MG: Moradores de Ouro Preto lançam manifesto contra a privatização da água no município

MG: Moradores de Ouro Preto lançam manifesto contra a privatização da água no município

No dia 28 de maio, um grande ato contra a privatização da água em Ouro Preto foi realizado por moradores da cidade . Foto: Banco de Dados AND

Moradores da cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais, lançaram uma carta contra a privatização da água na cidade e exigindo a imediata saída da empresa Saneouro e o fim da concessão.

A carta soma-se a uma série de ações já empreendidas pelos moradores contra a privatização, desde a expulsão e proibição de funcionários da empresa instalar hidrômetros nas casa, passando por protestos, atos e pichações contra a empresa e contra o velho Estado e sua política privatista e de sucateamento de empresas e obras pública.

No dia 28 de maio, os moradores saíram da Praça da Estação e foram em direção à prefeitura municipal. Na manifestação, podiam-se observar inúmeras faixas em que estampavam o rechaço à privatização da água. Algumas faixas expostas tinham os dizeres: Fora Saneouro!, Abaixo a privatização da água!, Rebelar-se é justo!, A água é do povo!, A nossa água não está à venda!, Nós não vamos pagar nada!. 

No final do ato, após falas combativas do povo repudiando o governo militar genocida de Bolsonaro e o rechaço à proposta de privatização da água empreendida pela prefeitura, foi realizada a leitura pública e entrega da “Carta do povo de Ouro Preto” à prefeitura. A carta exige a saída imediata da empresa do município e a oferta pública e gratuita dos serviços de fornecimento e tratamento de água. 

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O protesto foi convocado pelo Comitê Sanitário de Defesa Popular de Ouro Preto, Mariana e região. O ato ganhou a adesão da população, de entidades e associações de bairros e distritos do município.

Mesmo antes do ato, foram encontradas na cidade várias pichações com dizeres: Fora Saneouro! e Abaixo a Privatização da água!, ações que demonstram o descontentamento da população com a empresa e a prefeitura.

Pichações em vários pontos de Ouro Preto exclamam: Fora Saneouro! e Abaixo a privatização da água!. Foto: Banco de Dados AND

Pichações em vários pontos de Ouro Preto exclamam: Fora Saneouro! e Abaixo a privatização da água!. Foto: Banco de Dados AND

Pichações em vários pontos de Ouro Preto exclamam: Fora Saneouro! e Abaixo a privatização da água!. Foto: Banco de Dados AND

Pichações em vários pontos de Ouro Preto exclamam: Fora Saneouro! e Abaixo a privatização da água!. Foto: Banco de Dados AND

Luta por água

Os moradores da cidade lutam desde 2018 pela reestatização da do serviço de fornecimento de água. Na época, o então prefeito de Ouro Preto, Júlio Pimenta (MDB), concedeu a gestão do serviço de fornecimento de água, tratamento e saneamento básico da cidade para o consórcio Saneouro que é controlado principalmente pela multinacional GS Inima uma empresa sulcoreana, um dos maiores grupos financeiros do país. 

Em 2021, a empresa iniciou a instalação de hidrômetros nos bairros e enfrentou forte resistência de comunidades como Antônio Pereira (comunidade já fortemente afetada pela mineração, já que o bairro fica abaixo de barragem da Vale que se rompida, destruiria parte enorme da cidade) e Bocaina que impediram a empresa Saneouro de instalar os hidrômetros e expulsaram-na do bairro. 

O Comitê Sanitário de Defesa Popular de Ouro Preto e Região tem desenvolvido atividades nos bairros pobres prestando solidariedade com as famílias que sofrem com desemprego e carestia de vida. O comitê tem apoiado a organização da comunidade do bairro Pocinho que exige a saída da empresa Saneouro da cidade imediatamente. Uma carta foi produzida pela comunidade com o apoio do Comitê Sanitário de Defesa Popular e foi assinada por diversas associações de bairro denunciando a privatização da água como mais uma política de entrega do patrimônio do povo da cidade. 


Carta do povo de Ouro Preto 

Roubam nosso minério e agora querem nossa água 

O povo de Ouro Preto vem por meio desta exigir a imediata saída da Saneouro do município. 

Historicamente o povo ouropretano tem enfrentado as consequências do roubo sistemático de suas riquezas naturais, que geram fartura para meia dúzia de grandes bancos e agências do capital financeiro, deixando rastros de soterramentos, mortes, miséria para o povo e dependência econômica para a região. Se não bastassem o perverso legado de séculos inteiros de escravidão colonial e a mais recente exploração das nossas riquezas minerais pelo imperialismo e seus cartéis de bancos, agora estamos acompanhando a entrega de nossa água para mais uma empresa de fachada do grande capital financeiro monopolista, a Saneouro. 

A privatização da água, se cabalmente completada pela atual gestão da prefeitura, além da continuidade da mais descarada política entreguista de nosso patrimônio, representará a retirada de um direito básico da população: o direito de acesso à água potável. A cobrança proposta afetará de forma mais grave os mais pobres, levando ainda mais miséria para a população, que já sofre todas as mazelas da maior crise econômica, social, política e sanitária da história. 

O atual cenário de morticínio não é apenas consequência de uma grave pandemia. As 450 mil mortes são o resultado de uma política de extermínio deliberado da população promovida pelo governo militar do falastrão Bolsonaro, tutelado pelos generais do Alto Comando das Forças Armadas. Este governo de assassinos, deliberadamente, não comprou vacinas e deixou faltar oxigênio e insumos para intubação durante a pandemia. Além das perdas diárias de familiares e amigos, contra o povo se abate a mais terrível condição de desemprego e carestia de vida (produtos como arroz, feijão, carne e leite, além do gás de cozinha sobem de preço dia após dia). O povo que é obrigado a pagar diariamente impostos ao governo vive hoje isolamento social impositivo, sem emprego, sem direitos básicos à saúde, à educação para seus filhos e sem qualquer auxílio do governo. O auxílio emergencial miserável de 275 reais do governo federal não paga nem o caroço do feijão. 

Não bastasse toda esta situação de penúria, em Ouro Preto, a população ainda tem que enfrentar a privatização criminosa da água iniciada na gestão passada, de Júlio Pimenta, e continuada até o momento. Em sua campanha eleitoral, Angelo Oswaldo, em discursos demagógicos contra a gestão entreguista de seu antecessor prometeu “encerrar o contrato com a Saneouro”. Contudo, em que pese a forte resistência oferecida pelo povo como em Antônio Pereira, Bocaina e outros locais, assistimos, estarrecidos, à instalação dos

hidrômetros, que avança por todos os bairros da cidade e o prefeito, até agora, nada fez para freá-la. Ao contrário, declarou-se defensor das privatizações e das parcerias público privadas, demonstrando que não fará nada para impedir o roubo de nossa água, senão que arrastado por forte mobilização e pressão do povo. 

Nossa região possui inúmeros problemas com o acesso à água potável causados pela falta de tratamento e escassez. Vale ressaltar que a escassez de água não é um problema natural, já que existem diversas nascentes em nosso município. A falta d’água é causada pelo esgotamento dos lençóis freáticos devido ao volume de água extraído pela atividade minerária. Nossa água escorre diuturnamente pelos minerodutos da Vale, onde não há hidrômetros nem se fala em desperdício. 

Porque somente ao povo é exigido o uso racional da água? O discurso hipócrita de “desenvolvimento sustentável” proferido pelas agências do capital financeiro serve apenas para chantagear e responsabilizar o povo pobre pela escassez de água, isentando os verdadeiros responsáveis, as mineradoras e suas acionistas. 

Agora querem se apropriar da nossa água e nos vendê-la por preços absurdos. A pergunta que fazemos é: quem ganha com isso? A resposta é simples: a GS Inima, dona da Saneouro, que é o quinto maior conglomerado empresarial da Coreia do Sul. Portanto, há, mais uma vez, o interesse dos monopólios internacionais em roubar as nossas riquezas naturais. 

Estamos cansados da velha política de sucatear os serviços públicos para entregá-los à iniciativa privada. Foi assim com a Vale do Rio Doce, antes, uma empresa estatal, e agora, empresa privada do capital monopolista preocupada, unicamente, com o lucro de suas acionistas em detrimento da vida. Agora é vez da Semae. Vale lembrar que toda a estrutura e material da Semae foi doado à Saneouro em uma verdadeira ação de entrega do patrimônio do povo. 

Por isso, exigimos o fim da concessão à Saneouro, a oferta e tratamento da água e saneamento básico por meio de serviço público e gratuito. A água é um dos direitos mais elementares de qualquer ser humano e, por isso, não pode ser objeto para a exploração e lucro do capital financeiro, quão menos objeto de cobrança, caso contrário, passa a ser um direito exclusivo para aqueles que podem pagar e não mais um direito de todo o povo. Com o ouro e minerais extraídos de nossas terras deveríamos estar morando em uma das cidades mais prósperas do mundo, mas ao contrário, querem tirar-nos até mesmo os direitos mais básicos. Mas não vamos permitir. Diante da injustiça, rebelar-se é justo! Não aceitaremos que tentem nos vender o que é nosso. 

Fora Saneouro! 

Abaixo a privatização da água! 

Rebelar-se é justo!

Assinam: 

  1. Comitê Sanitário de Defesa Popular de Ouro Preto, Mariana e região 2. Moradores do bairro Pocinho 
  2. Moradores do bairro Antônio Pereira 
  3. Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto (FAMOP) 5. Associação comunitária do morro São Sebastião (ACOMOSS) 
  4. Associação de moradores da Vila Aparecida (UNIVILA) 
  5. Associação de Moradores do Saramenha, bairro Tavares ,Vila Santa Izabel, Maria Soares. 
  6. Associação de Moradores do Alto da Cruz (AMAC) 
  7. Associação de Proteção Ambiental de Ouro Preto (APAOP) 
  8. Associação de Moradores do Bairro Taquaral (Juventude) 
  9. Associação Comunitária Padre Faria 
  10. Associação de Moradores da Vila Residencial Antônio Pereira (AMVRAP) 13. Associação de Moradores da Bocaina 
  11. Associação Comunitária de Moradores do Bairro São Cristóvão 15. Pro Melhoramentos (AMPBVI) 
  12. Coletivo de Mulheres do Morro (São Sebastião) 
  13. Coletivo de mãos dadas 
  14. Associação dos docentes da UFOP (ADUFOP) 
  15. Sindicato dos trabalhadores técnico-adminstrativo da UFOP (ASSUFOP) 20. Sindicato único dos trabalhadores em Educação – SindUte/Ouro Preto 21. Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Julião. 
  16. Sindicato dos servidores e funcionários públicos municipais de Ouro Preto – Sindisfop

 

 

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