Como crítica (e alternativa) ao material escolar produzido por autores não-indígenas, a aldeia Kiriri do Rio Verde, no município mineiro de Caldas, vai publicar em breve uma obra didática própria, o Livro dos Saberes Tradicionais do Povo Kiriri do Rio Verde, a ser utilizado na sua Escola Estadual Indígena Kiriri do Acré.
O livro é resultado de um trabalho coletivo de alunos, professores e comunidade da aldeia, com apoio externo de universidades e outras instituições,com participação dos “Mestres Encantados, os Espíritos, que são nossos verdadeiros professores, que nunca nos abandonaram e nos enviam constantemente orientação.”
A coordenação do livro foi feita pelas professoras Roseni Ramos de Souza(também chamada de Rosy Pankaru), formada em História e Magistério Indígena na UNEB (Universidade do Estado da Bahia), atual aluna de Pedagogia na Faculdade Dom Alberto, em Caldas, e sua irmã Carliusa Ramos Pankaru, formada em Letras na UNEB, também liderança da aldeia, casada com o cacique.
Escola Estadual Indígena Kiriri do Acré. Acré é sinônimo de Rio Verde, no idioma do grupo. Foto: Povo Kiriri
Cacique Adenilson de França Santos Kiriri,e a alegria da terra verde plantada: “(…) a gente sofria de muita sequidão, (…)aqui tem até um cheiro diferente, tudo verde, águas correndo…” Foto: Povo Kiriri
Conta o novo livro:“Nós Kiriri do Rio Verde somos um povo originário da aldeia Kiriri de Muquém de São Francisco, no estado da Bahia. Migramos para Caldas em 13 de março de 2017, (percorrendo uma distância de 1.600 Km) em busca da melhoria de vida.” Trabalhando juntos em mutirão, os Kiriris agora conseguem colher milho, feijão, abobrinha, pimentão, inhame. E planejam atender com alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos, as feiras e mercados da zona onde habitam, no sul de MG.
Esperando o ritual na Casa da Ciência. Foto: Povo Kiriri
Conta o novo livro: “Somos 65 pessoas em área de 26 alqueires cercada de mata onde podemos praticar nossa Ciência (Tradições)”. As tradições religiosas Kiriris são baseadas no binomio Jurema-Toré; ou seja:consumo da bebida medicinal e psicoativa/alucinógena preparada com a planta jurema e prática da dança circular do Toré, feita ora no terreiro e ora num local secreto dentro da mata, a chamada Casa da Ciência.
Casa da Cultura, que guarda artesanato e funciona como “nossa biblioteca cultural”. Venda de artesanato. Foto: Povo Kiriri
Arco e flecha na Gincana no Dia do Índio, 19 de abril. Foto: Povo Kiriri
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