Verdelândia (Cachoeirinha) por camponeses da “Nova Cachoeirinha” e apoiadores, membros do Comitê de Apoio à Luta pela terra de Montes Claros e Jaíba, companheiros da LCP e companheiros do Acampamento “Terra Prometida” em Capitão Enéas e de Bocaiuva, da Frente Nacional de Luta.
Desde as vésperas do dia 21 de novembro, data que foi realizado o despejo das famílias por mais de 200 policiais, todas as atenções da cidade e região se voltaram para a intrépida persistência dos camponeses de não abandonarem suas terras e mesmo diante de força desproporcional, manterem erguidas suas cabeças e mais do que nunca suas bandeiras vermelhas e suas consignas de que as terras roubadas dos posseiros de Cachoeirinha na década de 60, pelo famigerado coronel Georgino, voltarão aos seus legítimos donos!
Mais de 20 companheiros e companheiras, empunhando bandeiras da LCP distribuíram 1.000 boletins na pequena cidade, assinados pelo Comitê de Defesa da Revolução Agrária (CDRA), com os dizeres “Nova Cachoeirinha Resiste e afirma: a Fazenda Vera Cruz é Nossa!”.
O latifundiário e grileiro Manoel Patrício de Souza Gomes está mantendo uma tropa de vagabundos, armados, na sede da fazenda e pagando os mesmos para provocar as famílias e apoiadores que manifestaram publicamente estarem do lado dos camponeses, tudo isso, sob escolta da PM de Verdelândia e apoio do Prefeito da cidade [Wilton Leite Madureira/PT].
Mas nada disso tem conseguido intimidar as famílias camponesas que seguem unidas e se organizando para voltarem às suas terras!
A panfletagem foi um marco deste enfrentamento, onde as canções “Conquistar a terra” e as consignas de luta foram gritadas a pleno pulmões conclamando à Revolução Agrária e à luta pela terra em Cachoeirinha. Os nomes dos companheiros Sula e Jader, históricos dirigentes da luta dos posseiros em 1967 e presidentes de honra da LCP e do dirigente camponês assassinado, Cleomar Rodrigues, foram entoados com veemência.
No mercado e de casa em casa, os panfletos do CDRA foram distribuídos enquanto os camponeses e seus apoiadores conversavam com o povo pelas ruas, pelas calçadas e comércios. A solidariedade e o apoio eram evidentes, até mesmo porque muitas das famílias que hoje vivem na sede do município são descendentes dos posseiros expulsos de suas terras pelo latifúndio.
Pistoleiros tentam intimidar panfletagem e são cercados por ativistas e populares
Pistoleiros, já conhecidos do povo, por serem corriqueiramente “contratados” durante as campanhas eleitorais para disputar os votos na bala, acompanharam a meia distância todo o trabalho dos companheiros. Eles de lá, nós de cá, com nossos mastros de bandeiras reforçados, e claro, a certeza de que o povo de Cachoeirinha já há muito tempo tomou partido nesta disputa, a favor dos posseiros!
De repente, no mercado municipal, uma companheira que se apartou por segundos do grupo, foi vista sendo enquadrada pelo pistoleiro Alexandre, vulgo “Alexandrão” que estava bebendo num bar da região. Um companheiro se colocou entre a companheira e o pistoleiro, e perguntou o que estava ocorrendo. O pistoleiro, levantou a voz, em tom de ameaça e perguntou se ele sabia com quem estava falando, o companheiro, levantou a cabeça, arregalou os olhos e respondeu, fazendo a mesma pergunta: se ele sabia com quem estava falando? Rapidamente, todos os companheiros se aproximaram e quando olharam para o lado os feirantes e populares também estavam cercando os três. Quando o pistoleiro se viu sozinho, em meio a pequena multidão, saiu de banda, resmungando e sentou-se na mesa com o seu comparsa que não esboçou reação. E assim foi encerrada a combativa panfletagem.
Assembleia marca data da retomada
Terminada a propaganda pelas ruas de Verdelândia, as atividades continuaram na área Vitória, endereço temporário dos camponeses da Nova Cachoeirinha. Debaixo de uma frondosa árvore, foi realizada uma Assembleia Popular, em que todas as famílias estavam presentes, além de outras que queriam fazer parte da retomada.
Em tom de muita decisão e ânimo, foi marcada a data do retorno às terras da Fazenda Vera Cruz!
No relato da resistência ao despejo não se ouviam lamúrias, pelo contrário, o clima era de indignação contra os governos Pimentel/PT, Temer/PMDB/PSDB, contra o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], a Ouvidoria Agrária Nacional e a Seda [Secretaria do Estado de Desenvolvimento Agrário], especialmente, por ter feito um acordo com as famílias e além de não ter cumprido, sequer deu satisfação no dia do despejo. Ao mesmo tempo, o clima era de esperanças, de confiança na luta e nos companheiros. Alguém perguntava: “De quem é Essa terra? E todos respondiam: É NOSSA!”.
Terra para quem nela vive e trabalha!
Conclamamos a todos os democratas a apoiarem estas famílias em sua luta histórica, exigindo do governo do estado a ação discriminatória para provar que as terras são devolutas e estas poderem voltar legalmente às famílias. Conclamamos apoio material e logístico aos camponeses, que tiveram suas roças destruídas e lutam pelo direito sagrado das terras de seus antepassados que foram usurpadas!