No último sábado, 10 de agosto, manifestantes exigiram justiça contra a impunidade dos crimes cometidos pela rede de supermercados Verdemar e a construtora Kaeng. Estiveram presentes familiares e amigos, estudantes e o Sindicato dos Trabalhadores da Construção de BH e Região (Marreta). O crime ocorreu no dia 17 de outubro de 2023, quando três operários e uma engenheira foram soterrados por negligência da construtora. Passados 300 dias do crime, os responsáveis ainda não foram devidamente julgados.
Os manifestantes levaram panfletos e entoaram palavras de ordem, clamando por justiça pela vítima, Juliana Angélica Menezes Veloso, que foi assassinada no desabamento da obra do novo supermercado. Além de Juliana, outros três operários também perderam a vida. São eles: Roberto Mauro Silva, de 57 anos; Zacarias Evangelista Fonseca, de 58 anos; e Rafael Pereira Barbosa, de 34 anos. Igor Alves, de 24 anos, também foi atingido mas sobreviveu, tendo que passar por diversas cirurgias.
O protesto organizado pelos familiares tomou as ruas e manifestantes distribuíram panfletos para a população, denunciando que a Polícia Civil ainda não iniciou um inquérito para apurar o caso. Além disso, eles exigem justiça e rejeitam as alegações da empresa responsável de que Juliana era a responsável pela obra.
A manifestação encerrou na avenida Cristiano Machado, de forma muito combativa, comovendo transeuntes e funcionários do supermercado, onde muitos deles conheceram pessoalmente Juliana. A família e demais apoiadores finalizaram a ação planejando mais protestos, lutando para que o crime não passe sem impunidade.
Sobre o assassinato
No dia 17 de outubro de 2023, a engenheira e 3 operários foram soterrados no canteiro de obras da construção de uma nova loja do Supermercado Verdemar, localizada no Bairro Belvedere, em Belo Horizonte. “Acidentes” dessa natureza têm acontecido com frequência devido à mudança das Normas Regulamentadoras – NRs e, principalmente, da negligência da falta de mapeamento de riscos por parte das construtoras, das quais não cumprem com as especificidades das normas. Como consta o sindicato Marreta, em nota da época do ocorrido:
“Hoje há obras, que sequer tem um técnico, ou engenheiro de segurança. Além do mais, há um longo período de seguidos sucateamento do Ministério do Trabalho e Emprego –MTE, que se mantém com um número irrisório para a fiscalização, somado com o enfraquecimento das entidades de classe, após a famigerada “reforma” trabalhista, as empresas deitam e rolam, desafiam a própria sorte, tocando obras, sem os devidos cumprimentos de normas essenciais à segurança, saúde e higiene do trabalho. Foram essas ‘mexida’ nas Normas que reduziu a segurança dos trabalhadores, pois segundo alguns reacionários como o ex-vice presidente general Mourão, que sem enxergar o oceano da complexidade, afirmou que ‘… temos algumas jabuticabas que a gente sabe que são mochilas nas costas de todo empresário.’, segundo sua afirmativa, que era referente à férias e o 13º, em seguida o presidente ataca as NRs e bastou isso, para fazer a roda da história voltar à década de 90 do século passado, onde os ‘acidentes’ eram uma constante e a construção civil uma máquina de moer gente.”
Durante cinco meses de investigação, foram apontados pelo Ministério do Trabalho e Emprego de Minas Gerais (MTE) um lado apontando 73 autos de infração para as empresas envolvidas. Dos fatos mais absurdos, constam a generalização de vergalhões desprotegidos, ausência de afastamento da área de convivência (refeitório e vestiário) dos operários e o local do deslizamento, como também a ausência de escoramento da área que ocorreu o deslizamento.
Além da negligência com as NRs, questiona-se ainda a capacidade da construtora de assegurar a obra com todas as normas e todos os requerimentos para sua execução, uma vez que a obra teria o valor necessário de 50 milhões de reais, e como mostrado através de consulta na receita federal, o capital social da construtora sozinha é de apenas 50 mil reais, não condizente com o valor necessário para a realização da obra e pagamento de todos os funcionários.
As famílias, agora, buscam por justiça e punição adequada para o Verdemar e a Kaeng, empresas responsáveis pela obra e pelo acidente. As fotos e o relatório do MTE mostram de forma clara a realidade que não foi transmitida pelo monopólio de mídia e autoridades, que foram coniventes com a irresponsabilidade das empresas envolvidas na obra.