Veículo detido pelos indígenas. Foto: Banco de Dados AND
Indígenas da Aldeia Kiriri confiscaram um veículo da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) no dia 28 de setembro, em Caldas, no sul de Minas Gerais (MG). A ação dos indígenas é um protesto frente à morosidade da Sesai para com as melhorias exigidas pela comunidade. Segundo o cacique da aldeia, Adenilson França Santos, foi prometido à comunidade a aquisição de um veículo para que os indígenas não percam exames marcados em outras cidades. Outra reivindicação dos indígenas é a construção de um poço artesiano na aldeia. A água que chega por meio de caminhões-pipa, segundo eles, não têm suprido a necessidade dos moradores.
Na ocasião do confisco do veículo, representantes da Sesai estiveram no local para fazer a análise da água que os indígenas recebem por meio de caminhões-pipa. Ao fim do serviço, os indígenas confiscaram o carro como garantia que a Sesai atendesse às exigências da comunidade.
“Se não tiver um carro aqui, a gente perde muitos exames. Hoje nosso problema é exame, porque o médico passa um exame para fazermos em Poços de Caldas, Pouso Alegre, tivemos uma criança que foi para Belo Horizonte. A prefeitura foi quem cedeu o carro para levar, se não teríamos perdido um exame muito importante. Às vezes são dois anos para marcar e a gente perde porque não tem o transporte. Nossa reivindicação é por conta do transporte”, declarou o cacique.
Segundo os indígenas, o protesto serve para “chamar a atenção da Sesai, pois se não fizermos isso, eles nunca vão nos atender do jeito que a gente precisa.”. Os indígenas afirmam já ter requisitado o novo veículo para uso da aldeia, e que, enquanto este não for entregue, o veículo da Sesai continuará detido.
A ação dos indígenas se dá em um contexto de crescente reacionarização do velho Estado e suas carcomidas instituições. Em vã tentativa de dar sobrevida à velha ordem, as classes dominantes atacam mais severamente os históricos direitos conquistados pelo povo, entre eles o direito ao território e a serviços básicos dos povos indígenas. Frente a luta dos indígenas, o velho Estado atua reprimindo brutal e covardemente as massas em luta, na intenção de que as suas lutas fiquem isoladas, não se desenvolvam e nem tomem a forma de um levante no campo, ao lado da luta dos camponeses e quilombolas. Para isto, é chave a militarização de órgãos como a Funai e Sesai, principalmente na Amazônia.
INDÍGENAS DENUNCIAM MILITARIZAÇÃO DA SESAI
Em 2020, durante a pandemia do Covid-19, o coronel da reserva do Exército Robson Silva, ex-coordenador da Senai, alegou implicitamente em entrevista ao portal Amazônia Real que haverá mortes de indígenas e que não há que se “politizar” a questão, ao referir-se às críticas dirigidas ao incompetente trabalho realizado pela Secretaria.
Um ano depois, em 2021, a proporção de militares na chefia das coordenações regionais da Funai era de 58,3% nos nove estados da Amazônia Legal. Nas demais regiões do país, a incidência era de 26,7%.
Também em 2021, após o assassinato de um indígena por policiais civis durante uma operação policial que contava com a presença da Funai, em Tocantins, as lideranças indígenas do estado destacaram o contínuo desmonte da Funai e Sesai promovido pelos sucessivos governos de turno: “Tanta coisa, tanta necessidade que o nosso povo passa na assistência, como tirar documentação, ir no INSS, ir em lugares no nosso município, que é tão distante, e muitos anos a gente vem dependendo da Sesai e a Sesai vem fazendo o papel da Funai, porque a Funai não faz absolutamente nada nesses últimos anos”, disse uma das lideranças da aldeia em entrevista ao portal MPopular após denunciar o acompanhamento do assassinato pelo órgão.
Em evento combativo que reuniu organizações populares, lideranças indígenas, dirigentes camponeses e representantes de entidades sindicais em Rondônia em 2022, lideranças indígenas denunciaram a crescente militarização da Senai: “Temos pessoas dentro dos órgãos como o Sesai, abafando as doenças, negando os atendimentos. Um exemplo são os povos indígenas que estão em contexto urbanos, é negado nosso direito à assistência e saúde. Negaram nosso direito de ser indígena.”, declarou Luis Cassupá.