MG: Famílias camponesas do Quilombo Campo Grande são covardemente despejadas por policiais durante pandemia 

MG: Famílias camponesas do Quilombo Campo Grande são covardemente despejadas por policiais durante pandemia 

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Mais de 450 famílias camponesas foram covardemente expulsas na madrugada do dia 12 de agosto, do acampamento Quilombo Grande, localizado no município de Campo do Meio, região sul de Minas Gerais. A operação violenta foi comandada pelo 64º Batalhão da Polícia Militar (PM) do governo do reacionário de Romeu Zema (partido Novo), e terminou com dezenas de pessoas feridas.


Famílias resistem por 56h contra truculenta ação de despejo. Foto: MST

A ação contou com um grande aparato de viaturas, além de policiais de outras cidades. Conforme afirmaram os acampados, os policiais invadiram as casas quebrando portas e janelas. O ataque da tropa de choque começou pela Escola Popular Eduardo Galdeano, quando os agentes a interditaram antes de começar a ação de despejo dos camponeses. No dia anterior ao despejo, a polícia rondou o acampamento com viaturas e drones, intimidando as famílias. 

Ativistas denunciaram ainda que viaturas e drones vinham rondando o acampamento e grande parte do município de Campo do Meio desde o dia 30 de julho, quando mais de 20 policiais invadiram casas e levaram o camponês Celso Augusto, conhecido como Celsão que foi liberado no mesmo dia, segundo denunciantes a ação foi realizada sem mandado. 

No dia 13 de agosto, de acordo com denúncia do movimento, a PM ateou fogo no acampamento para expulsar os camponeses.


Incêndio criminoso sobre o Quilombo Campo Grande em meio ao despejo. Foto: Banco de dados AND

Uma ativista denunciou que a ação de despejo não tem amparo legal e foi decidida por um juiz local. “Mesmo sendo de conhecimento de todos a manobra corrupta foi feita por um juiz local e nenhum órgão público conseguiu interceder para que as famílias ficassem em suas casas, mesmo no meio da pandemia. Mas nós aprendemos sempre a voltar mais fortes. E eles podem esperar, vai ter retorno. Essa terra é nossa por direito e não abrimos mão de nenhum centímetro dela”, relatou. 

Em 14 de agosto se registrava 56 horas de resistência, acompanhada manifestações de apoio e solidariedade. Neste mesmo dia se efetivou o despejo.

Os camponeses seguem em luta, e cinco dias após o despejo realizaram uma manifestação em frente a prefeitura de Campo do Meio para exigir testes de Covid-19 e controlar a contaminação pela doença no território. Ato prosseguiu em frente às lojas Zema onde os manifestantes levavam cartazes denunciando o descaso e covardia do velho estado.


Camponeses protestam em frente a prefeitura exigindo testes de Covid-19. Foto: MST

Histórico de luta na área

O acampamento é alvo de sucessivos ataques do governo do estado na tentativa de retirar os camponeses, ele está localizado em uma área de 3,6 mil hectares que o latifúndio Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia) reivindica como sua. A companhia leva o sobrenome de uma das mais influentes famílias de latifundiários da região, envolvidas em vários crimes ambientais e disputa agrária. 

A empresa utilizava as terras para a monocultura de cana de açúcar e produção de álcool, e fechou em 2002 dando calote, não pagando os direitos rescisórios dos seus mais de mil trabalhadores.  

“São 22 anos de conflito e resistência no território, lidando com pistoleiros, a mando de Jovane de Souza Moreira, após enfrentar cinco despejos, em diferentes, áreas as famílias conhecem o caminho para retornar com mais força e conquistar a terra. Na área, estava em construção um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia”, denunciou uma ativista ao portal Extraclasse. 

As famílias do Quilombo Campo Grande ocupam o terreno desde 1998 e são produtoras de leite e café de forma sustentável. Na última safra, as famílias produziram mais de 9 mil sacas de café, 60 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão. Além de uma diversificada produção de hortaliças, verduras, legumes, galinhas, gado e leite. Ao longo desses anos também foram construídas parcerias com organizações e instituições da região que incentivaram a produção, o fomento da educação popular e a melhoria de infraestrutura para as famílias.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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