MG: Trabalhadores da Coteminas lutam contra cortes e atrasos salariais em Montes Claros

MG: Trabalhadores da Coteminas lutam contra cortes e atrasos salariais em Montes Claros

Trabalhadores da Coteminas de Montes Claros (Cotenor) fizeram duas manifestações na portaria da empresa durante esta semana, exigindo o pagamento do salário que deveria ter sido pago no dia 4 de fevereiro. Além dos salários atrasados, os trabalhadores tiveram uma série de benefícios cortados e férias coletivas decretadas sem nenhum aviso prévio. A empresa lançou o salário como pagamento futuro no dia 9, retirou no dia 10 e os dispensou de trabalhar no dia 13. A reportagem de AND em Montes Claros está acompanhando a situação desde o início e esteve presente na manifestação ocorrida no dia 10.

A Coteminas é uma das maiores empresas do ramo têxtil do Brasil, fundada pelo ex-vice-presidente José de Alencar (vice no primeiro governo Lula). Atualmente a empresa é administrada por seu filho Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que, inclusive chegou a ser convidado pelo presidente Luiz Inácio para assumir o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, recusando o convite. Além de Montes Claros, a Coteminas possui filiais na Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. No exterior, a empresa possui operações na Argentina, USA e Canadá

Desde agosto de 2022, a empresa funciona no sistema de lay off, que permite um período de suspensão do contrato de trabalho pelo empregador, em que o salário dos empregados é pago pelo governo através de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), cabendo à empresa apenas o pagamento da diferença para aqueles empregados que recebam salários superiores a este valor. Nenhum trabalhador mencionou sobre qualificação profissional conforme prevê as regras da lay off, que deve ser oferecida pelo empregador na modalidade não presencial e com duração não inferior a 1 mês e nem superior a 3 meses. Segundo eles, o sistema funcionou com o afastamento do trabalho, recebendo o seguro-desemprego (pago normalmente ao trabalhador quando é demitido) e 3 meses de estabilidade após o retorno.

Conforme a lei, os trabalhadores deveriam voltar ao sistema convencional em janeiro de 2023. Contudo, este retorno se deu com corte de direitos como o plano de saúde e vale-alimentação; recebimento irregular de cesta básica; além da suspensão de recolhimento do FGTS (este está suspenso há aproximadamente 1 ano). Pelo sistema de lay off aplicado pela Coteminas, não está havendo contabilização do tempo de serviço referente a este período e, segundo nos contou uma trabalhadora, o ticket está sendo descontado mesmo sem ser recebido. A empresa está revezando entre lay off e trabalho convencional: enquanto uma parcela deles está trabalhando, outra fica em casa. 

Desde o dia 10, a empresa não deu nenhum esclarecimento quanto a toda esta situação, informando à direção do sindicato simplesmente que não tem intenção de fechar a empresa na cidade, mas sim, “buscar reerguê-la”. Mas os trabalhadores não sabem nem ao menos se têm seu emprego garantido. A reportagem de AND em Montes Claros conversou por telefone com a presidente do sindicato, Maria Eliana Ferreira Santos, que informou sobre a judicialização quanto aos cortes dos benefícios e o FGTS em atraso, além da constante tentativa de acionar o dono da empresa na busca de respostas quanto aos salários atrasados.

No dia 13 de fevereiro, os trabalhadores organizaram a primeira manifestação que contou com a presença de aproximadamente 300 funcionários. No dia 17, diante da falta de esclarecimentos por parte da empresa e do não pagamento dos salários, organizaram nova manifestação na porta da empresa, a qual o AND acompanhou, buscando conversar com diversos trabalhadores. 

Uma trabalhadora com 20 anos de serviço na empresa relatou que não estão sendo informados de nada e que a empresa tem buscado forçar acordos de demissão, de forma que o funcionário peça demissão, o que, para ela, que possui em torno de R$ 20.000 de FGTS, seria uma perda irreparável. A trabalhadora confessou que preferiria ser demitida a continuar nesta situação de incertezas. “Conta de água chega, conta de luz, e você não consegue nem comprar comida”, desabafou.

Outra senhora, com 17 anos de trabalho ali, disse que voltou a “trabalhar normal em outubro, recebendo somente o salário. Já começaram a cortar a cesta básica, o plano de saúde e o vale-compra”.

Outro trabalhador desabafou: “Essa lay off, ela tem outro nome. Deveria se chamar fraude. Porque o trabalhador é que ajuda a empresa, já que eu estava recebendo uma coisa que é direito meu quando eu for demitido, que é o seguro-desemprego. A empresa me forçando a aceitar receber antes este direito, será que eu vou recebê-lo quando eu for demitido? Além disso, o governo ainda manda recurso para ela”, criticou.

Uma jovem trabalhadora cujo marido também é funcionário da empresa relatou que a Coteminas colocou uma parte deles em “descanso remunerado” mas, quando foram verificar estava constando como férias antecipadas: “Anteciparam todos os feriados do ano de 2023 como férias. Como fica? Vou ter que pagar para a empresa depois?” Ela é funcionária há 3 anos, e o marido há 4. 

A reportagem de AND acompanhou a manifestação de 7h às 11h, que contava com aproximadamente 80 pessoas. Esta ocorreu por iniciativa dos trabalhadores que, desde 9 de fevereiro, organizaram um grupo com aproximadamente 1 mil trabalhadores, com o objetivo de fazer circular as informações entre eles e se prepararem para a iminência de manifestações como as que ocorreram. Muitos dos presentes nesta manifestação denunciaram que a empresa anunciou no dia 17 a normalização da situação como forma de desmobilizá-los, pois até o momento em que acompanhamos o ato, o salário ainda não havia sido depositado. Ocorre que, em conversa com os trabalhadores, muitos revelaram que tiveram que pegar dinheiro emprestado para irem até a porta da empresa, pois esta se situa em um bairro isolado da cidade e a maior parte já não tem dinheiro nem ao menos para a comida, a exemplo de um deles que disse “nem olho mais o toque do celular, com medo de ser cobrança”.

Durante a manifestação, um dos trabalhadores que está acompanhando as negociações do sindicato com a empresa obteve a informação via telefone, por parte da presidente do sindicato, de que o dono da empresa, Josué Gomes da Silva garantiu, em ligação telefônica para ela, que o salário seria depositado naquela sexta-feira. Ainda assim, diante das promessas não cumpridas até agora, parte dos trabalhadores afirmaram que sairiam dali somente após a confirmação do salário em conta. Além disso, não têm nenhuma certeza quanto ao futuro: seus empregos estão garantidos? Seus benefícios voltarão a ser pagos? E quanto ao recolhimento do FGTS? E as férias coletivas? Quando voltarão ao trabalho regular?

Curiosamente, embora não tenha aparecido nenhum representante da empresa para dar qualquer satisfação aos manifestantes, foram ao local, uma viatura da polícia e depois um camburão. 


Atualização: a reportagem de AND conversou por telefone com a presidente do sindicato, Maria Eliana, que informou que a situação do salário foi regularizada e que está em juízo a questão relativa aos benefícios suspensos. 

Matéria produzida por correspondentes locais do Comitê de Apoio em Montes Claros.

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