Passados quase 8 meses do crime hediondo cometido pela Vale – o rompimento da barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) -, números da Secretaria Municipal de Saúde da cidade apontam que houve um aumento na taxa de suicídios e tentativas, sobretudo entre as mulheres. Além disso, pouco tempo após o crime da Vale, houve também aumento no consumo de medicamentos antidepressivos e contra ansiedade.
Dados apenas do primeiro semestre desse ano registraram 39 tentativas de suicídio, sendo 11 entre homens e 28 entre mulheres. Em comparação ao mesmo período do ano passado houve um aumento de 9 tentativas, indicando uma alta de 30%. Os casos de suicídios triplicaram, pois, no ano de 2018, ocorreu apenas um caso, enquanto em 2019 já aconteceram três.
O uso de medicamentos no período, considerando apenas dados oficiais, também aumentou. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que o uso de antidepressivos, apenas no mês de agosto de 2019, foi 60% maior em comparação a 2018. Enquanto o uso de ansiolíticos, medicamentos utilizados para tratamento da ansiedade, aumentou em 80%. Quando analisamos o uso de determinados medicamentos os números apontam um cenário pior. O uso de risperidona aumentou em 143%, sendo que seu uso é recomendado para tratamento de diversos transtornos psicológicos, como, por exemplo, confusões, alucinações, distúrbios de sono, comportamentos agressivos, eentre outros.
Outros dados oficiais também apontam aumento de atendimentos em outra especialidades médicas. Apenas na rede de atenção primária de saúde do SUS foram realizados 54 mil atendimentos, apontando um aumento de 63%, considerando apenas o primeiro quadrimestre de 2019. No mesmo período em 2018, foram realizados cerca de 33 mil atendimentos.
A camponesa Elizângela Gonçalves Maia, de 39 anos, antiga moradora do Córrego do Feijão, começou a fazer uso de medicamentos para depressão e ansiedade logo após o crime da Vale assassinar vários parentes e amigos. Sua casa não foi atingida, mas devido às operações de helicópteros para resgates dos corpos a casa sofreu rachaduras e risco de desabamento. Diante disso, ela foi morar na cidade, situação que agravou ainda mais seu estado de saúde. “Fui diagnosticada com depressão. O que sinto é que estou em um lugar que não é o meu”.
Já a camponesa Soraia Campos, de 42 anos, relata que seu marido, filho e filha, após o crime da Vale, começaram a tomar ansiolítico para tratamento de crises de ansiedade. Atualmente, a mesma compõe a comissão dos atingidos pela barragem. Mesmo adoecida ela mostra firmeza e disposição para lutar contra mais esse crime de lesa-pátria. “Estava ficando prostrada, e não posso parar. Minha briga contra a Vale é grande.”
O professor Frederico Garcia, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), denuncia que o cenário de Brumadinho após o crime da Vale é semelhante ao de uma guerra. “As pessoas veem tanto a sua vida como seu futuro ameaçados de forma abrupta. É uma situação de sofrimento que pode perdurar por muitos anos. E não se pode minimizar a perda de cada pessoa, seja de parentes, perspectivas, trabalho ou sonhos. Todas as perdas podem ter consequências negativas”.
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