No dia 27 de julho, cercas da comunidade camponesa geraizeira Curral de Varas I foram cortadas durante um ataque, segundo denúncias dos próprios camponeses. É o segundo ataque de pistoleiros contra a comunidade camponesa, após um incêndio e destruição de placas e cercas na noite do dia 15/07. De acordo com Adair Pereira, membro do Conselho Intermunicipal Comunitário do Território Tradicional Geraizeiro do Vale das Cancelas, a principal suspeita é que os ataques tenham sido ordenados pelo latifúndio.
A área é, de acordo com Pereira, disputada pela empresa latifundiária Rio Rancho S/A, que é acusada há anos de promover a destruição da mata nativa a fim de instalar plantações de eucalipto. A empresa pertence ao ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, e ao seu filho, o atual deputado federal Newton Cardoso Junior.
Ainda segundo as denúncias, a empresa recebeu em 2020 uma licença para atuar na região, mas a área dos camponeses não está inserida na área licenciada. Os geraizeiros denunciam também a própria licença, que foi expedida sem a mínima consulta com as populações camponesas locais, as mais afetadas pela expansão latifundiária na região. Além dos ataques, os camponeses relatam que o cultivo da monocultura tem afetado os rios usados pelos camponeses para as atividades de produção.
Histórico de ataques
Os ataques promovidos contra os camponeses da região de Norte de Minas Gerais não são de hoje. A região é amplamente conhecida pela atuação nefasta do latifúndio e seus bandos paramilitares contra camponeses em luta pela terra. No caso dos geraizeiros, houve outro ataque recente no dia 25 de junho, quando a Comunidade Tradicional Geraizeira do Núcleo Lamarão, no município de Grão Mogol, foi vítima de um incêndio. Os camponeses da comunidade também apontaram empresas latifundiárias como culpadas.
Além disso, também nesse ano, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Norte de Minas e Sul da Bahia denunciou ao menos dois casos de atuação dos bandos paramilitares do latifúndio contra os camponeses das áreas organizadas pelo movimento. Os crimes se inserem no contexto de recrudescimento da luta pela terra no País, em que o latifúndio amplia cada vez mais repressão contra os camponeses em luta a fim de tentar deter o avanço das tomadas de terras registrado de Norte a Sul.
Em março, um panfleto da LCP denunciou a atuação conjunta da Polícia Militar (PM) com pistoleiros do latifúndio no município de Verdelândia, Norte de MG. O panfleto afirma que os policiais permitiam a atuação livre dos paramilitares e atuavam conjuntamente com os pistoleiros na repressão aos camponeses. Um mês antes, a Associação Brasileira de Advogados do Povo Gabriel Pimenta (Abrapo) já havia denunciado a morte do jovem camponês Raimundo Adalton Mendes Rodrigues, encontrado com sinais de afogamento no Rio do Cais.