A cidade de Piumhi fica localizada em uma região estratégica do Estado de Minas Gerais, especificamente entre o Parque Nacional da Serra da Canastra, local da nascente do Rio São Francisco, e o Lago de Furnas. Essa região é ocupada majoritariamente por pequenos e médios produtores que se dedicam em sua maior parte a criação de gado leiteiro, voltado para a produção de queijo, além de diversos profissionais e pequenos comerciantes que se beneficiam dos belos e ricos atrativos turísticos da região, que nos últimos anos tem levado grande número de turistas para Piumhi e cidades vizinhas.
Nos últimos meses, emissários das grandes mineradoras, ramo que nos últimos anos deixou profundas chagas no estado de Minas Gerais (lembrando das tragédias de Mariana e Brumadinho), resolveu sondar a cidade de Piumhi, mais diretamente a região da Serra do Andaime e o Vale do Ribeirão Araras, que são áreas onde se localizam as nascentes dos principais mananciais que abastecem a cidade, além de ser a região onde está localizada um dos símbolos da cidade, a Cachoeira da Belinha.
A Empresa Minérios e Jazidas Minerais FME Ltda, sediada na cidade de São Paulo, é a entidade interessada em realizar a exploração de minério de ferro nas regiões citadas acima. Para isso, a empresa já investiga os políticos e imprensas reacionárias locais, a fim de, por meio deles, apresentar as supostas “benfeitorias” que tal empreendimento trará para a cidade.
Em resposta a tal investida, os moradores de Piumhi tem se organizado na defesa dos bens naturais. Eles fundaram o movimento Amigos do Araras e Belinha, que busca o estabelecimento da Área de Proteção Ambiental (APA) Serras e Água Piumhi. Atualmente, já existe um projeto para criação do proejto (PL 48/2023), e os moradores organizados buscam pressionar a aprovação da lei para frear os avanços da grande mineração na cidade. O referido PL foi profundamente atacado pela mineradora e, em resposta, o Movimento Amigos do Araras e Belinha emitiram uma nota com os principais pontos de um Dossiê elaborado para denunciar as mentiras da mineradora. Dentre as denúncias, os moradores mostraram que a FME já foi multada por cortar vegetação nativa em Piumhi, sem a devida autorização, a fim de realizar suas pesquisas minerarias, e, também, já teve licença ambiental reprovada por “insuficiência técnica das informações apresentadas nos estudos ambientais”.
No dia 4 de setembro, os moradores da cidade, sob chamado do Movimento Amigos do Araras e Belinha, compareceram em peso na Câmara dos Vereadores durante uma sessão de discussão do PL 49/2023 a fim de defender a criação da APA Serra e Águas de Piumhi. Portando cartazes e fazendo uso do microfone, diversas personalidades influentes na cidade, além de estudantes e ativistas da causa ambiental, denunciaram os riscos da mineração na região do Vale do Araras, além de fazerem a defesa do necessário cuidado que se deve ter com os recursos hídricos e a flora da região. O representante da Mineradora FME, Fernando Souza, que havia confirmado presença na reunião, acabou desistindo de comparecer a Câmara Municipal de Piumhi dizendo que tinha outros compromissos na cidade de São Paulo.
O PL 48/2023 continuará em debate, e a FME vai prosseguir seu propósito de se instalar na cidade de Piumhi. Nesse cenário, e diante dos profundos laços entre o velho Estado brasileiro e as mineradoras imperialistas ou a serviço do imperialismo, somente a mobilização popular pode barrar a sanha pelo lucro de tais empresas, sanha essa que nos últimos anos deixou um legado de morte e destruição em Minas Gerais, a exemplo do rompimento das barragens de rejeitos de minérios em Mariana e em Brumadinho, causando centenas de mortes de trabalhadores e ribeirinhos, além da destruição de sistemas ecológicos nos Rios Doce e Parauapebas. Tais tragédias jamais foram reparadas pelas mineradoras que as causaram (Vale, Samarco e BHP Billinton), e até hoje as famílias afetadas lutam por uma indenização justa.